Rendição (Jikook)

Capítulo 23

Jimin aconchegou-se na cadeira, suspirando baixo. Detestava reuniões, mas sabia serem elas necessárias para o bom andamento de projetos.

Ergueu as vistas e observou com atenção o homem que falava.

Eram oito horas da manhã, e já fazia meia hora que estava naquela sala, ouvindo atentamente os pormenores do próximo folhetim que entraria no ar no mês seguinte.

Como sempre, Jimin seria o protagonista; o diferencial, entretanto, era que seu personagem não seria o habitual mocinho perfeito, apaixonado por alguma bela (e, de preferência, pobre!) atriz de rosto artificial.

— Eu sei que será um choque para a sociedade, mas faremos o trabalho com responsabilidade – o homem explicou.

Miroke Mayaki era um dos principais diretores do Coreia. Nascido no Japão, ele havia dirigido inúmeros trabalhos além do mar. Tinha um currículo invejável que incluía projetos televisivos e filmes. Naquele momento, ele falava sobre a próxima novela, "Thorns", que traria temas até então ignorados pela emissora como homossexualidade, adultério e violência doméstica. Logicamente, havia filmes orientais tratando do tema, mas seria a primeira vez que uma novela escancaria tais assuntos em um canal aberto, em horário nobre.

— Eu preciso do melhor ator, e este ator é você, Park Jimin - Miroke afirmou, encarando-o.

Com um pequeno movimento de face, Jimin agradeceu o elogio. Era acostumado a eles, e sempre ficava feliz quando tais palavras eram dirigidas a si.

O personagem de Jimin se chamaria Taeyang, filho mais velho de uma família completamente desestruturada, onde o pai, violento, agride a esposa e os filhos, a mãe tem um amante, e ele próprio completa o quadro polêmico quando se apaixona por um colega de trabalho. O texto causaria um rebuliço na imprensa e com certeza renderia muitas críticas na ala conservadora. Mas, era o tipo de roteiro que atrairia muitos telespectadores pela curiosidade, e daria visibilidade a Park, que buscava o título de melhor ator do ano. Taeyang tinha todas as características necessárias para roubar a cena, e ele faria todo o necessário para ser feliz naquela interpretação.

Como já era de se esperar, as cenas teriam muito mais insinuações e sutilezas do que a exposição da situação. As cenas de Chung Taya, atriz que interpretaria sua mãe, fazendo sexo com o amante seriam cortadas, da mesma forma que as surras do seu marido não teriam tanto enfoque. Taeyang, seu personagem, também não teria cenas de beijo ou carinho, e toda a trajetória dele em assumir sua homossexualidade teria que ser demonstrada pelo olhar, tom de voz e linguagem corporal.

Sorrindo para si mesmo, Jimin pensou que seria muito fácil. Ele era um excelente ator, e o personagem era apenas mais um dos tantos personagens fortes que já havia vivido.

Devia começar a preparar seu discurso da vitória, pois com certeza o prêmio final era seu!

Yuu Lee morreria de raiva!

— Quem será o ator que interpretará Dong Sacchi? – indagou um dos produtores.

Dong seria o colega de trabalho pelo qual Taeyang iria se apaixonar.

— Nowaki Suk.

Jimin arregalou os olhos. As demais pessoas da sala não contiveram um suspiro impressionado.

Nowaki era um ator excelente, tinha uma carreira sólida na América, e nunca havia feito uma novela comum. Os motivos pelos quais um ator de tamanha fama estava indo trabalhar numa novela nz Coreia eram incompreensíveis. Aliás, metade das pessoas daquela sala indagava o porquê do próprio Jimin estar ali. Quantas produtoras americanas já haviam tentado levá-lo para Hollywood, mas receberam uma negativa de Jimin? Ninguém ali sabia o motivo de Jimin se recusar a deixar a Coreia; entretanto, enquanto segurava o broche que Jeon havia lhe dado de aniversário, Jimin sorriu pensando na resposta.