- Acabaram com a sessão "Destruir meu Seio"? - Sophia arrumou o roupão descartável cobrindo.
- Você não tem leite...
- E daí? Ela não está mamando? - disse debochada.
- Com o leite materno de outra pessoa, era isso que você queria? - a enfermeira foi grossa com a mesma.
- Eu queria que ela não tivesse nascido.
- Não diga isso, vejo centenas de mães saírem tristes por seus filhos não terem nascido - se irritou - você é insignificante.
- Diga isso ao meu marido e ele te coloca na rua.
- Ele não é dono e sim só mais um fisioterapeuta - encarou Sophia - vou voltar mais tarde pra tentar de novo.
- Nem fodendo, não vou deixar você fazer isso.
- É pro seu bem - saiu da sala deixando Sophia sozinha de novo.
Não tinha o que fazer, se irritava fácil com a filha, tinha brigado com Micael, centenas de coisas. A única coisa que fez no momento foi repensar, e se distrair com algo que tivesse naquele quarto, só precisava achar.
- Voltei - Micael entrou no quarto, estava tão cansado. Precisava dormir.
- Sério? Nem reparei - disse debochada encarando as unhas.
- Eu queria te estrangular se fosse possível - sentou-se na cama perto dela.
- Quando eu vou sair daqui?
- Quando você melhorar, e quando a Analee estiver um pouquinho mais forte.
- Analee? Colocou o nome da nossa filha de Analee?
- Coloquei, algum problema?
- E nem me avisou?
- Pera ai, calma - pausou - você não quis saber da menina e agora quer perguntar o por que do nome? Eu realmente não consigo te entender.
- Ainda bem que é bonito.
- Você não sabe de nada, Sophia - parecia cansado de brigar com ela - você já comeu?
- Aquilo ali? Preferível nem comer.
- Jesus, você está reclamando de tudo.
- Eu quero ir pra casa.
- Eu já disse que não podemos ir pra casa, você precisa de repouso e Analee precisa de vitaminas, coisa que você não tem.
- Que tipo de vitamina?
- Você está sem leite, Sophia - ficou sem paciência - ela precisa mamar mas você não tem, sem vitaminas, sem recuperação.
- Eu não tive culpa de não ter leite.
- Claro que não, você acha que a gente ia saber? Pelo amor de Deus, Sophia. É difícil de você entender.
- Muito difícil - bufou.
Ficaram quietos.
- Eu estava pensando na gente - Micael disse ainda em transe no seu pensamento.
- Em que? - encarou o moreno.
- Sobre a nossa família, a nossa quase família.
- Você diz quase sendo que eu ainda estou aqui.
- Mas não gosta da própria filha.
- Ela chora demais e isso me irrita.
- Está vendo? É por isso que eu tenho que pensar na nossa família.
- Você quer se separar de mim, é isso? Se quiser, pode ir embora, ah e aproveita pra levar a sua querida filha. Você vai se sair uma bela pãe.
- VOCÊ NÃO CONSEGUE ENTENDER, NÃO É MESMO? - se levantou furioso colocando as mãos na cintura.
Sophia engoliu seco.
- Que tipo de pessoa é você? Não gosta da própria filha, fica falando isso. E a sua gestação dos sonhos? Você importava com essa merda toda antes de estar aqui - respirou fundo sem tirar os olhos de Sophia - eu acredito em você, acredito que isso saia de você mas não começando desse jeito, ame pelo menos um pouco da sua filha, caramba! - chutou o pé da cama nervoso - ela é um bebê e não merece isso, não merece o que você faz com ela. VOCÊ NEM AO MENOS SEGUROU A MENINA DIREITO, FICA RECLAMANDO PORQUE CHORA. CRESÇA SOPHIA ABRAHÃO, CRESÇA!
Sophia ficou quieta e encolhida enquanto Micael soltava tudo que tinha pra cima de si, a loira encolheu os ombros e ficou de cabeça baixa, não queria dialogar mais nada com o marido.
- Você não aprende mesmo - negou com a cabeça saindo do quarto, as enfermeiras escutavam tudo do lado de fora. Ficaram sem graça quando Micael saiu.
O moreno andou até o berçário certificando que a filha estaria segura, lógico que sabia mas não conseguia tirar algo de ruim da cabeça, era a sua paternidade atingindo.
- O que faz aqui? - não podia crer no que viu.
Karen estava olhando Analee pelo vidro, tinha uma bolsa no ombro e estava com uma roupa social.
- Ethan me contou, quis visitar a Analee - sorriu ao decorar o nome da menina que estava na frente do berço.
- Eu sinto muito por você...
- Eu sei, é por isso que eu estou aqui.
- Karen, eu acho melhor você ir embora!
- Embora? Por que? - achou estranho.
- Sophia não está em condições de conversar, muito menos criar um novo vínculo.
- O que quer dizer com isso?
- Infelizmente a depressão pós parto a atacou, ela está impossível de se conversar, andamos brigando muito, e eu quero fazer de tudo pra que ela não piore.
- Não seria melhor eu conversar com ela?
- Você até pode mas as respostas que ela vai te dar não são nada boas - colocou as mãos no bolso - vá pra casa e alongue mais esse tempo, é pelo bem dela.
- Você tem certeza, Micael?
- Absoluta, é a melhor coisa que você pode fazer no momento, pra ajudar Sophia.
A loira assentiu apertando mais a bolsa nos ombros, abraçou Micael se despedindo dele e saindo no corredor do hospital, seu salto ecoava no piso branco do local.
Sabia que tinha feito algo radical mas se Sophia encontrasse Karen algo de bom não sairia, ainda mais naquele estado que estava tratando as pessoas. O melhor a se fazer foi isso, pensou ele enquanto via a filha dormir tranquilamente depois de se alimentar.
Seu bem mais precioso estava ali, só faltava resolver o outro problema e reconstruir sua família ao normal.
Apenas isso.