- Sophia? Quero falar com você - a mulher com roupas brancas e sapato de couro entrou no quarto, sentou-se na ponta da cama.
- Algum problema? - respirou fundo.
- Vamos ter uma reunião agora de tarde, acho melhor você ir.
- Reunião sobre o que? - franziu o cenho.
- Sobre a maternidade - se ajeitou - as meninas me disseram o que você contou lá na quadra.
- Tudo bem, eu vou - piscou rápido - quando são as visitas aqui?
- Duas vezes por mês, na próxima semana acredito que alguém já venha te visitar.
- Obrigada - deu meio sorriso.
A mulher saiu do quarto onde Sophia estava, Kate saiu do banheiro com algum creme no rosto, a pele estava roxa.
- O que estava fazendo escondida aí?
- Tratamento pra pele - pegou uma revista - não liga pra ela, todas aqui enchem seu saco.
- Eu falei com meu marido.
- Aconteceu alguma coisa?
- A gente chorou bastante, quero que venha me visitar logo.
- Ele vai sim - folheou atenta - já escolheu sua roupa?
- Que roupa?
- Para o baile de inverno, todo ano nós temos um baile aqui na clínica, acredite mas sim - ela assentiu varias vezes deixando Sophia confusa.
- É aberto a todos?
- Não, só as meninas participam, a gente mesmo - tocou o rosto vendo se o creme estava totalmente seco.
- Qual a finalidade desse baile?
- Se divertir, oras - riu consigo - você vai, não vai?
- Acho que sim - teve um pouco de medo de falar.
- Você vai sim, nem que esteja amarrada.
- Estranho ter um baile na clínica, somos tecnicamente doentes.
- Só se você for doente - riu de Sophia voltando ao banheiro novamente.
Só conseguia pensar em como seria esse baile.
Já no hospital Micael recolhia suas coisas, a neve tinha cessado um pouco mas mesmo assim não daria para atravessar a cidade com seu carro, ele ficaria preso em qualquer esquina com neve nos pneus.
Ele arrumou a pequena no bebê conforto que chupava sua chupeta quietinha em meio as cobertas, pegou o elevador e desceu indo até a recepção.
- Já vai, doutor Borges?
- Vou sim, hoje todos tiraram o dia pra ficar em casa - explicou - sabe se o metrô está funcionando?
- Acredito que sim - uma delas respondeu - não vai de carro?
- Nevou demais, meu carro pode ficar atolado a qualquer momento.
- Tem razão.
- Até mais - deu tchau as meninas saindo em direção à porta.
Estava muito frio e ele se arrependeria mentalmente por Analee estar ali com ele, mas a pequena estava segura, toda presa e quente no bebê conforto. Micael andou pela neve, seus sapatos se afogavam no branco do gelo, ele só queria chegar na estação e comprar seu bilhete indo pra casa. Apenas isso.
Andou cinco quarteirões entrando na estação, varias pessoas esperavam seus trens querendo a mesma coisa que Micael. Ele comprou e esperou pelo seu, não demorou muito pra que estivesse dentro do metrô.
- Sua filha? - a moça morena com luzes sorriu a Micael, estava ao seu lado.
- Sim, minha filha.
- Deve ser linda - não conseguiu ver Analee por conta da proteção.
- Uma princesa.
- Você só tem ela? - pareceu querer ser simpática.
- Só - pausou - você tem filhos?
- Tenho quatro meninos - sorriu - são todos grandes já.
- Nossa, não aparenta.
- Obrigada por me chamar de nova - riu consigo - pra onde está indo?
- Pra minha casa - olhou ela cansado.
- Ah sim, nevou bastante em Denver - arrumou seu cachecol.
- Eu ia vir de carro mas a neve está bem alta, a cidade está toda parada.
- Está mesmo - por minutos os dois ficaram em silêncio.
O trem parou na estação abrindo as portas, Micael saiu vendo que a mulher também tinha saído.
Achou estranho.
- Você está perdida? - perguntou a ela.
- Não muito - sorriu.
- Se quiser alguma coisa...
- Não precisa, eu vou caminhar até a casa de uma amiga minha.
- Tudo bem, até mais - se despediu saindo da estação.
Ainda não estava nevando mas o tempo era feio, caminhou duas quadras até seu condomínio, conversou algumas palavras com o porteiro antes de entrar.
- Ei, ei - escutou alguém - você é o Borges?
- Sou sim - encarou a menina com cabelo no corte muito curto, tinha piercing e algumas tatuagens nas mãos - aconteceu algo?
- Eu trouxe uma encomenda pra você mas não tinha ninguém - ele achou estranho, super estranho.
- Encomenda? - deixou Analee com o porteiro indo até a menina, ela estava fora do condomínio.
- Alguém pediu pra você semana passada mas parece que estava ocupado - andou com ele até o carro. Ela abriu o porta malas.
- Que tipo de coi...
- Idiota! - não deu tempo quando Micael sentiu algo pesado batendo em sua cabeça.
Nocaute.