- Você não sabe mesmo jogar cartas - Micael riu de Sophia enquanto jogavam cartas, o vinho tinha ficado gelado depois de algumas horas.
- Eu era muito boa na faculdade.
- A mil décadas atrás - ainda ria da esposa, guardou o baralho.
- Não gosto quando você ri de mim.
- É hilário, meu amor. Nem eu consigo me segurar, você errou todas as jogadas e olha que eu dei algumas dicas.
- Dicas? Você só soube rir e zoar da minha cara.
- Foi engraçado.
- Não foi - se emburrou - mas tudo bem, o seu estará guardado - bebeu seu vinho, Micael fez o mesmo.
- Como estão as meninas, será?
- Acho que todas bem - sorriu - você está preocupado?
- É claro, Sophia. São minhas filhas, é óbvio que eu estou preocupado.
- Eu também estou, mas acho que você nunca esteve tão preocupado como hoje.
- Veja bem - enlaçou os dedos em cima da mesa - Analee e Annie acampando juntas, as duas brigam o tempo inteiro e estão dividindo uma barraca - Sophia gargalhou.
- Cômico.
- Do outro lado temos Amy e Alice viajando com Karen e Ethan, dois perdidos com um filho mais perdido ainda.
- Nicolas é muito ciumento, não acha?
- Eu também teria ciúme, eles gostam muito de Amy e Alice.
- Mas também amam o filho, ele que é ciumento.
- Ele tem o gênio de Ethan, não discordo em nada.
- Como tudo foi engraçado, não?
- O que?
- Você era amigo de Ethan que era meu quase amigo na época da faculdade, ele era louco por Karen. Aí os dois resolveram fazer uma faculdade juntos e deram super certo, você me achou e ele achou Karen. Isso é coisa de livro.
- Eu chamo de destino.
- Destino? Está mais pra coisa estranha - riu leve.
- Você acha estranho termos nos casado?
- Claro que não, acho estranho estarmos todos juntos mas não nos conhecer pessoalmente. Até que um dia chegou.
- E cai entre nós, você estava doidinha por mim desde a primeira vez que eu entrei nessa casa.
Sophia gargalhou mais ainda.
- Tem certeza? Estagiário novato e super medroso.
- Medroso? Por que, medroso?
- Você era muito medroso, morria de medo de me dar banho. Era engraçado.
- Não tinha nada engraçado, se coloque no meu lugar - ela riu - eu era homem, esfregando partes íntimas de uma desconhecida.
- Você tinha sorte que eu não sentia nada, se sentisse emitiria um gemido só pra você ficar constrangido.
- Você gosta de deixar as pessoas constrangidas, não é senhorita Borges?
- É engraçado. E você era muito fofo me dando banho, é lógico que eu queria ter meus movimentos e sentir alguma coisa naquela época, estava delirando por você.
- E depois começou às provocações...
- Nunca te provoquei.
- Ah não? Eu me lembro bem no dia que você me mandou passar creme no seu corpo, que obsceno dona Sophia.
- Fazia parte do seu trabalho, e eu gosto de dormir bem cheirosa. Você mesmo pode responder essa pergunta.
- É, não tenho dúvidas que não - sorriram.
- Então... - pausou - eu tive sorte, bonito, gostoso e tão inocente assim, na minha casa, cuidando de mim.
- Foi só por isso que você se apaixonou?
- Você sabe que não.
- Então tá bom - sorriram.
- Eu disse uma vez a Karen que... - pausou ficando em transe.
- Que? - ficou curioso em saber.
- Se eu não achasse nenhum doador, eu iria me entregar.
Micael engoliu seco, entendia a linguagem de se entregar no mundo da medicina.
- Por isso, todos os dias, antes de dormir, eu agradeço por você ter entrado na minha vida. De verdade - segurou nas mãos do marido - eu não sabia mais o que fazer - seu mundo desabou novamente - Micael, eu nunca amei ninguém como eu amei você, acredite - os olhos do moreno encheram de lágrimas, ele não se segurou - você é a única pessoa que pode sim dizer que me faz feliz, todos os dias. Você construiu uma família comigo, constitui um laço que jamais pode ser desfeito. Micael, eu te mais demais.
Ela não conseguiu mais dizer, caiu no choro como uma criança quando perde algo mais querido. Sophia sentiu os lábios de Micael acalmarem sua face, tão terno, tão suave, tão gostoso. Era isso que sentia quando estava com ele. Puro conforto.
E sim, amava Micael e ninguém duvidaria disso. Ela poderia gritar ao sete cantos, o que mais lhe importava no mundo era seu marido.
Seu marido e suas filhas, o mundo que havia construído. O mundo inteiro apenas a ela.