「 2.6 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

A aula de artes era uma pequena mistura de tédio e conhecimento para mim. Diferente de Taehyung, que era sua matéria favorita – e a única que ele prestava atenção – na escola.

Desta vez, alguma coisa nele estava diferente. Continuava o mesmo artista dedicado, mas ao chegar perto dele, podia sentir a mesma nuvem pesada que me rondava todos os dias.

— Tae? – Arrisquei, puxando a manga de sua camiseta para chamá-lo.

— Que foi? Estou ocupado. – Respondeu, ríspido.

O professor de artes – um chinês de meia idade fora do peso e que nunca se cansava de dormir o tempo todo – tirava umas das suas "sonequinhas" básicas enquanto todos desenhavam em suas telas. O mais impressionante, era o respeito que todos tinham por ele, já que poderiam muito bem ficar aprontando a aula toda durante as sonecas do senhor Zhao.

Era isso. A aula de artes era um grande mistério, que acalmava corações e roubava a atenção de alunos desocupados.

Olhei novamente para Taehyung, que não desgrudava seus olhos da tela, e lhe chamei novamente.

— Taehyung, está tudo bem?

Taehyung parou de desenhar. Suspirou, ainda em silêncio. Depois, me fitou, e vi em seus olhos tudo o que milhares de palavras não conseguiriam explicar.

— É algo na sua casa? – Deduzi, e Taehyung assentiu levemente.

Engoli a seco. Então era algo grave.

Aguardamos o final da aula, como fazíamos, esperando a sala esvaziar para conversarmos melhor.

Taehyung respirou fundo, e desabafou:

— É meu irmão. – Disse, com a cabeça baixa. — Ele chegou ontem em casa.

— Isso é bom, não é? – Perguntei, um pouco de esperança me enxendo. — Quer dizer, talvez seu irmão seja diferente.

Taehyung me encarou, os olhos furiosos e desesperados.

— Diferente? Eu é que sou o diferente naquela casa, Yoongi! Vão ser as piores semanas da minha vida, isso sim! – Taehyung exclamou, levantando os braços. — Como se não bastasse, aqueles putos não aceitaram a minha decisão de ir ao grupo e...

— Como assim, não aceitaram? – Arqueei uma sobrancelha, realmente confuso.

Nem a doença conseguiu afastar o preconceito deles.

— Meus pais não concordam com as minhas idas ao grupo, e para uma completa filha da putagem, simplesmente se meteram na minha decisão. – Taehyung contou, os olhos presos na tela de pintura à sua frente. — Eles querem conversar com você.

Arregalei os olhos. Isso é sério mesmo?

— E o que você fez?

— Subi pro meu quarto, oras. – Deu de ombros, fechando os punhos fortemente. — No fim, eu sabia que não adiantaria discutir.

— Você fez bem. – Falei, assentindo para ele. — Eu posso passar pouco tempo naquela casa, mas conheço bem os seus pais. – Puxei a manga do meu moletom, cobrindo meus pulsos completamente. — Já até imagino qual seja o motivo.

Nem precisava dizer. Tanto eu quanto Taehyung conhecíamos bem aquele lugar, e o quão tóxico ele podia ser.

Afinal, é difícil conviver dentro de uma família que está pouco se fodendo para você, mal sabe da sua existência, vive tendo crises de casamento e onde homosexualidade era considerada um crime.

— O mais engraçado, é que eles só se importam com eles mesmos. Mas quando o assunto para naquela questão, eles me tratam como se fosse um cachorrinho idiota. – Taehyung desabafou. Permaneci quieto, ouvindo tudo. — Dizem que estou passando tempo de mais com você, que eu não estou mais agindo como um adolescente. Tudo uma bosta, na minha opinião.

— Posso falar? – Taehyung assentiu. — Eu também acho uma bosta.

Taehyung bateu na parede atrás de si, deixando seu punho vermelho, completamente zangado.

— Porra! Eles pouco se importam com a minha vida, mas quando tem aquele seu amigo gay no meio, eles se transformam de piores pais do universo para "nós só queremos o bem estar do nosso filho mais novo". Bem estar o cacete, isso sim. – E cruzou os braços, abaixando a cabeça e murmurando. — Eu odeio aquela casa, eu odeio a minha família, eu odeio a minha vida, que todo mundo vá se foder! – E alguns fungados saíram dele.

Eu não gostava quando Taehyung chorava.

Me aproximei dele, pondo minha mão sobre seu ombro, confortando-o. Não sabia o que mais poderia fazer.

Eu não era de abraços como meus pais e Jungkook. Eu não era de palavras sábias como Taehyung, tampouco tinha a aura calma de Jimin. Eu era apenas o Yoongi.

Como queria poder saber ser mais do que apenas um adolescente inútil.

Mordi os lábios, olhando para a janela do outro lado da sala. O céu estava lindo, com o sol e as nuvens contrastando uns com os outros. Tinha tudo para ser um dia feliz, mas não para todas as pessoas.

Cheguei perto do ouvido de Taehyung, pronunciando a única coisa que poderia dizer em um momento como aquele:

— Calma, Taehyung. Eu estou aqui.

Taehyung assentiu, limpando algumas lágrimas dos olhos.

— Eu converso com seus pais. – Adicionei, forçando minha mão em seu ombro mais ainda. — É moleza. Não se preocupe.

Seria doloroso. Mas o que eu não fazia por ele?

Taehyung respirou fundo, e se virou para mim, me abraçando.

Eu estava recebendo abraços demais ultimamente.

— Obrigada por ser meu amigo, Suga. – Falou próximo do meu ouvido, e senti uma de suas lágrimas molhar minha camiseta.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora