Capítulo 64

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Acordei me sentindo desnorteada. Eu estava enjoada, com um grande mal estar. Abri os olhos e olhei para os lados, não me surpreendendo ao notar que estava na enfermaria do Instituto. 

-Você acordou-Daniel disse se aproximando da maca na qual estava deitada. Ele sorriu para mim, contente por me ver de olhos abertos.

Então me lembrei do treino mais cedo.

Eu estava correndo e a tontura me invadiu. Me senti zonza, e engoli a bile que subiu queimando por minha garganta. Eu não comia nada desde o dia anterior e meu estômago estava vazio. Pontinhos pretos começaram a aparecer em minha visão, meus músculos a formigarem, e senti-me caindo em direção ao solo. Depois daquilo, eu não vi mais nada. 

Enquanto estava desacordada, minha mente me levou para os acontecimentos da manhã, quando estava na calçada de casa, pronta para ir ao Instituto mais uma vez sozinha e a pé.

-Clary!- Ouvi uma voz feminina me chamando ao longe. Olhei para a direção da voz, vendo Jane correndo até mim desesperadamente para me alcançar. Ela parou a minha frente, apoiando as mãos nos joelhos para tentar recuperar o fôlego.

-A quanto tempo- Disse, sentindo as palavras amargas em minha boca. A última vez que tínhamos nos encontrado havia sido no almoço em família na minha casa, assim que saí do hospital. Jacob ainda estava entre nós. 

Olhando para Jane, as lembranças daquele dia me invadiram com força. Eu vinha tentando reprimir todas as memórias e sentimentos em relação a ele, uma saída que encontrei para não sofrer tanto. As vezes dava certo, as vezes não. Mas ali, olhando para a mulher que era tão parecida fisicamente com ele, foi inevitável não lembrar de alguma lembrança.

Aquele dia, logo após todos irem embora, Jack havia me levado para passear, se declarado para mim enquanto balançávamos no parque e me segurado firme em seus braços. Me perguntava se ali ele já sabia que iria para a maldita guerra.

-Como você está?- Jane perguntou após se recuperar da corrida, analisando-me com aqueles olhos de piedade no qual todos me dirigiam ultimamente. Sabia que estava reparando nas minhas grandes olheiras, causadas por noites mal dormidas, na minha magreza e palidez. Mas eu não me importava.

-Estou indo- Forcei um sorriso, não me lembrando qual havia sido a última vez em que dera um riso verdadeiro. 

Jane também parecia abatida. Jacob era seu irmão mais novo, ela o criara como um filho logo depois que a mãe de ambos morreram e Ashton os abandonara. Sabia o que estava passando, a cada semana, dia e hora, esperando a notícia de que ele enfim havia nos deixado. Quis perguntar sobre Scott, Ash e Liliana, como a menininha estava lindando com a ausência do tio, mas não abri a boca. Eu não queria sentir mais tristeza. 

-Está sendo tempos difíceis para todos- Colocou uma das mexas do meu cabelo atrás da minha orelha, dando um sorriso que não chegava aos seus olhos azuis. 

Eu sonhava com olhos tão parecidos quase todas as noites. Tinha pesadelos e acordava gritando a maioria das vezes, sentindo meu coração apertando forte no peito. Samanta sempre acordava e ia correndo me socorrer na cama, limpar minhas lágrimas e me ninar como fazia quando eu era pequena. Devido aos sonhos conturbados, os olhos cansados de minha mãe não estavam tão diferentes dos meus.

-O que veio fazer aqui?- Decidi ser direta, confusa com sua aparição depois de tanto tempo. Jane tirou um envelope de sua bolsa, segurando-o tão firme que os nós de seus dedos ficaram brancos.

- Com tantas semanas de guerra, Jacob nunca havia nos escrito qualquer carta.- Meus olhos foram para o papel a sua mão, buscando não interpretar de forma errada o que ela estava tentando me dizer. - Bom, ontem o carteiro nos entregou duas cartas vindas de Aslan.

Meu sangue gelou e senti meu coração perder uma batida. Como...

Por que agora?

-Uma carta era para minha família. Para mim, meu pai, Scott e Liliana. A outra...- Estendeu o envelope em minha direção, para que eu o pegasse. Encarei o papel, não sabendo o que fazer ou como lidar com aquilo.

Ergui automaticamente minha mão, que tremia, e peguei a carta; a carta de Jacob, sem saber se aquela era a atitude sábia a ser tomada. Indagações preencheram minha mente, tantas que por um momento senti uma pontada forte na cabeça. 

-O que.. o que ele dizia na sua?- Criei coragem para perguntar. Minha voz saiu falha e fraca, e engoli o bolo de emoções que se formava em minha garganta. 

-Que sente nossa falta e está bem, apesar de tudo.

Confirmei com a cabeça, encarando mais uma vez o papel em minha mão. Fiquei tanto tempo ali, encarando a carta sem reação alguma, que mal percebi Jane se distanciando e me deixando sozinha com meus pensamentos.

Decidi por fim guardar a carta no bolso de trás do meu jeans, sabendo que não tinha força e nem coragem para ler o seu conteúdo naquele momento. As palavras escritas ali poderiam me ajudar a seguir em frente, ou me destruir completamente. Passei todo o dia consciente do pedaço de papel, que tanto andava atormentando meu juízo, me esperando.

- Sua mãe está aqui- Daniel apontou a cabeça para um canto.

Segui seu olhar, vendo as duas Samanta's conversando aos sussurros. Vez ou outra olhavam em nossa direção, a expressão de seus rostos aflitos. Voltei minha atenção para Daniel, sabendo o que se passava em sua mente.

Se eles haviam chamado minha mãe, era porque o meu caso estava realmente ruim.

- Pode pegar água para mim?- Pedi a Daniel, na esperança de o afastar e ficar só.

-Claro.

Esperei ele se distanciar antes de pegar o envelope já amassado por tantas horas no bolso de trás da calça. Sabia que a qualquer instante minha mãe e a médica iriam vir falar comigo, soltar alguma bomba em cima de mim.

Tinha me decidido ler a carta antes disso, para assim, ser quebrada de uma única vez.

Abri o envelope e tirei de la uma pagina dobrada cuidadosmente, escrita na frente e no verso. Passei a mão por sobre a caligrafia de Jacob, sentindo a bile querer subir novamente e as emoções querendo se libertarem.

Li toda a carta.

Cada palavra ia danificando, rachando e trincando a muralha na qual tinha prendido tudo o que me atormentava. Pequenos buracos foram se formando, e todos os sentimentos, memórias e momentos, lutavam para tentarem se libertar. Meus olhos umideceram, mas, ainda assim, não me perdi sentir nada.

- Podemos falar com você por um momento?- Samanta se aproximou com minha mãe ao seu lado. A segunda, apesar de estar com os lábios em linha reta, parecendo prestes a gritar comigo, estava com os olhos lacrimejando.

Talvez as coisas fossem pior do que eu imaginava.

- Sim- Soltei a carta aberta em cima do meu colo, me concentrando na enfermeira e na médica. Eu tentava ignorar as palavras tão frescas em minha mente de Jacob.

Daniel se aproximou com o copo de água, mas, ao perceber a tensão das duas mulheres, o largou em cima do armário próximo a minha maca e se aproximou de mim. Meu melhor amigo entrelaçou seus dedos nos meus, dizendo silenciosamente que estava comigo para o que viesse.

Ah, Daniel!

- Nós tiramos sangue de você para fazer alguns exames- Samanta, a médica, começou a dizer.- E eles constataram 2 duas coisas. Bom, a primeira, é que você esta bem desnutrida.

- E a segunda?- Perguntei não me surpreendendo com o que dissera.

Minha alimentação nas últimas semanas estava desregulada. Eu passava dias apenas com 1 maça no estômago. Muitas vezes sentia tontura, os membros fracos.

Para minha surpresa, quem respondeu foi minha mãe.

- Você está grávida.

*                                   *                               *

OMG, como assim?? ×-×  hahahah

Até segunda !! ♡

Guerra E AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora