Micael estava muito aflito enquanto andava os corredores do hospital, tinha deixado um bilhete em sua sala já que Ethan o irritaria mais tarde, desceu as escadas indo ao subsolo maternal, não esperou o elevador, não tinha condições disso no momento.
Procurou a sala cirúrgica abrindo a porta de vidro, Nelly lavava as mãos e arrumava sua touca.
- Tudo tranquilo? - perguntou a Micael que abria o pequeno armário buscando suas roupas descartáveis.
- Onde vocês se trocam aqui? - estava nervoso revirando os pequenos kits.
- Você sabe que na medicina não existe vergonha - secou as mãos em uma toalha - te espero lá dentro.
- Porra, Nelly! - grunhiu quieto, estava nervoso demais. Rasgou os sacos que protegiam as roupas descartáveis, não se importou de ficar apenas com sua cueca bóxer se trocando rapidamente, a blusa verde e calça do mesmo tempo já estava em seu corpo, até parecia que ele iria fazer a cirurgia.
O moreno lavou as mãos tirando qualquer bactéria que fosse possível, por fim passou álcool e gel deixando secar naturalmente, arrumou sua touca na cabeça, sua máscara colocando os elásticos atrás da orelha e por fim a pantufa descartável que fazia parte do vestimento.
Tinha entrado na sala cirúrgica com tudo esterilizado, viu Sophia sentada na mesa enquanto passavam álcool em toda a extremidade de sua coluna, Micael cerrou os dentes.
Ela iria sentir.
- Meu amor, eu quero que fique calma - segurou nas mãos da esposa que gemeu de dor quando sentiu a agulha perfurar seu osso.
- O que está acontecendo? - ela sabia realmente o que estava acontecendo, só tinha deixado a pergunta sair de seus lábios pela décima vez.
O cateter foi colocado em Sophia quando a mesma tinha deitado na mesa, a sonda para urina tinha doído ainda mais do que a anestesia. Parecia tudo calmo ali com Micael, mas não estava.
Não estava quando o pano foi posto acima da sua barriga bloqueando sua visão.
- Ei, olha pra mim - Micael segurava suas mãos sabendo a aflição de Sophia.
- Micael, de novo não - suas lágrimas desceram quando a outra enfermeira rodeou Sophia colocando o pequeno tudo de oxigênio, no seu braço outro cateter distribuindo soro - eu não consigo me mexer.
- Isso é normal, meu amor. Vai ficar tudo bem - tentou tranquilizar.
Sophia ficou quieta prestando atenção em tudo, observou o local enquanto lá na frente trabalhavam em sua barriga, conseguiu escutar os instrumentos cirúrgicos sendo largados em algum recipiente de metal, aquilo tinha apavorado ela mais ainda.
- Conversa comigo, eu sei que você está ansiosa - o moreno tirou a atenção dela, os olhos azuis tomaram conta.
Sophia balançou a cabeça, não queria dizer nada.
- Será que ela vai puxar os meus olhos ou os seus? - Micael queria muito chorar, não sabia mais o que fazer. Aquilo o agoniava.
O tumulto aconteceu e quando deu conta o chorinho fino fez parte do mundo, ecoando na sala de parto.
Era pequena, tão pequena. O corpo esbranquiçado por conta da placenta, os olhinhos pequenos e a boquinha delicada como a de Sophia. A neném se remexeu muito quando colocaram na balança e cortaram seu cordão umbilical.
- Ela é linda, Sophia - o moreno sorriu de orelha a orelha vendo a enfermeira enrolar sua filha como um burrito, levando até a loira que sorriu assim como o marido.
Não conseguiu ter nenhuma reação, o que foi estranho a Micael, muito estranho. Ele ainda ficou segurando suas mãos enquanto os cirurgiões fechavam o corte na barriga e certificavam que Sophia não teria mais nada de ruim.
- Sophia - Micael o chamou - Sophia, pelo amor de Deus, Sophia - acudiu a esposa que tinha ficado imóvel em cima da mesa, os olhos da fechando lentamente.
- A pressão dela caiu - uma enfermeira correu verificando o pulso de Sophia - você tem que sair.
- Eu vou ficar! - decretou.
- Micael, saía por favor - Nelly pediu vendo a situação de Sophia que já tinha a bombinha de oxigênio na parte do rosto.
O moreno saiu com o coração na mão de deixar sua esposa ali, sozinha com desconhecidos, não queria que nada de ruim acontecesse mas sabia que a situação de Sophia não era boa, ainda mais naquela altura do campeonato.
Ainda mais ali, ele só soube chorar quando ficou sozinho no corredor frio do subsolo. Era sentar e aguardar. Não podia ficar sozinho, não podia seguir sua vida sem a sua mulher, não podia criar a sua filha sem a presença de Sophia.
Tudo dependia dela, eram dois em um só.
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