Capítulo 23

51 9 3
                                    

Os olhos dela eram verdes com um toque de castanho mel. Nunca até então havia reparado na beleza da cor, e na maneira como se tornava ainda mais intensa quando o humor da mulher mudava. Eram lindos e só agora ele havia conseguido perceber isso. Por que desprezou tanto aquele olhar significativo, que falava mais que as palavras ou as expressões? Talvez fosse, como ela insistia em descrever, um tolo.

A mulher virou-se em sua direção e sorriu. Não aquele sorriso provocativo, que quase todas destinavam a ele. Mas, um sorriso franco e sincero, alegre e cúmplice, amigo no sentido mais fraternal.

E então ele percebeu que aprendera a gostar dela. Talvez não tanto quando Jimin ou Jung, mas havia nele um sentimento de carinho, de conforto... de dedicação.

Subitamente, contudo, a imagem se desfez e deu lugar ao sangue, vermelho e vivaz, que escorria por todo o seu campo de visão, causando calafrios e ânsias, trazendo uma aflição que mesmo em um milhão de anos ele esqueceria.

Remexeu-se, aflito. Precisava desesperadamente apagar aquela imagem da sua mente, mas não podia. O corpo de Audrey ia tornando-se um líquido rubro que aos poucos dominava a tudo.

Então seu próprio corpo entrou em combustão. Sufocado, ele debateu-se, sentindo a pele queimar e o ar a faltar. Precisava despertar, mas não conseguia. Foi quando uma voz chegou aos seus ouvidos, dando-lhe a certeza de que estava vivo.

— Min... eu estou aqui.

Era Namjoon. O inferno estava completo.

— Solte-o – Jung interviu, em algum lugar naquele ambiente. – Não o segure. Se ele entrar em qualquer tipo de convulsão, precisa de espaço.

— Por favor, chame a enfermeira – Kim pareceu implorar.

— Se acalme, Namjoon. Ele está bem. Já passou, provavelmente era um pesadelo. O médico já o medicou e tudo que ele precisa é de descanso.

Houve silêncio. Apesar disso, Min sentiu que estava desperto, só exausto demais para abrir os olhos. Logo o corpo também parou de tremer e ele sentiu um calor característico nos dedos: Namjoon segurava sua mão.

— Min não pode morrer – ouviu a voz potente de Kim anunciar.

— Ele está bem, Namjoon– a voz de Jung era confortável, delicada e quente. – Tudo vai ficar bem, não se preocupe...

Namjoon, porém, permanecia contrariado.

— Yoongi nunca foi correspondido... Nunca viveu um grande amor... – sussurrou. – Isso é tão injusto, ele merecia amar e ser amado. Mas, não pude...

O silêncio voltou. Agora, porém, era incômodo, extremamente desconfortável. Por mais que Min não tivesse entendido direito o que desejava Namjoon com aquelas palavras, ele sentiu que Jung não havia gostado nem um pouco da observação.

— Como é que é? – Enfim a voz do outro ergueu-se. – Como assim não pôde?

— Você nunca mereceu meus sentimentos, mas mesmo assim amo você – Namjoon falou de uma forma que mesmo a declaração de amor pareceu um insulto.

Min quis desesperadamente abrir os olhos. A exaustão era absurdamente grande, mas ele precisava se manifestar. Se possível, também bater em Namjoon que ousava ficar discutindo sabe-se lá Deus o quê bem em cima do seu corpo machucado.

— Explique-se – foi tudo que Jung disse, num tom sério.

Yoongi ouviu um suspiro longo. Logo em seguida, a voz de Namjoon afirmou, num tom provocante:

— Min me ama.

— Claro que ama, todos os seus amigos te amam apesar da pessoa que você é – alfinetou.

Rendição (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora