- Gostei dessa ideia de transarmos no colchão - Micael riu.
- Você quebrou a cama.
- Ah, eu?
- Sim, ninguém mandou ficar me ajudando na hora do sexo - encarou as mãos - quando vamos comprar uma cama nova?
- Podemos ver isso amanhã.
- Amanhã? Vamos ter que dormir no colchão mais uma vez?
- Amor, não é a coisa mais terrível do universo.
- Minhas costas doem - reclamou.
- Tome um remédio.
- Micael Borges, me respeite!
- Eu estou te respeitando - encheu Sophia de beijos - linda.
- Não me convenceu.
- Ah, não? O que você quer então?
- De verdade? - se aninhou nos braços do moreno.
Mas parou quando escutou o choro fino de Analee em seu quarto, Micael bufou.
- Essa é a pior parte de ter filhos - ia saindo da cama.
- Tudo bem, tudo bem - Sophia saiu primeiro, vestiu seu hobby de seda - é eu quem ela quer.
E queria mesmo, Sophia saiu de seu quarto deixando Micael jogado no colchão, precisavam de uma cama urgente. Foi até o quarto da pequena Analee que chorava irritada, Sophia sabia sua irritação e se pôs a trocar a fralda novamente, a amamentou um pouco e a levou consigo até a sala, ficariam juntas como a loira mesmo disse.
Estava tudo em ordem na casa dos Borges.
Duas semanas depois.
- Oi, sou eu. Micael Borges - estava no telefone, pegou uma caneta - então, fica combinado ás quatro? Sim, eu preciso ver o meu arquiteto - mexeu em alguns papéis - fique despreocupado, a clínica vai ser um sucesso - sorriu - até mais, tchau tchau.
O moreno ajuntou uma quantidade de papéis, os colocou em uma pasta preta e saiu de seu quarto.
- Onde você vai? - Sophia perguntou, estava no sofá brincando com Analee. Não tinha a cara muito boa.
- Eu vou conversar com o arquiteto, estão todos na área da clínica - sorriu fraco - vejo você mais tarde?
- Não vou sair daqui - cerrou os olhos.
- Volto já, eu te amo - jogou um beijo no ar e saiu porta a fora.
Tateou o bolso procurando pela chave do carro, colocou a pasta no banco do passageiro e saiu.
O novo consultório de Micael ficava bem no centro da cidade, ao lado de lojas de luxo e empresas importadas, era um bom território com o preço altíssimo. Ele não se importava, tinha o dinheiro exato pra poder comprar tudo o que queria, já tinha a construção pronta, só faltava o decorador e acabamentos finais.
- Boa tarde, desculpe a demora - cumprimentou os dois arquitetos. Estavam segurando papéis grandes.
- Que isso, Borges. E então? Você andou vendo os nossos e-mails?
- Andei sim, e achei a decoração ótima. É bem...
- Luxuosa e de bom gosto - um deles sorriu - eu gostei da ideia do lustre, afinal, é raro e nobre em nossa sociedade.
- O lustre - Micael pensou - eu também adorei a ideia. E quando vai ser jogada em prática?
- Quando você acionar o novo dinheiro na conta.
- Oi?
- O dinheiro em conta, nós tentamos usar mas não conseguimos. O limite estourou.
- Então quer dizer que todo o dinheiro que eu dei... não sobrou mais nada? - aquilo lhe doeu, engoliu seco.
- Pelo visto sim, mas creio que uma pessoa com o senhor tem a conta em dia, a segunda opção diríamos.
Não tinha não.
- É, eu tenho sim - riu sem um pingo de graça - licença, eu vou conversar com meus bancários. Volto em um instante.
Micael saiu da rodinha de arquitetos, pegou seu celular ligando ao banco, a ligação demorou alguns minutos mas conseguiu ver o débito que tinha, realmente a herança de Sophia já tinha ido tudo.
Se empolgou demais com a localização.
- Voltei - sorriu colocando as mãos no bolso - podemos deixar o lustre de lado, ele não vai chocar ninguém.
- Seria bom para o seu negócio, ter algo inusitado como esse...
- Olha, quer saber - franziu o cenho - podemos ir nos falando depois, eu não tenho pressa pra decoração.
- A sua clínica vai ficar nua? Sem nada para os clientes? O que vai ter a oferecer?
- O que eu tenho de melhor, e não um lustre de trinta e cinco mil dólares - soltou - consigo arquitetos melhores que vocês.
- Ora, senhor Borges. Desacatando nosso trabalho?
- Não estou desacatando e sim arcando com as consequências. Isso não dá pro meu dinheiro.
- Então por que nos contratou?
- Estou fazendo essa mesma pergunta - deixou novamente os dois, estava puto e meio triste.
Agora teria que arranjar novos arquitetos, que ótima coisa.
Voltou pra casa entristecido, ainda sim um pouco puto. Fechou a porta da sala não vendo mais Sophia ali com a filha, andou pelos cômodos e tirou a chave do carro de seu bolso, entrou no banheiro e sentiu o cheiro da esposa, encarou ela pelo espelho que tinha chego agora, se escorou no batente da porta.
- Eu consegui acabar com a sua herança, realmente - tirou a blusa, abriu a torneira.
- Você conquistou o que queria, eu apenas te ajudei.
- Aquele arquiteto de uma merda, queria colocar um lustre caro na clínica, ninguém ia ligar pro lustre - lavou o rosto, pegou uma toalha.
Sophia ficou quieta, apenas cruzou os braços.
- Eu deveria ter dormido mais hoje, e não ter acordado com essa crise - bufou - o mundo não está colaborando comigo, não hoje.
Os dois ficaram quietos.
- Me diga uma coisa que não me deixe mais puto do que eu já estou - riu leve encarando a esposa pelo espelho.
- Estou grávida!
O silêncio permaneceu, eternamente.