Capítulo 14

67 6 0
                                    

- Não posso me afastar alguns minutos e já se mete em confusão?- Ergueu as sobrancelhas, aparentemente bravo. Ergui as mãos em sinal de rendição. Ótimo. Agora a culpa era minha, como sempre.

- Talvez se me deixasse lidar com meus problemas, não teria que fazer nada- Voltei minha atenção para o trabalho que estava fazendo, tentando ignorar sua presença. Jack pegou outra inchada que estava perto de nós, começando a me ajudar a limpar um canteiro.

- Para que? Para ficar com a cara marcada de novo?!- Resmungou. Mordi minha língua para não responde-lo com uma resposta afiada, me segurando para não pular em seu pescoço e estrangula-lo. Por que ele tinha que ser tão irritante?

Afinal, eu ter ficado com o rosto marcado foi, tecnicamente, culpa dele. Ele era meu instrutor, ele quem escolheu minha adversário para o combate corpo a corpo.

-Não sei o que é pior. Um tarado ou um robo frio- Balbucie depois de um tempo, perdida em meus pensamentos.

Jacob era sempre tão inflexível. Sempre com a expressão fria, a voz grave e a postura rígida. Odiava como sua altura e seus músculos traziam um ar de poder, de força. Me segurei para não revirar os olhos. A quem eu queria enganar?!

Sua áurea grande era o que mais mexia comigo, além de seu perfume e olhos que não correspondiam com seu rosto. Diferente da frieza que sua carranca sempre carregava, seus olhos estavam sempre intensos, cheio de várias emoções. Eram tantas que eu não conseguia entender se quer uma. Jacob parecia estar constantemente enfrentando uma luta dentro de si.

- Como é?!- Parou o que estava fazendo, me fitando. Jack tinha ouvido. Maravilha!

- Eu disse que você é um chato- Não consegui segurar minha língua. Ele fechou a cara, seu rosto escurecendo, mas não dei bola. Sabia que ele não tentaria me bater como tinha ameaçado Duncan a minutos atrás. Mesmo não devendo, eu confiava nele.

- A culpa não é minha se você não sabe se defender.

- Talvez então você devesse me ensinar, em vez de ficar se agarrando com outras garotas por aí e só me criticar- Retruquei, não aguentando mais me segurar. Jacob parecia ter o poder de me tirar do sério. Ele passou a mão nos cabelos preto, tentando se controlar a minha audácia.

Ele respirou profundamente.

- Certo- Jogou a inchada para o lado, ignorando o fato de eu ter citado o flagra que tinha dado nele. Ergui uma das sobrancelhas, não o entendo.

Jacob puxou para cima as mangas da camiseta fina que vestia, revelando seus músculos e alguns cortes já cicatrizados. Também soltei a inchada, indo parar na sua frente.

- O que são esses cortes?- Murmurei apontando com a cabeça na direção de seus braços. Odiava ser tão curiosa.

- Treino corpo a corpo com faca- Não encontrei nenhum sinal de irritação pela pergunta em seu tom de voz. Eu não esperava que ele fosse me responder, no fim. Apenas confirmei com a cabeça, a ficha caindo de que o garoto a minha frente na verdade era um homem treinado para a guerra.

- Tem certeza disso?- Perguntei desconfiada, voltando a prestar atenção em nossa conversa. Jacob assentiu colocando o seu pé de apoio na frente do corpo, erguendo os punhos fechados.- Você não vai me machucar, não é?

- Não mais - Atacou em minha direção antes que eu pudesse questiona-lo sobre o "mais" da frase, mas ele já estava a poucos centímetros de mim.- Arrume a postura- Ordenou, tentando atacar minha cabeça. Ele teria conseguido acertar, mas parou no meio do caminho.- Você é muito lerda.

- Ahn, obrigada?!

- Você tem que analisar seu oponente quando bater o olho nele. Prestar atenção em seus movimentos e pensar em quais serão os próximos.

Mordi o lábio inferior, me arrependendo de ter pedido ajuda. Aquilo parecia muito difícil para mim.

