- Perdeu o tesão de transar? - perguntou debochado.
Sophia bateu a porta com tudo puxando Micael pra um beijo, fez o marido passear as mãos grandes no corpo dela mas ele parou.
Parou de vez.
- Me larga.
- O que?
- Eu não vou entrar nesse seu joguinho, você não sabe o que quer.
- Eu sei sim, eu quero você, eu quero a nossa família.
- Agora você quer a nossa família? Não parecia a segundos atras quando você disse que queria ter a sua vida antiga.
- Nem eu sei o que estou dizendo.
- Está vendo só? Você está louca, Sophia. Você realmente não sabe o que quer, você não tem mais noção de nada.
- Eu não sou louca.
- Mas tem problemas, e eu quero te ajudar - se irritou colocando a aliança novamente.
- Porque você insiste em dizer que eu tenho problema?
- Porque você tem, e se você não cuidar dessa depressão... - passou as mãos na face desesperado.
- Chega, eu não quero mais falar sobre isso - cruzou os braços e andou até o quarto.
Nada aconteceu ali, a não ser Micael bravo e pensativo como sempre.
Na manhã seguinte Sophia acordou um pouco mais cedo, não foi porque quis, foi por conta da filha que acordou chorando, um choro tão fininho. Micael tinha escutado mas não levantou, queria testar Sophia, queria ver o que iria fazer.
A loira se levantou um pouco irritada, andou descalça até o quarto de Analee que tinha o choro mais forte agora, encarou a menina pelo berço.
- Por que chora a essa hora da manhã, hein? - pegou meio sem jeito - eca, que cheiro horrível - fez uma careta - MICAEL! Analee fez sujeira.
Não escutou resposta do marido, estava agoniada de vê-la chorando.
- MICAEL! - o gritou novamente.
Não tinha como, ele teria que verificar o que tinha acontecido.
- O que houve?
- Analee fez sujeira, está fedendo - entregou a menina ao mesmo.
- E por que você não trocou? - deitou a pequena no trocador.
- Eu não sei fazer nada com ela, você sabe disso - viu ele tirar o macacão em que usava, passou pelas perninhas, abriu os lados da fralda vendo a sujeira que a filha tinha feito.
- Vá no armário, pegue uma fralda limpa e o lenço umedecido - disse - não esqueça a pomada de assadura.
Sophia foi até o armário, ainda estava sonolenta por conta do susto matinal, pegou o que Micael tinha pedido entregando ao marido.
- Preste atenção, quero que você aprenda - falou a Sophia que prestava atenção no que ele fazia - segure as pernas dela desse jeito, está vendo? É bem rápido, só pra você tirar a fralda. Enrole a suja e jogue fora, abra a nova mas não coloque agora, limpe ela primeiro - pegou o lenço umedecido - passe com cuidado, e limpe bem, só pare quando ver que não está mais sujo, depois você coloca um pouco de pomada nos dedos e passe atrás e na frente, pra não assar - mostrou a Sophia como se fazia tudo.
- E a fralda?
- Você pode colocar agora - segurou as pernas de Analee novamente, bem rápido - faça a mesma coisa pra tirar, veja se está certinho, depois você fecha os lados e pronto. Ela está trocada.
- É muito difícil pra mim.
- Você aprende - teve paciência com Sophia naquela manhã.
- Coloque esse nela - entregou outro macacão a Micael que colocou, não queria iniciar outra guerra com Sophia por causa de um simples macacão, que ela também não saberia colocar.
- Você vai dar o banho hoje - alertou pondo Analee de volta ao berço, tinha parado de chorar.
- Eu...
- Não venha com essa de eu não sei dar - imitou Sophia saindo do quarto.
- Mas eu não sei mesmo.
- Você precisa aprender, como vai fazer quando eu não estiver aqui?
- Sei lá, eu dou um jeito.
- Tenho medo desse jeito que você dá - entrou no banheiro se trancando por lá.
A loira bufou, teria que esperar o marido sair. Foi até o quarto da filha vendo ela no berço, como era quietinha quando não estava abrindo o berreiro por coisinha boba. Tudo que Micael via nela, Sophia não conseguia ver, o indício da depressão já lhe entregava ao todo.
Sophia não conseguia sentir amor, carinho, emoção, ver a própria filha com outros olhos, pra ela era como se estivesse olhando algum filho de alguém, alguma criança que nunca tinha visto na vida, uma desconhecida, era isso que Sophia sentia quando via Analee, pra ela a menina não era sua, apenas pariu com vida para o marido criar.
Um ato simples que não conseguia sentir: o amor pela filha.
Seu pensamento foi cortado quando escutou a porta do banheiro ser aberta, saiu do quarto de Analee vendo o marido com uma toalha na cintura.
- Onde você vai?
- Trabalhar, oras - abriu a gaveta pegando uma cueca. Deixou a toalha cair vestindo em seguida.
- Você não vai ficar comigo? Vai me deixar aqui com ela? Sozinha?
- Eu preciso trabalhar ou você quer que eu seja demitido? - procurou sua calça jeans e uma blusa, por último calçou seu tênis.
- Eu não sabia que você ia trabalhar.
- Eu preciso - passou seu perfume, Sophia se sentiu tão tentada, queria tanto seu marido agora - o que houve agora?
- Só estava te olhando.
- Ok, eu preciso ir agora - beijou Sophia calmamente - qualquer problema é só me ligar.
- Não vai tomar café?
- Não, eu tomo no hospital - saiu de seu quarto e foi no de Analee, deu um beijo em sua testa - até mais tarde, filha. Papai te ama.
Saiu do apartamento antes que Sophia falasse alguma coisa, odiava ter aquele olhar dela de tristeza, era demais a ele.
Já no apartamento as coisas tinham ficado igualadas e boas, Analee não estava chorando e Sophia tinha um medo tão grande de ficar com ela.
- Agora estamos sozinhas - disse a filha sabendo que não teria resposta - vamos criar um trato? Você não chora e eu não me desespero, pode ser? - Analee olhava a mãe.
Sophia respirou fundo.
- Eu colocaria alguns brinquedos pra você aqui mas, você não consegue ficar sentada ainda - disse por fim - e pensar que eu ficava sentada toda a hora, mas eu não sentia nada - começou a falar, a menina ficou quietinha - eu não andava antes de ter você, sabia? E quem me salvou foi seu pai, foi por isso que eu casei com ele, não por isso, é que eu amo ele, você vai entender mais pra frente.
Sophia parou de falar.
- Droga, eu estou falando com um bebê - disse a si mesma - isso não faz nem um pingo de sentido.
Não fazia mesmo.
- Mas sabe o bom de tudo isso - se animou - é que você não está...
Analee fez uma careta colocando os lábios em jogo, o choro havia começado outra vez.
- Chorando - Sophia finalizou.
Agora sim começaria o desespero.