Cinco

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Holmes Chapel, 2010

Harry

A loja está lotada. Nunca vi tão lotada assim, pra falar a verdade. Carl entregava os cd's que estavam no balcão na mão das pessoas com as fichas numeradas. Becca pegava a ficha de volta lá na porta antes das pessoas saírem. E eu estava praticamente enlouquecendo naquele caixa.

- Infelizmente esgotou pessoal. Vamos repor amanhã, prometo - essa é a frase que as cerca de trinta pessoas não queriam ouvir.

- Não tem mais nenhunzinho ? - uma mulher perguntou, alimentando a pequena esperança que habitava nela. Pobre coitada.

- Não, sinto muito - Sr.Lance fez uma carinha triste, e as pessoas começaram a ir embora, sem o cd. Depois de atender a última pessoa e fechar o caixa, olhei a hora e já passava das 17h - Caixa fechado ?

- Sim Sr.Lance

- Você trabalha aqui há dois anos e continua não me chamando de Carl. Me poupe Harry Styles - ele se abaixou e da prateleira escondida tirou três cd's lacrados.

- Você escondeu esses ? Mas vê se pode - Becca colocou a mão na cintura e encarou ele.

- Um pra cada - ele sussurrou e nos entregou - E claro, um pra mim porque trabalho igual corno e mereço. Já vou ouvir e dar umas reboladas ao som de Lady Gaga. Harry, feche a loja e seja feliz, resto do dia de folga - ele levantou os braços e deu um remexida com o quadril.

- Pelo amor de Deus que visão horrível - tapei os olhos e ele me acertou com a bengala.

- Respeita seu velho, garoto abusado. Eu era dançarino da sua idade. Você não consegue nem mexer o quadril sem parecer uma salsicha.

Becca deu uma gargalhada tão alta que fez eco na loja. Ela ria tanto que por um segundo pude ver uma lágrima saindo dos olhos dela.

- Ei, não é assim também vai

- É sim Harry. É muito assim - ela continuava rindo, junto com Carl. Esses dois só podem ter um complô conta a minha pessoa.

- Vou fechar a loja - esbravejei e pude ouvir a risada de Becca ficar mais alta e descontrolada. Ela realmente não estava conseguindo segurar o riso. Terminei de ajeitar os discos e cd's que as pessoas tinham bagunçando, varri o chão e tirei o dinheiro vivo do caixa, colocando no cofre escondido. Tranquei todos os compartimentos importantes, como armários e essas coisas todas, e por fim, tranquei a porta de vidro, abaixando a cobertura de metal. Becca me ajudou a trancar e eu guardei a chave na mochila.

- Salsicha - ela sussurrou e deu risada sozinha. Se bem conheço, vai rir disso por uns dois dias seguidos.

- Hambúrguer ? - olhei sugestivo e ela concordou, agarrando meu braço. Enquanto descíamos a rua em direção à nossa lanchonete favorita, algumas pessoas -em grande parte idosos- nos cumprimentavam animados. As velhinhas daquela cidade são muito fofoqueiras, se a gente parar pra ouvir elas contam a vida até do falecido esposo da prima da sobrinha do fulano que se mudou da cidade há vinte e cinco anos.

- Robin foi um anjo na vida da sua mãe, sabia ? - Becca interrompeu o silêncio confortável que estava entre nós.

- Eu sei. Eu só quero que ela seja feliz. Quase doze anos e meu pai nunca apareceu. Nunca mandou nem uma carta dizendo que esta vivo. Nada.

- Ele não merece que você fique triste por isso - as vezes eu acho que ela lê meus pensamentos, mas lembro dos anos de amizade e me dou conta de que é só porque ela me conhece muito bem.

- Eu não fico. Mas minha mãe e minha irmã ficam, e isso me deixa puto de raiva. É mais forte que eu.

- Você tem um pai novo agora. Que ama vocês. Que tipo de padrasto ensina a tocar violão ? Nenhum.

Heaven | h.s |Onde histórias criam vida. Descubra agora