16 | Chá Da Vovó

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BO

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BO

  Encaro Harry que se encontra encostado na obreira da porta do corredor que dá acesso á garagem, mas viro rapidamente para o armário pegando o chocolate e já aproveitando para colocar a chaleira no fogo para fazer mais um chá.

Quando eu era menor, minha avó sempre dizia que o melhor remédio para a gripe era os chás, lembro que todas as férias de inverno eu e mamãe íamos até sua casa no interior da fazenda para aproveitar os tempos que eu tinha de liberdade, e eu aproveitava tanto que sempre acabava ficando resfriada semanalmente, e todos os dias antes de dormir, minha avó entrava em meu quarto com uma xícara de chá, se sentava ao meu lado na cama e contava suas histórias maravilhosas até eu adormecer.

  Suspiro tristemente com o sentimento de tristeza misturado de saudades que me domina sempre que penso em meus avós, e em todas as memórias felizes que eu tinha de minha infância, até meu pai resolver nos abandonar.

— Você quer? — pergunto observando a chaleira começar a chiar.

— Só se você não colocar limão. — sorrio me recordando de como ele odiava quando colocava limões nos chás, mas eu sempre colocava somente para o provocar.

  Sinto seus olhos em mim a cada movimento meu enquanto preparo nossos chás, quero perguntar porque ele não foi junto com os meninos, o porque que ainda está aqui, e porque que ele está tão silencioso, quando sei que ele não consegue ficar calado por um minuto se quer.

  Mas me contento com o seu silêncio e observo quando me segue até a sala e se senta ao meu lado, entrego a xícara à ele e me acomodo ao seu lado puxando uma manta para me cobrir, concordo com a cabeça quando ele pergunta se quero assistir a nova temporada de The Walking Dead.

Me pego esboçando um mínimo sorriso enquanto observo seu entusiasmo ao ver que ainda acompanho a série, é estranho de se pensar que assistíamos somente com a companhia um do outro, mas tudo mudou quando ele foi embora também, eu continuei assistindo depois de meses me negando acreditar que um dia estaríamos fazendo a mesma coisa, e aqui estamos nós, a Bo de antigamente se mataria rindo se pensasse nesta cena acontecendo como acontecia no passado.

— Porque você ficou? — tenho vontade de me socar quando percebo de falei em voz alta.

— Só queria a sua companhia, independente de onde você estivesse. — me reponde concentrado na TV, suspiro decidindo-me desistir de ter esta conversa. — Este chá me recorda muito da sua avó, sinto saudades dela e de suas histórias loucas. — Rio.

— Sim, aprendi muito com vovó sobre chás e seus benefícios. — digo sorrindo.

— Você sente falta dela? — pergunta e o olho rapidamente de lado, concordo com a cabeça em afirmação à sua pergunta.

— Sinto saudades de muitas coisas do passado, mas aprendi muito a tentar guardar estes sentimentos e só pensar nos momentos bons, vovó sempre dizia para nós não ficar sempre repetindo bater no teclado do passado. — sinto-me corar quando observo que sua atenção se virou diretamente para mim agora.

— Você quer falar sobre isso, ou pretende ainda ficar fingindo que nada aconteceu? — Harry dispara em minha direção.

— Eu não fico fingindo que nada aconteceu Harry, as coisas só mudaram muito de uns tempos para cá, nós mudamos e ficamos adultos, estamos em uma faculdade logo nos formando nas profissões que escolhemos exercer. — digo baixo.

— Você ainda esconde os doces das pessoas, não é como se muita coisa em você tivesse mudado. — vejo seus lábios formando um sorriso de canto.

— Quer parar de ser um retardado? — suspiro em irritação e me viro de frente para encarar seus olhos que me observam.

— Eu senti muito a sua falta, em todos estes anos que eu fiquei longe, não teve um dia que eu não pensei em você Bo. — fala tranquilo.

— Isso não é verdade. — contra ataco lhe observando.

— Sim é verdade, e quando eu finalmente tomo a coragem de voltar por você, você está comprometida com o Noah. — diz ríspido.

Fico em silêncio tentando entender as suas palavras, tentando entender o porque que ele foi embora e porque que ele voltas-te, sinto sua mão acariciar meu rosto e suspiro em derrota.

— Não sou comprometida com Noah, a gente só tem uma ligação forte. — sussurro.

— Você partiu meu coração no primeiro dia que nos vimos na faculdade. — sussurra.

— Você partiu meu coração à três anos quando me deixou esperando por você naquela calçada. — rebato lhe encarando.

Sinto sua postura amolecer após absorver minhas palavras frias, porém mais verdadeiras não existem, não adianta ele voltar depois de anos e achar que ainda serei a mesma que ele tinha ao seu lado.

Harry leva um susto com o som de tiros que vem da TV, e sorrio encarando a tela e vendo Rick correndo em direção as casas enquanto o condomínio está sendo atacado por Negan.

— Eu amo essa parte! — digo animada.

— Pera aí, você já assistiu a este episódio? — Harry me olha com o cenho franzido.

— Já assisti a temporada toda na verdade. — sorrio sem jeito em sua direção, mas me acalmo quando observo seu sorriso divertido em minha direção.

— Sua atrevida. — sussurra enquanto se vira em direção a televisão prestando atenção novamente na série.

Perco o ar quando sinto seu braço passando por trás do meu pescoço e descansando ao encosto do sofá, perco ainda mais o ar quando sinto sua outra mão pegando na minha e fazendo leves carinhos, suspiro derrotada e me rendo somente mais esta vez à ele, e decido colocar a culpa toda no meu cansaço e no meu resfriado.


   Acordo assustada quando escuto um barulho vindo da cozinha e risadas altas logo sendo sustentadas por longos "xiiiiiiiiiiu" vindo do Niall, acredito. Olho de relance para o relógio e vejo que são três horas da madrugada, resmungo em protesto por ter acordado esta hora e me ajeito na minha cama quentinha, mas paro assim que percebo que eu não vim para a cama mais cedo, e me recordo que adormeci no sofá assistindo série com o Harry.

Tento abrir os olhos quando a porta do meu quarto se abre e vejo um corpo se aproximando da minha cama, fico em transe observando Harry erguer os cobertores e se acomodar ao meu lado, virando de frente para mim.

— Volta a dormir, os meninos chegaram e estavam fazendo muito barulho, desci pra beber água enquanto mandava eles ficarem quietos para não te acordar. — esclarece.

— O que que você está fazendo na minha cama? — é a única coisa que consigo dizer com raciocínio enquanto fecho meus olhos de sono.

— Estou dormindo, não ia me deixar dormir naquele sofá horrível ia? — pergunta e eu abro apenas um olho para lhe observar, suspiro e viro de costas murmurado que apenas ele não se passe comigo, consigo apenas escutar seu riso baixinho enquanto me abraça e sussurra para mim dormir.

A REASON FOR ME / hsOnde histórias criam vida. Descubra agora