-Ok. De novo. - Pedi.

Nos posicionamos um de frente para o outro. Tentei seguir seu conselho e o analisei em alguns segundos. Jack era mais alto, musculoso e em seus olhos azuis havia a confiança de que sabia o que estava fazendo. Meus olhos demoraram ao passar por suas coxas firmes, em seguida pelos braços grossos.

Respirei fundo, tentando encontrar ar e me focar na luta.

Claramente eu estava em desvantagem ali. Eu não iria ganhar aquela luta, mas poderia adiar o fim. Ele veio em minha direção, com os punhos fechados. Percebi que iria me dar um soco com a mão direita, então desviei a tempo de acertar.

-Perfeito!- Me passou uma rasteira em seguida, me pegando de surpresa. Ele me segurou pelos ombros para não cair no chão, seu rosto muito perto do meu. - Só esqueceu que uma luta não se baseia em apenas um golpe.

Engoli em seco, com a noção do quão próximo estávamos. Eu podia sentir seu coração batendo rápido por cima da camisa, o cheiro de lavanda com limão mais forte do que nunca. Encarei por alguns segundo seus olhos azuis, me perdendo neles aos poucos. Acordei do transe quando ele me colocou de pé novamente, desviando o olhar do meu. Pude ver o fantasma de um brilho estranho em seus olhos.

-Voltem ao trabalho!- Rupert gritou de longe. Ri fraco, pegando a inchada do chão e balançando a cabeça para me livrar daqueles pensamentos estranhos. Enquanto trabalhava, ainda sentia a adrenalina correr em minhas veias e meu coração bater acelerado, consciente a todo momento da presença de Jacob ao meu lado.

Não demorou muito para terminarmos o serviço. Como estava toda suja de terra, a primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi entrar de baixo do chuveiro. A cada gota que caia em meu corpo, um pouco do cansaço ia me deixando. Assim que terminei de me vestir, desci para jantar. Estavam todos na mesa.

- Como foi hoje, queria?- Minha mãe perguntou. Me servi, fazendo um verdadeiro prato de pedreiro. Eu tinha que parar com aquilo ou logo estaria um botijão.

-Bom. É como sempre pensei que seria. As aulas são fantásticas- Respondi animada.

- Só não contava com a detenção, não é?- Steve perguntou. Confirmei com a cabeça, me lembrando de Jacob e o ocorrido mais cedo na detenção.

Definitivamente, eu não esperava aquilo. Ainda mais na primeira semana de aula, ou no primeiro mês. Sabia que a propensão de acontecer coisas ruins comigo era grande, mas desta fez o destino estava de parabéns.

- Eu não a culpo. Teria dado um tapa na cara do menino também- Denise comentou antes de engolir um pouco do seu vinho tinto, e não consigui segurar o sorriso que se formou em meus lábios. Denise ganhou mais um ponto, dos vários que ela já tinha, comigo. Conversamos mais um pouco até terminarmos o jantar.

- Posso falar com você, Clary?- Daniel perguntou enquanto me levantava da cadeira. Assenti, curiosa, me lembrando que de manhã havia dito que talvez teria uma surpresa para mim.

Ele me conduziu para uma pequena biblioteca da casa. Era um espaço com prateleiras de livros que ia do chão ao teto. Em um dos cantos havia um piano de calda preto e tinha algumas poltronas e mesas espalhadas pelo lugar.

- Qual a novidade?- Perguntei, não conseguindo conter mais a curiosidade em mim.

- Um dos coordenadores do campus me devia um favor- Daniel sentou no braço de uma das poltronas que tinha ali. O olhei confusa, não o entendendo ainda. - Pedi que mudassem você para o meu grupo de treino.

- E então?- Perguntei, sentindo meu coração bater acelerado. Daniel havia dito que iria dar um jeito para me afastar de Jacob. Era aquilo.

- Você é minha aluna a partir de amanhã- Ele confirmou.

*                                *                                   *

Daniel, Daniel...

Até!!

Guerra E AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora