A REASON FOR ME / hs

08 | Despedaçada

BO

Março, 2015

One month before I had a reason for me

  — MAAAAAAE. — odeio quando mamãe pega meus cremes sem permissão.

— MAAAAAAAAE CADÊ MEU CREME QUE A ELS ME TROUXE DA ITÁLIA? — grito no pé da escada para ver se mamãe consegue me escutar. E é claro que ela não está, ela sempre sai de casa sem avisar.

Vejo um post na geladeira avisando que mamãe saiu de novo com a tia Sophia para um jantar e que volta tarde, que legal, mais uma vez abandona por minha melhor amiga e minha mãe. Mamãe tem andando saindo muito com a mãe da Eleanor ultimamente, diz ela que é para se recuperar do divórcio com o pai da Eleanor, mas já faz anos que ele saiu de casa. E Eleanor está viajando de novo para a casa do seu avô, na Itália, eu sempre ia junto com Els, amava aquele lugar, mas depois do acontecimento eu não consigo nem mais suportar em ouvir o nome da cidade.

Levo um susto quando ouço a campainha, deve ser o Harry, ele tem vindo muito aqui para casa ultimamente, Harry esta passando por alguns problemas que ele não quiz me contar, mas estou dando um espaço para ele, desde então ele passa aqui todas as noites deste semana passada, mas só entra se estiver acompanhado de meu sorvete preferido.

— Bo?

— AÍ QUE DROGA HARRY! - grito com o susto que levei.

— Você não pode ficar entrando assim na casa dos outros hazz, vá que eu estava nua agora. — o repreendo sorrindo depois de ouvir sua risada maravilhosa.

— Desculpa Bo, mas é que eu toquei a campainha e você não atendeu nos primeiros segundos, e a porta estava destrancada, pensei que tivesse acontecido algo. — diz me abraçando carinhosamente.

— Trouxe seu sorvete preferido, qual filme vamos ver hoje? — me arrepio quando seus lábios gelados tocam a pele de meu pescoço com um leve beijo, tento me desfazer do abraço para pegar o sorvete e levar ao congelador, mas Harry me segura ainda meio abraçado comigo enquanto me olha.

— Está tudo bem com você? — sussurra perto de mais, tá ok, tá perto de mais mesmo.

— Estou levemente afetada com você assim tão perto de mim, sabe Harry, preciso de espaço, lembra do nosso combinado? — Sussurro nervosamente.

— Você precisa relaxar Bo, tu sabem que podes confiar em mim, eu estou te ajudando, nunca te machucaria, nunca irei fazer nada que você não queira, se lembra ? Sou eu o seu Hazz, eu amo você.

Harry sempre me diz estas palavras para me tranquilizar quando algo me afeta, alguns meses atrás eu e Eleanor fomos para Itália na casa de seu avô, e decidimos sair escondidos para uma festa de fraternidade que teria na cidade, mas como ainda estamos no ensino médio tivemos algumas consequências quando descobriram a nossa verdadeira identidade, e eu que não era acostumada com bebidas acabei bebada de mais, e acabei na cama de alguém, alguém que eu dizia não em todos os momentos, mas como eu estava quase inconsciente com o tamanho da bebida que eu tinha tomado anteriormente eu não consegui me defender, e foi nesta festa dessa noite que eu me perdi, que eu perdi todas as razões de continuar a viver, foi nesta noite daquele maldito quarto que eu me senti usada e envergonhada, me senti suja. E depois de horas largada como se fosse uma prostituta naquela cama, eu decidi que seria forte o suficiente e me levantaria e iria para casa, e ninguém nunca iria saber sobre o ocorrido.

  Mas não foi isso que aconteceu, no momento que eu voltei para casa, onde Harry, meu melhor amigo me viu, ele sabia que eu não estava bem, ele sabia que eu não estava mais viva e sabia que eu estava perdida, foi uma das piores noites da minha vida, onde eu tive que reviver todo o passado e desabafar para meu melhor amigo, que brigou e gritou comigo, mas depois me abraçou e chorou junto a mim a quase toda a noite, e antes de eu adormecer em seus braços ele me prometeu que me ajudaria, que sempre estaria comigo para qualquer coisa, que agora seríamos ele por mim e eu por ele.

Só percebi que estava chorando quando senti a mão áspera de Harry em meu rosto, tentando secar as misérias lágrimas que eu tinha deixado escapar sem ao menos ter percebido, e quando eu abri meus olhos e lhe encarei carinhosamente, eu me lembrei que era apenas ele, e que era ele que estava ali, ele estava ali por mim e nunca iria embora.

— Obrigada hazz. — sussurro timidamente enquanto me solto devagar de seus braços, indo rapidamente até a sozinha pegando colheres para o sorvete.

— Então vamos estar sozinhos nesta noite, interessante. — lhe olho rapidamente para ver se eu relance escutei aquilo vendo ele ler o post na geladeira que mamãe deixou.

— Harry para de ser pervertido, só em teus sonhos que isso aqui vai acontecer. — digo entre risadas enquanto sinalizo entre nós dois me referindo que não vai acontecer.

                                                                                     
— Mas que porra. — sussurro quando acordo assustada de mais um pesadelo, saio da cama com cuidado para não acordar hazz e vou até o banheiro, dou mais uma conferida nele antes de fechar a porta do banheiro de meu quarto, me encaro no espelho vendo as lágrimas escorrendo de meus olhos e minha cara toda inchada por conta das noites sem dormir e dos choros que vem me acompanhando todos os dias desde o incidente, lavo meu rosto e levo um susto quando o vejo atrás de mim pelo espelho.

Fecho meus olhos novamente, mas desta vez com mais força, e quando ganho coragem de os abrir novamente,  não o vejo mais, mas ainda consigo sentir suas mãos em mim, seus olhos me observando e suas palavras nojentas sussurrando o quão bem eu estava indo.

Encaro a gaveta de minha estante do banheiro onde guardo minha velha amiga, e me lembro que eu prometi que nunca mais faria aquilo novamente, mas eu preciso aliviar essa dor em meu peito, eu preciso aliviar essa sensação nojenta que ainda sinto em meu corpo, preciso matar a voz dele em minha cabeça. Eu só não aguento mais.

E antes que eu posso perceber, eu traço mais uma linha linda de alívio por meu braço, e mais outra, e mais outra, até eu ouvir o barulho da porta sendo aberta brutalmente e escutar meu melhor amigo gritando por meu nome.