Capítulo 29

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A música sacra tinha uma melodia tão suave, que Hoseok fechou os olhos por alguns segundos, permitindo que a composição invadisse sua alma.

Sempre amou a música. Considerava-se eclético, mas admitia que aquela delicada melodia fosse especial.

Quando abriu os olhos novamente, percebeu o olhar de Namjoon sobre si. A forma afetuosa com que o namorado o encarava, deixou um sorriso macio nos lábios de Jung.

"Eu te amo".

Quando os lábios de Kim moveram-se para pronunciar a frase, o rosto de Jung enrubesceu. Namjoon, obviamente, não disse aquilo em voz alta. Mas o simples fato do homem ter mexido a boca para demonstrar aquele sentimento, já enchia seu coração de ternura.

Desviou os olhos do amante, e voltou-os para a sala branca. As paredes eram cercadas por estantes repletas de livros e uma mesa de mogno marrom dava a aquele lugar certo requinte. Atrás da mesa, Misao Sautou sentava-se em uma cadeira estofada. Com uma das mãos gordinhas, ela indicou as cadeiras a frente.

-Sentem-se.

Os três jovens obedeceram rapidamente. Pela primeira vez desde que conheceram a freira Sautou, tinham a impressão de que era realmente religiosa. Anteriormente, no pátio do orfanato, a simplicidade dela havia-os deixado mais a vontade. Porém, dentro daquelas paredes, sua postura parecia mais séria.

-O que quero contar a vocês não deve sair dessa sala – avisou.

-Não podemos prometer isso – Tae respondeu, apressadamente. – Se for algo que possa ajudar nossos amigos usaremos a informação.

Os olhos escuros da coreana demonstraram desânimo.

-Me sinto antiética ao falar do assunto – reclamou. – Nunca falei sobre isso com ninguém.

Jung se manifestou:

-Por favor, madre! Estamos implorando!

A mulher de roupa escura apoiou os cotovelos sobre a mesa. As mãos seguraram seu queixo e, naquele instante, parecia meditar sobre a circunstância.

-Não sei se valerá de alguma coisa o que vou dizer – Hoseok continuou –, mas Ji-min e Jeon se amam desde que eram crianças. O sentimento deles nunca se desviou ou enfraqueceu. Separá-los é o mesmo que ir matando-os aos poucos...

Misao observou os olhos do loiro, enquanto ele falava. Quanta sinceridade havia naquele olhar! Mesmo assim, teria ela o direito de mexer num passado a tanto enterrado? Sim, se o mesmo passado fosse o responsável pela dor daqueles a sua frente agora.

-Eu tinha cerca de trinta e cinco anos quando a organização católica coreana resolveu abrir este orfanato – ela contou. – Não me lembro direito o motivo, mas fui escolhida para ir aos EUA fazer um treinamento especial na administração da obra filantrópica.

Os três membros do BTS permaneciam num silêncio mórbido, ouvindo cada palavra com devida atenção.

-Quando lá cheguei, fui designada a cuidar de uma criança especial.

-Como assim especial? – indagou Kim.

-A mãe dessa criança era garçonete. Havia morrido numa overdose de cocaína. A criança foi testemunha da morte da mãe. Daquele momento em diante, ela perdeu a fala.

-Que triste... – Hoseok suspirou. – E, após a overdose da mãe, foi entregue aos seus cuidados?

-Não. Tinha família. O irmão, e o padrasto. Não houve nenhum tipo de disputa judicial, pois o lado materno não havia se manifestado.

Rendição (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora