- Bom dia, Borges - um médico o cumprimentou dentro do elevador.
- Bom dia - não parecia tão feliz - como vai?
- Bem, tenho uma cirurgia daqui a uma hora - encarou o visor do celular - e você?
- Tenho pacientes impacientes - o médico riu.
- Soube da sua filha, meus parabéns.
- Obrigado - sorriu gentilmente.
- Como ela se chama mesmo? - franziu o cenho.
- Analee.
- Um nome lindo, aposto que foi sua mulher quem escolheu.
- Foi eu mesmo - disse por fim, a porta do elevador abriu em seu andar - até mais, boa cirurgia ao senhor.
- Obrigado - Micael não esperou a porta do elevador ser fechada novamente, não queria papo com ninguém aquela hora da manhã.
Entrou em sua sala, ajustou o jaleco no corpo e sentou-se na sua cadeira confortável, encarou a mesa com cinco papéis de registro, documentos de Analee. Respirou fundo, assinou todos antes de levar ao berçário novamente.
Estava voltando ao seu andar de novo quando encontrou, por incrível que pareça.
- O que faz aqui? - disse surpreso abraçando a mulher.
- Check up de filhos, conhece? - ela sorriu - que cara é essa?
- É a Sophia - coçou a nuca - estamos tendo problemas.
- Por que problemas?
- Nossa filha nasceu, e tudo piorou.
- Meus parabéns, Micael - Gab sorriu - uma linda menina. Como se chama?
- Analee - sorriu se lembrando a feição da filha.
- Que linda. Mas por que tem problemas com a Sophia?
- A depressão pós parto conseguiu pega-lá, não teve jeito - pausou - ela não tem reação pela menina, ficou totalmente fora da casinha.
- Você diz, meia louca?
- Totalmente louca, ontem conversou comigo dizendo que queria a vida antiga dela de volta.
- Quando você vai levá-la no medico, de novo?
- Eu marquei uma psicóloga amanhã de manhã, vou escutar as sessões dela, escondido é claro.
- E Analee?
- Vou trazê-la comigo.
- Se quiser deixá-la comigo, pode deixar. Estou sem afazeres amanhã, é meu bebê está com a avó.
- Não precisa mesmo, Gab. Obrigado pela ajuda - disse um pouco sem jeito.
- Sinto muito pela Sophia, mas você já conseguiu dar um jeito nela da primeira vez - sorriu - pode dar um jeito nessa, você consegue.
- Espero que sim - cerrou os olhos - bom, vou voltar pro trabalho. Infelizmente.
- Vamos combinar alguma coisa, mais pra frente. Podem ir em casa conhecer o nosso espaço.
- Combinamos sim, você liga pra Sophia ou eu ligo pra você. Vamos ficar perto agora.
- Tudo bem, estou aguardando a sua visita - abraçou Gab - até mais.
- Até, melhoras a ela - tinha ficado triste por deixar Micael daquele jeito.
A final, ele ficava sem jeito quando estava perto de Gab, sabe o que teve com ela no relacionamento conturbado de sua vida, causava ânsia só de lembrar.
O moreno voltou a sua sala, pegou a ficha de pacientes e correu pra sala de fisioterapia, se preparou antes do próximo chegar.
Seu trabalho estava só começando.
Já no apartamento Sophia não sabia mais o que fazer, Analee não parava de chorar desde a hora que tiveram sua conversa nada interativa.
- Meu Deus, pare de chorar - balançou a menina, estava na sala tentando acalmar a pequena - eu vou ligar pro seu pai, ele vai dar um jeito em você.
Analee resmungou nos braços da mãe mas queria atenção, estava tendo atenção demais. Sophia realmente não sabia o por que de seu escândalo, não era fralda, não era banho...
A loira sacou automaticamente.
- Já sei esse seu estresse todo - sentou-se no sofá arrumando Analee na posição de mamar, arrumou o pano da camisola liberando um seio seu.
A menina sugou Sophia, não durou três minutos pra que estivesse chorando de novo.
- Por Deus, por que você está chorando? - encarou a filha que estava irritada.
O leite tinha saído, bem pouco mas tinha saído. O acontecido era que os remédios e cerveja que Micael tinha certificado não deram bons resultados, daria mais pra frente mas não no primeiro dia. Os seios de Sophia estavam pesados e doíam, assim como ela reclamava a filha que não entendia nada do que a mãe estava falando, o problema era:
Estavam empedrados, todo o leite que tinha a filha estava empedrado.
Mas ela não sabia.
- Droga, Analee - grunhiu - o que eu faço com você? Pare de chorar - estava ficando irritada.
Sophia foi até o notebook de Micael quando ele usava na faculdade, pesquisou rápido algum tipo de leite recomendado a recém nascidos, achou um excelente e ligou à farmácia pedindo pra que entregasse em seu apartamento, não sabia que um bebê poderia chorar tanto assim, já não aguentava mais a filha berrar em seu ouvido.
Demorou alguns minutos pra que o entregador subisse com sua gloriosa lata de leite, ela o pagou e voltou a se trancar no apartamento. Deixou Analee na cadeirinha enquanto preparava sua mamadeira.
- Eu juro por Deus que se isso não resolver - buscou uma colher e abriu a lata, tirando o leite em pó de lá - eu pego você e entrego pro seu pai.
Fez a mamadeira da menina, estava na temperatura ambiente quando acertou Analee pra mamar de novo. Graças a Deus, ela tinha calado.
Deu certo. Sophia pôde relaxar enquanto ela mamava tranquila nos braços da mãe.
- Só seu pai gosta do meu peito, incrível - sondou a menina, conseguindo pela primeira vez.
Ela mamou ali, quase a mamadeira inteira, estava com fome. Sophia não sabia a mentalidade materna mas algum instinto dizia que aquele leite não era algo bom, mas foi a única coisa que pôde fazer pra deixar a filha mais calma.
Analee terminou de mamar e encarou a mãe, estava quietinha agora.
- Eu preciso fazer você arrotar - deixou a filha de pé batendo calmo em suas costinhas. Sophia riu quando o arroto baixo saiu.
Estava se saindo bem, bem até demais.
- O que você olha tanto pra mim? - encarou Analee - não posso abrir, seu pai me mataria se eu abrisse a janela pra você.
O tempo estava nublado como sempre, o vento frio reinava na cidade, mas não tinha um que não ficava encantado com aquela vista do apartamento de Micael, trazia tanta paz. Sophia agasalhou bem a menina deixando ela na cadeirinha toda coberta, foi até a varanda abrindo a grande janela, arrastou a cortina e deixou que um pouco do vento entrasse no apartamento. A bebê tinha os olhos na movimentação de fora, centenas de prédios e algumas cores tiravam sua atenção.
- Era isso que você queria? - sentou-se no sofá novamente deixando ela na cadeirinha. Estava cansada, ser mãe a cansava.
Ficou ali vendo a vista com a filha que agora estava quietinha, só teria que pensar no que fazer quando ela chorasse de novo.
Tinha lembrado que Micael voltava só a noite, até lá tinha chão.
Muito chão.