「 9.4 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \


﹏﹏﹏

Uma coisa em que tive de me acostumar obrigatoriamente durante minhas estadias em hospitais, era o quão tedioso era ficar internado. Pior do que quando você não tem nada para fazer, era não ter nada para fazer em um hospital. Mas eu já me acostumara com o silêncio, transformando-o em meu ouvinte número um de desabafos, como se fosse alguém real mesmo.

O tédio tinha me transformado em uma pessoa tediosa. Excelente.

Fui despertado do meu transe em ficar observando o teto do meu quarto pelas batidas seguidas na porta, e uma voz grossa soar por todo o cômodo.

— Posso entrar? – Perguntou papai, e balancei a cabeça, permitindo-o.

Outra coisa que tinha aprendido durante as estadias: quando o seu pai ou sua mãe querem lhe fazer uma visita, é considerado um pecado negar. Eles merecem ter todos os segundos com você antes que o seu coração acabe falhando e você precise bater as botas.

Notei que ele carregava consigo uma caixa de sapatos, e me peguei fitando aquela caixinha tão especial. "Será que acabaram trocando a minha medicação?", pensei.

— O que foi? – Questionou papai, e viu que eu olhava diretamente para a caixa, entendendo tudo. — Ah... a caixa de fotografias...

— Fotografias? – Repeti. Talvez fosse estranho ver minha estranheza com fotos, mas minha família não era muito chegada a esse tipo de recordação. Então, imaginar que tínhamos uma caixa de fotografias, chegava a ser como uma coisa de outro mundo para mim.

— É, fotos. – Deu uma batidinha na caixa. — Sua mãe me pediu para trazer nossa caixa, porque ela comprou um álbum novo para colocá-las. — Arqueou uma sobrancelha. – Ei, filho, gostaria de ver algumas?

Assenti. Um pouco porque estava desesperado para escapar do tédio, e outra, porque seria interessante encontrar fotos de como meus pais eram mais jovens.

Na verdade, meus pais até que gostavam de fotos, mas depois de um tempo, começaram a perder o gosto. Por isso, já começava a formar imagens em que meus pais aparecessem bêbados, ou caminhando em alguma praia, ou sobre como era o primeiro carro de papai.

Meu pai me passou uma por uma das fotos que haviam dentro da caixa, ele se acomodando com um banquinho que tinha ao lado da cama. E passou a me explicar o que consistia cada imagem, qual lembrança cada uma carregava.

— Esta aqui é hilária! – Exclamou. — Me recordo dela como se fosse ontem!

— O que aconteceu?

— Simplesmente, adultos brincando de ser crianças, Yoon. – Observei melhor a fotografia, onde havia um homem abraçado à uma mulher, ambos sujos de lama da cabeça aos pés. — Eu e sua mãe estávamos voltando da faculdade, quando resolvemos tocar a campainha de cada casa que tinha na rua. Mas na última, o dono quase nos pegou, e acabamos correndo tanto, mas tanto, que sua mãe tropeçou no gramado de um parque e caiu bem em cima de uma poça de lama!

Sorri, sabendo como aquilo era bem mesmo a cara de mamãe. Ter postura nunca foi o seu forte.

— E ela te puxou na lama, também?

— Foi castigo, porque eu caçoei dela.

Ri mais ainda, passando para a próxima fotografia.

Nela, somente papai estava presente. Encostado em um carro que, se eu não me enganava, era extremamente parecido com o que ele tinha agora.

— Essa foi quando comprei o nosso querido carrinho. – Contou, e passei para a próxima.

Nela, meu pai tentava tirá-la de uma forma parecida com uma selfie de hoje em dia, fotografando ele, mamãe, e um bebê enrolado num manto azul em seus braços.

— Esse, foi dois dias depois que você nasceu. – Explicou.

Fiquei olhando seriamente para aquela foto, notando cada detalhe que a compunha. Olhei para o bebê, quase invisível de tão pequeno e enrolado na manta. Era um bebê fofo, inocente, feliz entre dois pais que o amavam muito. Um bebê que não sabia nem metade do que aconteceria consigo nos próximos dezessete anos.

Engoli a seco, dando a foto para meu pai, e continuando com a sessão de fotografias.

Assim, nossa tarde passou voando. No fim, papai, após entregar as fotografias para mamãe, voltou para o quarto, me encontrando adormecido no meio das cobertas. Igual o bebê da fotografia.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora