Guerra E Amor

Capítulo 36

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- Você tem certeza que quer mesmo fazer isso?- Perguntei pela milésima vez enquanto descíamos as escadas do prédio da área da saúde. Era o horário de almoço, e íamos por o plano de Vicky em prática. - Se te pegarem...

-Relaxa, não vão- Falou confiante, abrindo a porta da saída de emergência. Caminhamos até o QG em silêncio, ambas repassando o plano na cabeça.

Entre as trocas de aula, Victória compartilhou sua brilhante idéia comigo. Disse- me que seu avô estava interessado em conversar com ela, por motivos desconhecidos, a algum tempo, então no horário do café foi marcar uma mini reunião com George Hale.

O plano era entrar na sala dele, que continha pastas com documentos sobre todos os alunos, e procurar por Amanda Noah.

Era um tiro no escuro?

Talvez, pois não sabíamos se a garota estudara de fato no Instituto, mas era nossa única alternativa.

- Boa sorte- Disse assim que nos despedimos no Hall.

Olhei para ela até a perder de vista, então entrei no refeitório. Peguei o almoço e me sentei em uma mesa vazia. Minha companheira estava em uma missão, colocando sua carreira em risco por mim, valia muito a pena ficar sozinha por alguns minutos.

Avistei Daniel sentado a algumas mesas de mim, conversando com alguns amigos. Harry não estava ao seu lado, uma cena um tanto quanto incomum. Nossos olhares se cruzaram por alguns segundos, mas o contato visual foi quebrado por ele, que me evitava.

Após comer, caminhei até o local onde sempre me encontrava com Jacob. Ele estava la, sentado no chão, com a costa apoiada na parede e batucando na perna a musica que ouvia em seu fone de ouvido.

- O que estava ouvindo ai?- Me sentei ao seu lado, chamando sua atenção.

- Provavelmente nada que seus ouvidos delicados se agradará.- Tirou os fones, se virando para mim com um sorriso carregado de irônia.

-Ah, vai a merda, Sheperd- Sorri, e trocamos um olhar cúmplice antes de cairmos na gargalhada.

Começamos a conversar sobre o almoço de sua família, e não sei ao certo quando começamos a falar sobre a minha família. Contei para ele sobre meu pai, que havia morrido antes mesmo que eu nascesse, e em como minha mãe fez o papel dos dois, me criando da melhor forma que poderia.

- Fico feliz em saber que teve alguém que a amasse por dois.- Ele disse olhando para frente, refletindo sobre tudo o que eu dissera sobre meu passado. - As coisas não foram fáceis com meus pais também, mas por sorte sempre tive Jane para me ajudar.

- Sua irmã o ama muito- Olhei para ele de canto, observando sua reação. Jacob sorriu, parecendo se lembrar de vários momentos felizes de sua infância.

-Eu sei.

Passamos todo o resto do horário de almoço juntos, e por alguns minutos, ali, conversando com ele, esqueci de tudo o que vinha me afligindo, mesmo Jacob sendo parte de tudo. Era bom conversar com ele, esquecer o resto do mundo e apenas estarmos junto, mesmo que as vezes em silêncio.

Ao bater o sinal, me despedi dele e sai correndo até Victória. Eu esperava que ela não tivesse sido pega, afinal, era um plano muito perigoso no qual colocava mais a cabeça dela em perigo do que a minha.

- Então...?- Minha voz era urgente, aflita. Se ela não falasse logo, eu iria a estrangular em busca de respostas.

- Está aqui- Me estendeu uma pasta amarela. Li o nome " Amanda Noah" na capa e segurei a respiração.

Peguei a pasta com as mãos trêmulas, sentindo todos os meus membros energizados. Vicky havia conseguido no fim das contas. Aquele pedaço de papel significava tantas coisas para mim.

- Ah. Meu. Deus!- Não consegui segurar minha alegria.

Coloquei rapidamente a pasta em minha bolsa, ciente que ela estava ilegal em minhas mãos. Vicky e eu estaríamos fritas se nos pegassem com aquele arquivo, que era, tecnicamente, confidencial. 

Caminhamos apressadas para a quadra, ambas atrasadas para o treino. Victória encontrou seu grupo la, mas não avistei Daniel em lugar nenhum. Procurei meu grupo também na quadra da piscina, mas só fui encontra-los no estande de tiros.

- Está atrasada, Srta. Maclain- Daniel falou bravo enquanto me aproximava ofegante.

Me recompus antes de responde-lo, sabendo que o garoto a minha frente estava mais bravo comigo do que deveria. E de que a natureza daquele sentimento não era de fato porque eu estava atrasada.

- Me desculpe, não vai acontecer novamente.

- Espero que não. Vá para o banco- O olhei incrédula, não acreditando no que estava ouvindo.

Daniel estava misturando as coisas ali.

- Como é?

- Quer que eu repita?- Elevou o tom de voz, chamando atenção do restante do grupo.

- Não.

- Não o que, Srta. Maclain?- Ele estava bravo e o ouvir me chamando assim, tão formal, só fez meu coração se apertar mais em meu peito.

- Não, senhor!

Diante os olhares do resto do grupo, me senti humilhada com o tratamento de Daniel comigo. Pela primeira vez desde que chegara no Instituto pensei que seria bom ter Jacob como meu instrutor.

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Todo o caminho para casa Daniel e eu ficamos em um silêncio absoluto, onde se era possível ouvir até mesmo os mínimos barulhos. Quando estacionou na garagem de sua casa, saímos do carro rapidamente, cada um indo para um lado. Aparentemente, nossa nova rotina.

Era horrível aquela situação entre nós dois, ele, emburrado comigo, e eu, sem saber o que fazer para concertar aquilo.

Entrei no quarto, fechando a porta com a chave para ninguém entrar, e fui tomar um banho de 5 minutos, já pensando na pasta que me esperava.

Minha primeira conclusão foi de que Amanda Noah havia deveras estudado no Instituto, pois uma pasta com seu nome estava na sala do general Hale com todas as outras. Significava, de várias formas, que ela havia tido relações com os dois lá.

Após sair do banho, me vesti rapidamente, pegando logo em seguida a pasta dentro da minha bolsa. Eu estava sentindo uma mistura de ansiedade e medo. Medo por não saber o que iria encontrar ali. Talvez todas as minhas opiniões, certezas e pensamentos mudassem depois de ler aquele documento.

Uma foto caiu em meus pés quando abri a pasta. A peguei, arregalando os olhos surpresa ao ver Daniel e Jacob sendo abraçados pelo pescoço por uma garota da idade deles.

Amanda Noah tinha os cabelos castanhos claros, os olhos muito parecidos com o de Linda, seu rosto era fino e em seus lábios haviam um sorriso contagiante.

Notei como os garotos também carregavam um brilho no olhar na foto, contentes como eu nunca havia visto antes. Senti o ciúmes bater em mim, mas logo o mandei embora.

Quem era aquela garota?

Comecei a ler seus documentos, sedenta por respostas.

Ela realmente era irmã caçula de Linda, o que explicava a aparência tão semelhante e o mesmo sobrenome. Amanda havia entrado em medicina, um ano depois de sua irmã, na turma de Daniel e Jacob.

A todo momento sentia meu coração acelerar e minha garganta fechar com tantos sentimentos oprimidos. A cada descoberta eu me senti mais tensa, mas, uma delas, mais que as outras, me fez congelar.

Cai sentada em minha cama, não acreditando no que havia acabado de ler na ficha da menina.

Amanda Noah estava morta.

*                                   *                                *

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