Capítulo 217

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Finalmente o turno de Micael tinha acabado, o moreno juntou suas coisas, se despediu pegando o elevador e rezando mentalmente pra que Sophia não iniciasse outra guerra com ele.

- Senhor Borges? - a recepcionista o chamou enquanto saía.

- Algum problema?

- Chegou sua conta - entregou a carta ao moreno que franziu o cenho - o senhor solicitou na semana passada.

- Ah sim, os novos equipamentos que eu comprei - se lembrou - obrigado - a recepcionista sorriu em gentileza.

Antes de sair tinha falado a Ethan para que levasse seu carro embora, não conseguiria ter a responsabilidade dos dois, subiu na moto e foi pra casa, era tudo que ele queria no momento.

Quando chegou estacionou ela no seu devido lugar, Micael não usava muito sua moto então tinha que cobrir com seu glorioso lençol. Sorriu cansado pegando o elevador e apertando o andar de seu apartamento, buscou a chave e passou pela fechadura abrindo e passando.

Não disse nada, só buscou Sophia com o olhar mas não conseguiu encontrá-la. Deixou suas coisas no sofá e andou pelo pequeno corredor, viu que a porta do segundo quarto estava aberta e viu a esposa ali, não adiantava falar, parecia uma criança.

- Eu não acredito - entrou no quarto enfurecido.

- O que você não acredita? - deu de ombros debochando do marido.

- Você está mexendo com tinta? Isso é ruim, o cheiro disso...

- Você já leu a embalagem?

- Que diabos, eu não preciso ler a embalagem - respirou fundo - por que está pintando agora?

- Porque eu quis, você anda muito ocupado falando com a sua nova amiguinha - voltou a passar o rolo na parede dando mais uma mão de rosa.

- Puta que pariu, ainda isso? - colocou as mãos na cintura - quer saber? Eu cansei.

- Está cansado de que? De comer yakisoba ou de conversar com a sua amiga? Se quiser, eu posso responder - disse dócil mas com um veneno interno.

Isso tinha um nome: ciúmes.

- Estou cansado de você com esses ciúmes ridículos, se eu conversar com a parede você reclama.

- Não é bem assim - largou o rolo de tinta no chão onde jornais protegiam o piso.

- E é como? - Micael pegou outro rolo entrando na onda, tirou a blusa deixando os músculos a mostra, Sophia teve uma combustão de calor.

- Não tenho ciúme da parede - pegou seu rolo novamente dividindo o espaço com o marido - você me deixou sozinha.

- Eu preciso trabalhar, Sophia.

- Mas me deixou sozinha, de novo - estava desabafando - eu comprei o enxoval todinho sozinha.

- E não me esperou por que?

- Porque você estava trabalhando, como você disse.

- Sabe que eu posso pegar uma folga e ir comprar com você, é só questão de falar.

- Eu não sei.

- Sophia, eu queria mesmo tentar te entender - encarou a esposa - está acontecendo alguma coisa com você que não queira me falar?

A loira ficou em silêncio.

- Eu estou com medo.

- De que?

- De tudo, do parto, do bebê... - respirou fundo cerrando os olhos - é difícil.

- Fale pra mim, o que é tão difícil?

- Alguma coisa está me dizendo que algo de ruim vai acontecer.

- Não vai acontecer, é só você parar com esses pensamentos - molhou o rolo na tinta rosa voltando a passar na parede.

- É difícil, Micael.

- Você quer um cachorro? É isso? Assim não fica tão sozinha.

- Está debochando de mim? - o fuzilou com o olhar.

- Não, só estou dizendo isso pra você não se sentir tão sozinha - pausou - afinal, o bebê vai demorar dois meses pra nascer ainda.

- E quando ela nascer?

- Ela vai nascer, oras - riu consigo.

- Eu não estou dizendo isso.

- Então o que você está querendo dizer? - Micael estava perdendo a paciência.

- Você vai ficar comigo ou vai se dedicar ao trabalho?

Foi a vez dele ficar em silêncio.

- Vou ficar com vocês, nem que meu chefe me mande embora - saiu quase em um sussurro.

- Ele brigou com você, não foi?

- Como sabe... - pensou rápido - ah, Ethan.

- Ele me trouxe a chave do carro e contou o que aconteceu.

- Fofoqueiro.

- Honesto, melhor que o meu marido.

- Está dizendo que eu não sou honesto?

- Micael, eu não quero brigar mais com você - respirou fundo - faz semanas que a gente casou e só estamos brigando.

- Não estamos facilitando.

- Eu sei, não é fácil. Vamos tirar um dia pra colocar tudo isso na mesa, espero que o nosso casamento não viva com esse mar de emoções ruins.

- Idem - pintou os cantos altos da parede, aliviou quando deixou o rolo de volta ao jornal.

- Podemos terminar a outra parede amanhã, quer dizer, eu posso terminar.

- Não.

- O que disse?

- Nada - encarou a loira.

- Estou cansada, vou tomar um banho e dormir. Se quiser comer, assei alguns bolinhos.

- Tudo bem - sorriu leve a esposa que fez o mesmo.

O que adiantaria se ficassem brigando o tempo todo? Não faria bem ao casamento, não faria bem ao bebê, não faria bem a nada. Micael tinha que controlar o que dizia, e Sophia tinha que controlar o ciúmes reinado em seu corpo, sabia o marido que tinha e sabia os cuidados que teria que tomar.

A loira entrou no banheiro se despindo, tomou um banho quente relaxando seus músculos.

No lado de fora tínhamos Micael terminando a última parede que faltava, escutou o barulho do chuveiro mas decidiu não ir lá, ela tinha que ter aquele momento de paz, ela e sua filha. Mas sua cabeça queria ao contrário, queria entrar lá com ela, alisar seu corpo e dar o total conforto que ela precisava. Aquela ideia sumiu quando sua atenção voltou a tinta rosa.

Ele escutou a porta do banheiro ser aberta, viu Sophia passar o corredor com um roupão no corpo, entrou no outro quarto fechando a porta, ele não pôde escutar mais nada, sua total atenção agora era na parede rosa da sua filha.

Ele não calculou quando tempo ficou ali pintando e retocando os lugares que faltava da parede, apenas fez com amor e carinho pensando em como ela seria. Quando terminou sorriu com o resultado, retirou os jornais do chão fazendo uma bola de papel e jogando no lixo, passou um pano rápido deixando o quarto com um cheiro muito agradável, vasculhou as sacolas que estavam no cômodo e viu que Sophia tinha comprado uma faixa com bichinhos e ursinhos decorando, mediu o quanto precisava e colocou em todo o quarto.

Agora sim estava perfeito, sorriu mais ainda, fechou as latas de tinta e tirou do quarto. O que queria agora era um banho relaxante e sua cama.

Nada mais.

The Sessions - A Sessão FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora