- Bom dia, de frio - Kate saiu da cama toda encasacada, tinha os pés cobertos por meias. Sophia ainda estava enrolada na cama de olhos fechados.
- Por favor, fique quieta. Eu preciso dormir - grunhiu se virando, estava fazendo frio demais.
-Está nevando, podíamos fazer bonecos de neve.
- Quantos anos você tem? - a loira finalmente tinha acordado, se queixou de frio.
- Idade suficiente pra fazer bonecos de neve - explicou-se - não vai tomar café?
- É cedo demais, impossível que todos estejam acordados.
- Estão, a única que falta é você - andou até o banheiro que havia dentro do quarto. Sophia escutou ela fazendo suas higienes matinais.
Aproveitou e levantou-se, viu que as outras camas estavam arrumadas ainda, suas outras colegas de quarto não haviam chegado. Kate saiu do banheiro vendo Sophia escolher algum suéter no guarda roupa.
- Até que enfim, acordou.
- Você me acordou - sorriu falsa colocando outra calça.
- Vamos tomar um bom café, aquecer nossos pulmões.
- Essa foi forte até pra mim - foi até o banheiro se encarando no espelho, tinha dormido muito bem, sua pele estava ótima.
- Espero que esteja ponta.
- Pra que? - pegou sua escova colocando pasta e escovando os dentes.
- Vamos ter grupo de apoio agora cedo.
Sophia não disse nada, voltou a escovar os dentes. Não tinha como se livrar.
A loira terminou e voltou ao quarto, calçou seu tênis e as duas saíram ao refeitório. Enquanto andavam pelo corredor puderam ver a neve que caía lá fora, estava quase tudo coberto, árvores, carros, o frio tinha tomado conta de Denver.
- Estão usando a nossa mesa - Kate avisou enquanto entregava uma bandeja a Sophia, entraram na fila.
- Tem centenas de mesas, dá pra gente escolher qualquer uma - pegou um suco.
- Só queria descontrair.
Andaram até outra mesa vaga, sentaram-se e fizeram o café da manhã, tinha alguns minutos restantes até estarem no lugar onde seria a primeira sessão de Sophia no grupo de apoio, estava um pouco nervosa por conta de não conhecer ninguém, a única que conhecia era Kate que dava as instruções a mesma.
Elas saíram do refeitório e andaram até uma quadra no final do corredor, a porta azul deu alívio a Sophia, mas isso mudou quando ela observou as cadeiras em um circulo e as outras pacientes conversando entre si, ela teve vergonha.
- Senta aqui - Kate a chamou pra sentar ao seu lado. Sophia se acomodou na cadeira.
Logo uma mulher com seus trinta e poucos anos tinha chegado, era elegante, tinha o cabelo cortado em V, usava roupas finas e tinha um bom gosto, na pele uma maquiagem leve que custaria bem caro, era magra e alta, os sapatos de couro reluziram nos olhos de Sophia.
- Bom dia meninas, hoje temos uma pessoa especial conosco - sentou-se na cadeira vendo a reação das outras pacientes.
Eram todas normais, aquilo não podia ser um sanatório.
- Seja bem vinda, Sophia - a mulher sorriu fazendo com que a loira sentisse mais vergonha ainda.
- Obrigada - silabou baixo.
- Hoje eu quero que você conte um pouco da sua trajetória, quero que conte as meninas o por que de estar aqui. E quero que elas se abram com você.
Sophia engoliu seco, cruzou as pernas e se preparou pra falar.
- Meu nome é Sophia Borges, sou casada com um fisioterapeuta e tenho uma filha recém nascida - encarou o chão - comecei a reagir como se não fosse eu, tenho gostos estranhos, o que deixou meu marido um pouco preocupado.
- Que tipo de gosto? - uma paciente perguntou.
- Acho que podemos considerar que sou uma pequena anfitriã no lado Ninfomaníaca.
- Viciada em sexo, dizemos viciada em sexo - outra concertou Sophia.
- Tudo bem, viciada em sexo. Com outras pessoas - pausou - tenho depressão pós parto também, não consigo sentir nenhum afeto pela minha filha que tinha acabado de nascer, pra ele foi cruel mas pra mim não, eu não consigo sentir que aquilo é cruel.
- Eu também tive depressão pós parto assim que ganhei minha terceira filha - a menina de cabelos ruivos disse a Sophia - eu comecei a mudar quando meu namorado trouxe ela aqui nas minhas visitas, demorou mais uma menos uns três meses.
- Depressão é horrível, tanto de parto como a normal - outra se envolveu na história - eu tive a própria depressão, não tinha mais jeito, minha irmã queria chamar alguma ajuda mais especializada nisso, eu não queria mais viver.
- Também já tive pensamentos em vício no sexo, minha ficante até tinha medo de mim - todas se envolveram.
E Sophia ficou mais aliviada quando todas contaram seus problemas diários, era meio gratificante poder se abrir e achar pessoas com os mesmos problemas. A loira até tinha perdido a vergonha.
- Ei, você - a ruiva parou Sophia que estava saindo da quadra, a sessão havia acabado.
- Tudo bem? - sorriu se lembrando.
- Achei legal você ter contado a sua história, geralmente ninguém se abre quando são novatos.
- Eu me senti envergonhada - sorriu tímida.
- Não precisa, somos todos uma família aqui - caminhou com a loira, foram passeando pelo corredor - eu te mostraria a clínica mas está nevando muito.
- Fica pra outro dia, eu vou ficar no quarto - sorriu a ruiva que fez o mesmo.
- Prazer, Emy - deram as mãos.
- Prazer, Sophia - sorriram.
- Se quiser, pode ir ao meu quarto quando se sentir sozinha. Podemos conversar bastante sobre as nossas vidas, e quem sabe...
- Eu sou casada, Emy - cortou na hora - e você deveria ter classe pra uma mãe de três filhos e com um namorado.
- Calma, você pensou errado.
- Não pensei, só porque eu tenho pensamentos ninfomaníacos não quer dizer que eu queira transar com você - a fuzilou com o olhar - espero que isso não aconteça de novo, foi um assédio de boas vindas e não uma recepção.
Sophia deu as costas a Emy que se sentiu sem graça após fazer o convite sexual.
Cada louco com suas loucuras.