Capítulo 59

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Os dias passaram mais rápido do que eu esperava...

Como em um dia comum para minha nova rotina, acordei antes que o sol brilhasss no céu. Tomei um banho rápido, vesti minha roupa esportiva, e saí porta a fora silenciosamente para não acordar minha mãe. Coloquei os fones de ouvido, sentindo as vibrações sonoras tomarem conta de mim e uma animação sádica me preencher.

Eu corri por entre as ruas até uma dor dilacerante me atingir nas pernas e barriga. O suor escorria por minha espinha e rosto, mas não me importei com aquilo. Meu coração batia rápido quando entrei dentro de casa, peguei uma maça no meio do caminho e subi para meu quarto.

Dei apenas uma mordida na fruta antes de entrar novamente debaixo do chuveiro. A água levou o odor e o suor com ela, mas foi apenas isso. Sentia meus músculos tensos e doloridos ainda.

Não importava.

Me arrumei para o Instituto em poucos minutos, vestindo algo largo e escuro.

Meus olhos arregalaram surpresos ao ver Daniel me esperando perto da porta. Nos últimos dias eu tinha ido ao Instituto sozinha, sem espera-lo. Eu estava o evitando junto com seus sermões e olhares preocupados. Eu, sinceramente, não precisava disso.

- Estou surpresa em encontra-lo aqui- Sorri, me controlando para não gritar com ele. Eu ainda o culpava, mesmo que minimamente, por ter escondido a verdadeira face dos acontecimentos.

- Hoje você não vai conseguir fugir de mim- Retribuiu o sorriso irônico, com certeza também querendo gritar comigo por todos os atos idiotas que vinha cometendo.- Já tomou café?

- Claro- Passei por ele sem olha-lo nos olhos, querendo distância. Entrei em seu carro antes que pudesse falar algo e permaneci em silêncio até chegarmos ao nosso destino.

- Clary...- Começou, me impedindo de sair do veículo ao segurar meu braço com força. Daniel respirou fundo, tentando acalmar seus sentimentos e pensamentos. Ele me analisou com seus olhos verdes calculistas, ponderando se deveria dizer as próximas palavras.

Meu sangue gelou.

Não, não, não!

Eu deveria ter suspeitado que algo estava errado no momento que o vi em minha porta a minutos atrás. Eu estava o ignorando por dias, mas em nenhum momento ele tinha ido me buscar em casa. Jack...

- Ousa...- Antes que pudesse terminar de falar, me livrei de seu toque e saí apressada do carro. Caminhei em passos rápidos até perceber que estava correndo em direção ao mural que haviam feito no hall do Quartel General.

Eu não podia o perder.

Não podia.

Mesmo que tivesse preparado minha mente incontáveis vezes para o momento em que receberia a notícia de sua morte, ainda era doloroso. Mesmo que eu não quisesse aceitar, pela primeira vez considerei a idéia de que realmente Jacob já não respirava o mesmo ar que eu, que seu coração já não batia.

Senti a bile subir, mas engoli, não deixando meus sentimentos virem a tona mais do que já tinham. Meus olhos percorreram rapidamente a lista de nomes que estavam no cartaz. O título era sobre os heróis honrados que haviam perdido a vida defendendo o nosso país. Meu olhar passando sobre os vários nomes conhecidos.

- O nome dele não esta aí- Ouvi a voz ofegante de Daniel, o que indicava que havia corrido atrás de mim, antes de o ver. Alívio me tomou por um momento. Isso só significava uma coisa; Ele ainda estava vivo.

Eu passara quatro semanas olhando para aquele mural inúmeras vezes. Procurando seu nome, rezando silenciosamente para que não o achasse. Em menos de 3 dias o nome de Linda Noah estava la, acompanhado de uma foto que provavelmente havia sido tirada quando estava oficialmente se alistando para a guerra. Seus cabelos castanhos, antes muito bem cuidados, estavam agora uma bagunça e abaixo de seus olhos sempre desafiadores, grandes olheiras permaneciam.

No cartaz não falava como os soldados haviam morrido, mas eu esperava que ela tivesse tido uma morte rápida e indolor. Era difícil pensar que Linda havia morrido, pensar que nunca mais a veria. As lembranças de como sempre a via grudada a Daniel, ou sentada em uma das mesas do refeitório, pareciam distante.

Tudo parecia ter acontecido a uma década, e nada voltaria a ser como antes.

- O que é, então?- Me virei para Daniel, escondendo toda a confusão que havia dentro de mim com um olhar entediado. Ele respirou fundo, passando as mãos no cabelo em exasperação.

- Você não esta comendo direito, Clary, e sabe que esta perdendo peso. Suas roupas largas não escondem isso. Você mal conversa comigo, ou com Victória. E, sinceramente, não estou te reconhecendo mais.- Daniel se aproximou de mim cautelosamente, seus olhos transmitindo tanto amor.

- Isso é bobagem! Olha, eu preciso ir para a aula agora- Desconversei rispidamente. Tentei passar por ele, mas Daniel me parou com seu corpo.

- Todos nós estamos sofrendo, Clarissa. Todos nós perdemos e ainda estamos perdendo pessoas que nós amamos. Estamos nesse barco juntos, então, por favor, não se afunde sozinha- Me surpreendi com seus olhos marejados, suplicantes. Eu podia ver dor, angústia e mágoa. Ele estava preocupado comigo, eu sabia, o que tornava tudo pior.

- Daniel...- Desviei o olhar do seu, sem nada para dizer. Eu não podia fazer nada, não queria fazer. Sabia que me arrependeria amargamente dos meus atos futuramente por estar o afastando de mim, mas até lá eu esperava já ter aprendido a sufocar este sentimento também.

Meu melhor amigo me lançou um último olhar preocupado antes de se afastar, me permitindo passar e sair daquele prédio. Respirei fundo, tentando levar ar aos meus pulmões, e olhei para o céu que refletia o humor das minhas últimas semanas.

Cinza. Nublado. Frio.

Caminhei ate minha sala revisando o conteúdo das últimas aulas para ocupar a mente. Desde minha decisão sobre estudar para não morrer, eu ficava horas com a cara enfiada nos livros e em minhas muitas anotações. Quando não estudava para as provas no papel, eu treinava, socando o tronco da árvore no quintal atrás de casa, reprimindo as lembranças que a mesma trazia. Lançava facas e praticava golpes.

Em poucos dias eu já era a melhor aluna da sala, e da turma de Daniel. Assim como Victória, muitos outros alunos foram relocados de treinador. Quando meu instrutor me colocou em uma luta livre contra a primeira garota que tinha me nocauteado no primeiro dia de aula, eu não tive misericórdia. Daniel teve que me segurar para não quebrar mais partes do corpo dela além  do nariz.

Eu não me arrependi após a luta, mesmo depois de horas de sermão de Clark, e aquilo me assustou. Eu estava agindo tão friamente, que estava realmente me me tornando fria. Aquilo me incomodou por alguns dias, ate eu me conformar que não me importava.

Sentir nada era melhor do que sentir a dor que minha alma quebrada causava. 

*                                 *                                  *

Coitada da Clary :(

Até quinta!!

Guerra E AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora