- Então Sophia, está pronta? - a psicóloga sentou-se na cadeira com seu bloco de anotações.
Micael estava escondido em uma outra sala, tinha um ponto de áudio no local onde Sophia teria a sua consulta.
- Não - respirou fundo cruzando as pernas.
- Me diga, o que você anda sentindo desde que ganhou a sua filha?
- De verdade? Sinto pena - encarou as unhas - minha vida está conturbada.
- Então me diga por que está - sorriu simpática.
- Eu não queria engravidar, Micael trocou os meus remédios e me senti invasiva quando descobri. Minha gestação foi ótima até um ponto mas depois - pausou.
- Ele me disse que você anda tendo alguns impulsos estranhos, o que você sente?
- Eu tenho vontade de estar na minha antiga vida, fazendo sexo, usando droga. As vezes eu me imagino transando com ele em algum lugar obscuro, alguém que olhe a gente fazendo sexo, eu desejo o Micael vinte e quatro horas por dias. E eu tenho um desejo.
- Qual desejo? - a psicóloga se arrumou na poltrona.
- Fazer sexo com outros homens - disse calma quando saiu do transe.
- É um desejo bem diferente, Sophia.
- Eu sei que é.
- Você nunca conversou com o Micael sobre isso?
- Micael é veado demais pra falar alguma coisa. E ele bate em mim.
- Ele bate em você?
- Bate, ele é agressivo. Mas eu gosto, eu sinto mais tesão.
- E enquanto a sua filha? Você não me disse nada ainda.
- Claro que eu te disse, eu não sou muito apegada a ela.
- Você é mãe dela, precisa se apegar.
- Acontece que eu não gosto dela, eu crio por opção.
- Tente ver o amor nela, quem sabe você...
- Eu não sinto amor naquela menina, ela é um bebê que me irrita o dia inteiro. Ela é a consequência de eu e Micael não termos usado camisinha na hora do sexo, minha mãe sempre me avisava e ela tinha a tremenda razão. Filhos são uma desgraça, a minha filha é uma.
- Não diga assim, Sophia.
- Mais alguma pergunta? Eu não quero passar o dia todo falando da minha filha pra você.
- Ok - ela riscou algo no papel - nossa sessão acabou, pode ir na recepção entregar isso - deu a Sophia um cartão.
- Obrigada - a loira levantou-se da poltrona de camurça, saiu da sala e foi até o elevador indo ao térreo. Não queria falar com Micael depois do tapa que tinha levado.
Enquanto isso o moreno saída da sala de escuta, foi a sala da psicóloga vendo ela arrumar todos os papéis com os nomes de Sophia. Os carimbou rapidamente.
- Você escutou tudo?
- Escutei - se sentou.
- Micael, eu vou ser direta e bem clara com você - enlaçou as mãos na mesa.
- Então seja.
- Vamos ter que internar a Sophia, em uma clínica de reabilitação.
- Oi?
- Eu sei que é complicado mas é o único jeito dela melhorar, ela está totalmente fora da casinha.
- Não tem outro jeito que possa ser menos radical?