Micael estava pasmo, pálido, suando frio, com tonturas. Queria morrer, queria sumir, queria ter cinco anos de novo e se esconder debaixo da cama, como se escondia da sua mãe. O chão dele tinha caído.
- Grávida? - passou a mão no rosto, pasmo - de novo?
- Sim, grávida de novo - pausou.
- Ok, essa sua pegadinha foi ótima. Eu já disse que você tem um bom senso de humor, meu amor.
- Não é brincadeira, eu estou grávida - tateou o bolso tirando de lá o teste de gravidez feito mais cedo, quando Micael tinha saído atrás das coisas de seu consultório.
Micael ficou paralisado ali, tinha o teste nas mãos mas não sabia o que fazer.
- Acredita em mim agora?
- Eu sempre acreditei.
- Não foi o que pareceu.
- Certo, mais um filho - respirou fundo - eu estou passando mal, de verdade.
- Por que?
- Você acha que é fácil? De verdade?
- Não é fácil, não era pra ter acontecido isso.
- Por que não tomou os anticoncepcionais, cacete? - ficou bravo.
- Naquela merda de fim de mundo onde você me colocou não tinha nada disso, eu procurei um remédio descente mas não achei nada.
- Você está achando que ter filhos é igual a brincar de boneca? Sophia, me poupe. Você já é grande o suficiente.
- Me poupe? É sério mesmo o que você está falando? - riu incrédula - eu não fiz sozinha, você também teve culpa.
- Em qual momento? Ah, claro. Em todos.
- Sim, ou você acha que deitar comigo não daria resultados?
- Não daria nenhum se você tomasse a porcaria dos anticoncepcionais!
- Lá não tinha, caramba. Será que dá pra você entender?
- MAIS UM FILHO.
- O QUE TEM, MICAEL? O QUE TEM?
- O QUE TEM? SÃO DOIS MESES DE DIFERENÇA, A GENTE É LOUCO. ANALEE É PEQUENA DEMAIS E VOCÊ ME ARRUMA OUTRO FILHO - colocou as mãos na cabeça, desesperado.
- EU NÃO FIZ SOZINHA!
Gritaram tanto que conseguiu acordar a pequena Analee, seu choro foi forte e agoniante.
- Eu não fiz sozinha - relembrou antes de sair do banheiro, deixou Micael conversar com sua mente.
Precisava se acalmar, e muito.
Passou rápido pelo quarto da filha vendo Sophia com ela, balançava a pequena pra que se acalmasse do choro. Foi até o balcão da cozinha pegando um copo próprio para uísque, colocou duas pedras de gelo e foi atrás do líquido com cheiro forte, álcool puro e duradouro como Ethan sempre dizia. Encheu seu copo e bebeu de uma vez, aquilo rasgou goela a baixo, a única coisa que lhe tiraria de seus problemas.
Ficou ali por muito tempo, uísque, vodca, mais uísque, mais vodca, misturou os dois com algum suco que tinha achado na geladeira, Micael não sabia o tanto mas sabia que estava em estado de decadência, só queria sua cama.
E queria voltar a semanas atrás pra não gozar dentro de Sophia, como sempre fazia.
Saiu com dificuldade dos bancos atrás do balcão, se apoiou no mármore até chegar no sofá, se jogou no estofado se esquecendo de quase tudo.
- Eu não acredito nisso - Sophia apareceu na sala, cruzou os braços - é sério?
- O que é agora, hein? Eu não posso mais beber? - se manteve o máximo pra ficar de olhos abertos.
- Desse jeito? Acho que não.
- Você só sabe implicar com a minha vida, oras.
- Implicar? Você bebeu duas garrafas de vodca sozinho, e a metade do uísque.
- Se você reclamar mais uma vez eu bebo a metade do uísque.
- Eu realmente quero entender o que aconteceu com você.
- Eu bebi, porra! - se virou no sofá - agora vou cair no sono, antes que você reclame mais uma vez. Vai reclamar por que eu estou dormindo no sofá?
- Eu tenho vontade de matar você.
- Me mata logo, é um favor que você me faz.
- Micael, quer saber? Pra mim chega - saiu da sala deixando o marido morrer no sofá.
Buscou Analee no berço agasalhando a menina, abriu a bolsa colocando tudo de útil, se arrumou rápido quando passou pela sala novamente, não era o certo mas era necessário, um gelo acordaria Micael a realidade.
Ele nem se mexeu quando a porta da sala se abriu, Sophia saiu por ela levando a pequena consigo no colo, estava frio lá fora mas não se importava, queria arrumar alguém pra passar a noite, não queria dormir em casa com seu marido bêbado no sofá.
- Eu sinto muito, Ana. Mas precisamos sair - disse a filha que estava quietinha toda agasalhada - quando for de manhã eu prometo que voltamos.
O elevador se abriu deixando Sophia na portaria, ela trocou breves palavras com o porteiro e foi pra fora, tinha pedido um táxi enquanto descia, não demorou muito pra que ela entrasse no veículo escolhendo o lugar pra onde iria.
Escolher era fácil, só não sabia aonde ir.