「 4.5 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

Voltar para a escola nunca foi tão irritante como nas últimas vezes.

Antes, todos já haviam se acostumado em me ver faltar por quase uma semana inteira, e depois voltar como se não houvesse acontecido nada. Agora, praticamente todo quebrado, os olhares pareciam aumentar gradativamente.

Se não bastasse os que eu recebia por ser um doente portador de câncer, agora tudo piorou.

— Não quer ajuda para chegar na sala de aula? – Perguntou papai, estacionando na frente da escola.

Outra coisa que me irritava naquele dia: não poder mais ir para a escola sozinho. Tinha que aceitar as caronas de meu pai – mesmo sabendo do risco de desperdiçar muito a gasolina –, pois de acordo com ele e mamãe, "um rapaz necessitado não pode passar necessidade".

— Não, obrigado. Eu consigo chegar na sala. – Agradeci, descendo do carro e pondo toda força para levantar do banco.

Mal havia posto o pé para fora, e um grupinho começou a me observar. Preferi ignorá-los, mesmo com aquilo incomodando para caralho.

Despedi-me de papai, seguindo para dentro da escola sozinho.

O grupo de sexta-feira havia sido legal. Agradeci a ajuda de Hoseok, tivemos atividades interessantes, ninguém ficou me estranhando por estar todo quebrado – diferente da escola –, e eu pude rever Jimin.

Porém, nem tudo era um mar de rosas. Ainda faltava uma coisa.

E eu espero que ele esteja aqui.

Adentrei a sala de aula, com os pensamentos meio fora de órbita, então não reparei muito na pessoa que sentava no fundo da sala desta vez.

Foi durante a chamada do professor, que eu reparei bem aonde ele estava.

Mandei um sinal de "oi" para Taehyung, que me ignorou totalmente. E pelo o que eu conhecia dele, prestar atenção na aula não era o que fazia.

Ele praticamente fez aquilo por gosto.

— Taehyung! Ei, psiu! – Mandei outro sinal, o chamando desta vez. Nada.

— Silêncio, por favor. – Pediu o rapaz que estava sentado na minha frente, e me silenciei na hora.

"Por que você não me nota, Taehyung?", questionei, observando-o tão quieto e encolhido naquele canto da sala de aula.

Não adiantaria eu chamá-lo toda hora. Teria que apelar em conversar pessoalmente.

Mas o destino não estava sendo bom comigo.

A cada vez que o sinal tocava, indicando o final da aula, eu ia imediatamente em direção à Taehyung. Mas ele era mais rápido, saindo da sala em velocidade absurda, fugindo de algo – ou de mim.

Suspirei, cansado pela última corrida ao tentar alcançá-lo. Até uma mão me puxar para um canto do corredor, me assustando e imediatamente dando um tapa na pessoa.

— Ei, se acalma! Sou eu. – Jungkook fez uma massagem na bochecha, aonde o tapa havia saído.

— Ah, é você. – Bufei, realmente cansado. — Não me assusta desse jeito! Já basta eu ser um doente quebrado até os ossos, ainda quer me dar um ataque cardíaco?

Jungkook assentiu, praticamente ignorando o que eu falara, dando alguns leves pulinhos. E pelo instinto, resolvi perguntar:

— O que aconteceu?

Jungkook imediatamente começou a falar, tão rápido e animado como nunca.

— Eu tenho uma ideia genial para conseguir fazer as pazes com a pessoa que eu gosto. – Declarou, me fazendo prestar atenção nele. — Eu vou até a casa dessa pessoa, e vou dizer tudo o que eu preciso. Perguntar por quê ela é assim, o que eu sinto, vou falar tudo. – Sorriu orgulhoso, fazendo pose de herói. — Eu vou me declarar.

Arregalei os olhos, surpreso com a ousadia e como a ideia era boa. Afinal, quem resiste à uma declaração ao vivo?

Mas ir até a casa da criatura, já foi demais.

— Jungkook, você tem certeza disso? – O questionei, e Jungkook me encarou como se eu tivesse dito uma calúnia.

— Se eu tenho certeza? Absoluta, oras! – E comemorou, fazendo uma dancinha estranha.

Já havia aprendido a não questionar a mente não-estudada de Jeon Jungkook.

Até que o sinal bateu, me fazendo suspirar, pois a próxima aula ficava um tanto longe de onde eu estava.

Correr atrás da pessoas cansava. Queria saber como Jungkook encontrava energia para isso.

— Boa sorte na aula – desejou Jungkook, dando um tapinha nas minhas costas, e cantarolando alegre pelo corredor.

Caminhei em direção à aula seguinte, vendo Taehyung sentar no típico fundo onde ficava. "Eu vou fazer isso", pensei.

Esperei até o último sinal para chamá-lo.

— Taehyung! – Gritei alto, chamando a atenção de todos da sala, que saíam imediatamente para fora da aula.

O garoto logo parou, suas bochechas ficando vermelhinhas pela minha atitude.

Então, ele correu até a saída da sala, mas fui mais rápido. Segurei sua manga, impedindo-o enquanto os outros seguiam seus caminhos.

— Taehyung, – bufei, sorrindo por revê-lo novamente – você sumiu. Estava preocupado.

Taehyung puxou sua manga, dando um passo para trás. Alguns alunos pararam para nos olhar, mas não me incomodei.

Taehyung mordeu os lábios, abaixando a cabeça, e pronunciou:

— Não, Yoongi. Acabou.

Arqueei uma sobrancelha.

— Acabou o quê, Taehyung? Me diz, é alguma coisa que está acontecendo?

Taehyung levantou a cabeça, balançando-a. Sua expressão parecia de alguém morimbundo.

— Não quero falar sobre isso. Não mais. – Começou a sair da sala, me deixando estático. — Nossa amizade acabou, Yoongi.

Pareceu como se um prédio tinha caído em cima de mim.

Como assim? – Questionei, chegando próximo. — Me explica isso melhor, Tae. Me diz, o que aconteceu?

Taehyung não falava nada. Aquilo me dava uma agonia enorme.

— Me diz logo, Taehyung! – Exclamei, e Taehyung me empurrou fortemente, me fazendo cair para trás e surpreendendo a todos.

A dor na bunda foi horrível. Novamente, tudo o que eu tinha conseguido consertar dos meus ossos, senti acabar se quebrando. Não resisti, soltando um gemido de dor.

A sala toda agora nos olhava, gritando coisas como "briga!" e incentivando.

Taehyung levou as mãos à boca, sua situação piorando mais ao me ver machucado de novo. E desta vez, por sua culpa.

Ele aguentava fortemente para não começar a chorar, o rosto vermelho e tremedeira nas mãos. Taehyung não estava bem, e eu só queria saber o que acontecia, para poder ajudá-lo.

Ou talvez, Taehyung não quisesse ser ajudado.

— Eu só estrago tudo! Eu me odeio! – Berrou, e correu em direção ao corredor, empurrando as pessoas para passar.

De lá, senti suas lágrimas finalmente saindo de seus olhos.

Mordi os lábios, resistindo para não iniciar uma crise de choro também.

O que tinha acontecido com Kim Taehyung?

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora