Capítulo 62

56 5 2
                                    

Tudo começou a mudar quando os generais convocaram uma reunião com os veteranos do Instituto. Eu achara, desde o início, tudo muito estranho e suspeito, pois eles nunca haviam feito isso de forma tão repentina.

Uma semana após Clary sair do hospital, recebemos a notícia.

Iríamos à guerra.

O governo já estava mexendo os pauzinhos, soldados já estavam em solo aslaniano, e era questão de dias para a notícia ir parar na imprensa. Ninguém sabia ao certo o porquê de tudo depois de tantos anos, mas para se começar um conflito como aquele, bastava dar o grito de guerra.

Eu pensei muito antes de ir atrás de Linda, que estava no mesmo barco que eu por estar a poucos meses de se graduar. Sabia como minhas ações iriam refletir sobre Clary, e no fim, contava com isso.

Eu a amava, e não queria que sofresse com minha ida sem volta. Tinha consciência de que iria morrer naquela guerra. Não era uma preposição, uma possibilidade, era um fato. Sabia como ela me amava, como seria doloroso me perder.

Depois de muito refletir, cheguei a conclusão de que o ponto que precisava ser quebrado era o amor dela por mim. Se ela não me amasse, não iria sofrer.

Eu precisava que ela me odiasse.

Seria mais fácil para nós dois, eu tinha certeza.

Procurei por Linda, a convenci participar do meu plano e o colocamos em prática. Dei instruções a ela para plantar uma sementinha na cabeça de Clary, dizendo que eu só a queria por causa de Daniel. Mesmo já tendo me reconciliado com ele, sabia que essa insegurança ainda permanecia dentro dela. Reconheci como fui um monstro por usar essa cartada, brincando com os sentimentos dela.

Antes de Clary entrar na sala e nos pegar aos beijos, Linda e eu estávamos apenas esperando pacientemente ela chegar.

- Você tem certeza de que quer fazer isso?- Linda olhou-me seriamente, ainda não concordando com minhas escolhas.

- Sim- Olhei mais uma vez para a porta, ansioso e aflito, sabendo que nunca mais poderia ter Clary nos meus braços depois daquele dia.

Linda respirou fundo, tirando a camisa e abaixando a alça do sutiã, deixando metade do peito exposto. Desviei o olhar, tirando minha jaqueta e camisa, as jogando em um canto. A menina a minha frente bagunçou os próprios cabelos, passou a costa da mão sobre os lábios, deixando o batom vermelho todo borrado.

Nós ouvimos os passos no corredor e grudei em Linda. Começamos a nos beijar de fato quando ouvimos a porta sendo aberta.

Naquele dia, eu a machuquei como nunca apenas com algumas poucas palavras. Eu sabia que se a magoasse mais uma vez com meus atos, como havia feito quando pegou Linda me beijando para irrita-la, seria algo sem volta para nós dois. Eu contei com isso também.

Vendo Clary gritar, em meio a lágrimas pesadas, como me odiava, me senti aliviado. De certo, não era o que eu esperava ouvir ao ve-la pela última vez, e sabia que tinha sido da boca para fora, mas tinha esperanças que algum dia não fosse.

-Você está pronto?- Ouvi a voz de Dylan se aproximando. Ele parou a minha frente, me analisando de cima a baixo com seus olhos verdes como um falcão. - Vamos para uma missão de bombardeamento, e você não parece muito focado. Tem certeza que quer ir comigo?

- Eu estou bem- Dou de ombros, desviando o olhar do seu para conferir mais uma vez o avião que iriamos usar aquele dia. Dylan me olhou por mais alguns segundos antes de confirmar que estava tudo realmente bem e entrar na cabine da máquina.

Guerra E AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora