Capítulo 8

77 6 0
                                    

- Que merda aconteceu com seu rosto, Clary?- Daniel perguntou entre dentes, mas seu olhar estava em Jack.

Abri a boa para tentar acalma-lo, mas Dani não me deixou responder.

- Qual é o seu problema?-Desta vez a pergunta foi direcionada ao garoto a minha frente. Daniel o empurrou pelos ombros, fazendo-o cambalear um pouco para trás. Jack tinha um sorriso sem vida no rosto, parecendo gostar daquilo tudo.

- A culpa não é minha se sua namoradinha não sabe nada de combate corpo a corpo- Ele disse dando de ombro, rindo fraco. Seu comportamento irritou ainda mais Daniel, que o empurrou novamente.- Qual é Clark?! São só uns leves hematomas.

Me virei indignada para ele, que me ignorou. Como ele podia dizer aquilo? Minhas costelas doía a cada passo que eu dava, minha cabeça latejava. Não era apenas " leves hematomas".

E eu não era a "namoradinha" de Daniel.

- Eu vou quebrar sua cara- Daniel ameaçou, indo para cima de Jack. Entrei no meio dos dois antes que Daniel acertasse seu punho fechado na cara do outro.

Qual era o problema deles?

- Daniel, não faça isso- O encarei e senti Jack se aproximar por trás. Supliquei silenciosamente para Dani parar com aquilo e deixar pra lá.

-É Daniel, acho melhor ouvir sua garota- Senti o hálito de Jacob bater em meu ouvido. Não precisei olhar para ele para saber que tinha um sorriso debochado nos lábios e que seus olhos brihavam de divertimento. Respirei fundo, segurando Daniel mais uma vez para não dar na cara de Jack.

-Daniel, não vale a pena- Comecei a puxa-lo pela manga da blusa, tentando o arrastar para longe dali. Eu não queria que os dois brigassem por algo que deveria ser normal entre os alunos do Instituto.- Vamos, por favor.

Daniel olhou mais uma vez para Jack, que desta vez o fuzilava com o olhar e tinha a mandíbula travada. Por fim pegou sua bolsa no meio do caminho e me conduziu ate o carro. Daniel deu partida, saindo cantando pneu do estacionamento.

Aquele havia sido só o primeiro dia de aula.

Ele costurava os carros a quilômetros acima do permitido, e me segurei na porta. Daniel estava irado, apertando o volante tão forte que os nós de seus dedos chegavam a ficar brancos.

- Dani, por favor...- Sussurrei quando fez uma ultrapassagem perigosa e meu coração quase pulou pra fora. Ele olhou para mim, e percebendo que eu estava assustada com tudo aquilo, decidiu parar o carro no estacionamento da pista e um silêncio se instalou dentro do veículo. Ele, perdido em pensamentos, enquanto eu não sabia o que fazer.

Eu não o tinha visto tão irado assim antes, não por algo tão besta. Arranhões e roxos eram naturais quando se treinava no Instituto. Quando me inscrevi para entrar, sabia das consequências. Por um momento a ideia que havia mais naquele ódio do que meus machucados me ocorreu.

Pensei em falar algo, mas tomei um susto quando Daniel deu um murro no volante.

- Aquele babaca- Sua voz era grave e rouca. Ele fitava o nada, remoendo a briga de minutos atrás.

-Dani, está tudo bem.- Coloquei minha mão em seu braço, cautelosa. Ele precisava se acalmar, ou iríamos morrer antes de chegarmos em sua casa.- Não foi nada de mais.

- Você não entende, Clary.- Falou e quis contesta-lo, mas só iria o irritar mais. Aquilo só confirmou meus pensamentos. Havia mais naquele odio e naquela discussão entre eles.

Depois de alguns minutos, Daniel deu novamente partida no carro, parecendo estar mais calmo. Quando chegamos em casa, ele foi para seu quarto sem dizer uma palavra se quer, e dicidi fazer o mesmo.

Tomei um banho. Eu estava exausta. Antes de entrar de baixo do chuveiro me olhei nua no espelho. Em minha barriga, sobre as costelas, estava um hematoma roxo. Assim que sai, me vesti com roupas leves e entrei debaixo das cobertas. Eu não estava com fome, então não iria jantar.

Deixei meus pensamentos vagarem para a quadra de treino e para meu fracasso ao ser derrotada por aquela garota. Não havia sido uma luta justa, mas eu sabia que tinha vantagem ali. Jack não havia facilitado para mim. E por que faria, afinal?

Ele estava muito diferente da primeira vez que o vi, totalmente o oposto, pra falar a verdade. Aquela carranca em seu rosto não me dava medo, apesar de me intimidar as vezes. Sua expressão era tão fria como o gelo, mas eu sabia que por debaixo de toda aquela atuação, havia um garoto amoroso e gentil.

Depois de algum tempo me revirando na cama, ouvi alguém bater na porta. Minha mãe entrou logo em seguida, segurando uma xícara com um liquido quente.

- Você está bem, filha?- Ela se sentou ao meu lado e ligou o abajur. Minha mãe não ficou surpresa com meus hematomas no rosto. - Você não desceu para jantar. Fiquei preocupada e Daniel me contou o que houve.

- Eu estou bem, mãe- Me sentei na cama, segurando um gemido por causa da dor. Ela me ofereceu a xícara que continha chocolate quente.- Só estou muito cansada e sem fome.

- Entendo- Falou fazendo carinho em meu cabelo antes de suspirar profundamente e abaixar a mão, parecendo perdida em pensamentos.

- O que foi?- Perguntei depois de engolir um pouco de chocolate quente. Ela estava estranha.

- Você é tão parecida com seu pai. Ele também saia com o olho roxo de vez em quando- Riu no fim da frase, em meio a lembranças. Fiquei contente com aquilo, pois minha mãe raramente falava do meu pai comigo. Ali senti que ela estava pronta para se abrir um pouco mais sobre isso.

- Pensei que ele fosse bom em tudo- Disse, percebendo que sua estranheza vinha de seu olhar nostálgico, coisa que ela raramente carregava nos olhos. Ela me contara que ele, além de ser um " galã", era também muito inteligente. Se saia bem nas atividades do campus e chamava muita atenção por isso. Esse pensamento me lembrou de Vicky falando dos " 3 Top". Meu pai teria feito parte desse grupo, no lugar de Dani?

Sorri com esse pensamento.

-E era. Mas também era muito brigão- Começou- Sinceramente, não sei como ele não foi expulso. Ele vivia na detenção por isso, fazendo trabalhos pelo Instituto. Foi assim que nos conhecemos- Ela fitava o nada. Completamente perdida no passado. Meu coração se alegrou ouvindo ela contar. - Estava pronta para ir embora depois da aula, mas de repente minha bexiga apertou e tive que ir ao banheiro. Quando sai da cabine me deparei com ele ali. William estava trocando as lâmpadas, como punição por ter entrado em uma briga no refeitório. Tomei um susto, óbvio, ele estava no banheiro feminino.

- Meu Deus!- Exclamei rindo, imaginando aquela cena. Minha sorriu me acompanhando.

- Desde aquele dia não nos desgrudamos mais. Assim que terminamos nossos cursos, nos casamos e ficamos morando aqui em Nova York. Até.. - Ela parou de falar, o sorriso em seus lábios morrendo aos poucos. Pude ver dor em seus olhos da lembrança triste de ter perdido meu pai.

-Ei, mãe. Tudo bem- Coloquei a xícara no criado mudo e peguei suas mãos, a fitando. Queria saber sobre meu pai, queria muito, porém odiava ver minha mãe triste. Sempre dizia que ela havia sido feita para sorrir, não chorar, já que ficava toda miúda e paralisada quando chorava.

- Apesar de ter se passado 18 anos, é incrível como eu ainda o amo.- Seus olhos estavam úmidos.

Esperava um dia encontrar um amor tão profundo e intenso quanto o deles.

- Apesar do fim da guerra- continuou, tentando ser forte por nós duas.- Ainda estava tendo alguns confrontos na fronteira de Aslan. Seu pai foi convocado. Lembro-me do dia que nos despedimos. Fazia 2 semanas que tínhamos descoberto que eu estava gravida, e ele beijou minha barriga, que ainda não tinha crescido se quer um centímetro, dizendo que nos amava tanto. William me apertou forte, como se soubesse que seria nosso ultimo abraço.

Sua voz já estava embargada e as lagrimas não a deixaram falar mais.

-Ah, mãe- A abracei forte, consolando-a.

*                               *                                  *

Até o próximo!!

Não esqueçam de votar e comentar o que estão achando ;)

Guerra E AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora