Micael acordou no dia seguinte com a claridade em seus olhos, os apertou e se queixou de dor de cabeça, muita dor de cabeça. Levantou-se aos poucos, precisava de um banho urgente. Foi até o banheiro livrando das roupas, colocou as no cesto e tomou um banho quente, aliviando sua dor, ou tentando. Escovou os dentes, ficou mais alguns minutos dentro do box, enrolou uma toalha na cintura e foi até seu quarto.
Sophia ainda dormia tranquilamente enrolada no edredom, fazia frio em Denver, ele sorriu mas tinha um sentimento de culpa. Sem fazer barulho foi até sua gaveta, abriu pegando uma cueca, calça e uma blusa polo de cor escura, abriu o guarda roupa pegando seu outro jaleco, por fim buscou o tênis e deixou Sophia dormir em paz.
Precisava de um café, enquanto ajeitava as coisas do trabalho foi até a cafeteira colocando uma cápsula de café expressa, esperou alguns minutos e caçou sua xícara, estava lavada e guardada na fileira que Sophia tinha arrumado na prateleira, era tão organizada.
Colocou o líquido dentro e bebeu, encarou o relógio e aliviou por estar na hora, um milagre.
Micael foi rápido ao beber seu café, colocou o jaleco no braço e pegou a chave da sua moto, já que o carro tinha dormido no estacionamento do hospital.
Grande merda, merda total! Iria ser pai e ainda sim fazia burrices de adolescente em crise.
- Micael? - escutou a voz da esposa, ainda estava rouca pelo sono recente.
Tinha uma mão na maçaneta e virou-se automaticamente visualizando a esposa ali, de roupão e pantufa confortável no frio.
- Oi, meu amor - não tinha um semblante bom.
- Antes de você ir - andou até ele - eu pensei muito sobre ontem.
- Eu fiz merda, eu sei.
- Eu também sei - cruzou os braços - mas acho que eu entendo a sua merda.
- Como? - ficou confuso.
- Você queria se divertir, estava eufórico com a notícia - sorriu leve - mas ainda sim me deixou preocupada, eu queria comemorar com você, queria compartilhar isso, nós dois juntos.
- Eu também entendo, é que na hora aconteceu - engoliu seco - mas espero que isso não aconteça mais, eu vou te mandar notícias quando eu sumir. Na verdade eu nunca vou sumir - andou até a esposa beijando seus lábios - você me perdoa?
Ela assentiu, ainda estava sonolenta mas não podia deixar Micael ir trabalhar sem fazer o questionário da manhã.
- Espere um pouco - ela alertou Micael indo até o quarto, demorou alguns segundos voltando com a jaqueta de couro preta. Ele sorriu.
- Eu te amo, volto mais tarde - deu um último beijo antes de sair porta a fora.
Micael grunhiu mentalmente e se xingou enquanto dirigia até o hospital, o vento frio de Denver estava o congelando em cima da moto, ele queria morrer, conseguiu pegar um atalho acabando com seu sofrimento. Estacionou na vaga exclusiva de motos colocando seu capacete em um guidão.
Estava colocando o jaleco quando passou pela porta automática, as meninas da recepção o cumprimentaram como sempre faziam. Subiu pelo elevador indo até o corredor de sua sala, viu o diretor executivo sair de lá.
Agora a porra estava fodida. Micael ficou branco feito papel.
Apertou o passo indo até lá.
- Bom dia, senhor Agoth - engoliu seco, fazia tempo que o diretor não aparecia. Só aparecia quando não estava nada bom.
- Eu estou terrivelmente puto com você, doutor Borges - deixou a pilha de papéis cair em cima da mesa do moreno - você acha que isso aqui é brincadeira?
- Não, senhor - abaixou a cabeça - eu tive um compromisso.
- Ah, um compromisso? - debochou - seus compromissos são mais importantes do que uma paciente marcada desde o mês anterior? Você acha, doutor Borges?
- Essa paciente desmarcou as sessões de fisioterapia, eu posso comprovar - foi até o diretor que estava atrás de sua mesa, inclinou-se digitando rápido no computador, as tabelas apareceram no monitor imenso - sinto muito, senhor Agoth. O compromisso foi minha mulher, ela está grávida...
- Eu não quero saber da gravidez da sua mulher, aquela entojadinha mimada - Micael apertou os punhos, mas se partisse pra cima ficaria sem emprego - quero que você se carregue nos seus afazeres, é um homem compromissado. Perdeu um dia inteiro de trabalho ontem.
- Me desculpe, senhor Agoth - pela milésima vez.
- Espero que isso não se repita de novo, e se acontecer pode se considerar um fisioterapeuta desempregado - fuzilou Micael com o olhar, balançou a cabeça e bateu à porta de sua sala.
O moreno deixou o corpo cair em sua cadeira, bufou irritado, aquele velho era um poço de ignorância, estava de saco cheio.
Escutou batidinhas na porta.
- Bom dia pra quem levou bronca do Aboth a essa hora da manhã - Ethan entrou na sala zoando o amigo.
- Até você? Pelo amor de Deus - bufou - eu quero que esse dia não exista.
- Ele só está começando.
- Queria estar em casa, dormindo na minha casa - grunhiu - estou cansado, com dor nas costas. Não que meu sofá seja duro...
- Você dormiu no sofá? - Ethan se acabou de rir - eu não acredito. Sophia 1 - Micael 0.
O moreno mostrou o dedo do meio.
- Eu cheguei bêbado, você queria que eu dormisse com ela?
- Ela ficou puta, não ficou?
- Ficou - apertou os olhos lembrando de pouca coisa - eu só consegui fazer merda ontem.
- Eu sei, e toma aqui - jogou a chave do carro em cima da mesa - deu sorte de não ter perdido.
- Valeu - guardou no bolso do jaleco.
- Vai trabalhar hoje ou vai dar o cano?
- Ethan, por que você não vai se foder? Ficaria bem mais fácil.
- Eu só quero zoar com a sua cara - o amigo riu - você deveria ter escutado, os gritos dele chegaram na minha sala. Imagine o comentário na hora do almoço, você sabe que isso vai ser pauta do doutor Price.
- Vá você e o doutor Price pro inferno.
- Que isso, ele gosta tanto de você - riu - ele queria que você comesse o cu dele.
- Ethan, eu preciso trabalhar - bateu as mãos na mesa - depois você pode me zoar o quanto você quiser, mas agora não.
- Tudo bem, tudo bem - rendeu as mãos - até mais tarde, bêbado azarento - saiu porta a fora irritando mais Micael.
Aquele dia seria um daqueles... Intermináveis.