Capítulo 8

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Jung levantou o aparelho celular até o ouvido pela décima vez. Sua clara insegurança em discar os números estava-o deixando ainda mais apreensivo. Respirou fundo. Virou-se em direção a cama em que Jimin dormia, e sorriu para o amigo.

Jimin cresceu ao seu lado. Do menino tímido, incapaz de se defender dos ataques das crianças maiores, Jimin se tornou um homem atraente, talentoso e de personalidade forte.

Gostava de reclamar das situações, e divertia-se com o constrangimento dos outros. Por diversas ocasiões, parecia um pirralho mimado, insensível ao resto do mundo. Mas, Jung sabia que as coisas não eram assim. Jimin era extremamente emotivo e, como todo artista, passional e intenso.

Talvez fosse por essa personalidade inflamada que estivesse na cama de um hospital.

Baixou o olhar, e encarou o relógio. Os ponteiros apontavam três da manhã. Não era horário para uma ligação, mas ele precisava fazê-la. Corajoso, apertou os números necessários com cuidado para não incomodar o sono da Jimin. Desculpando a si mesmo, disse num sussurro que era uma emergência, e por isso ligava.

Um toque. Dois. Três.

Nada.

Desligou o celular. No entanto, precisava insistir. Apertou os números novamente. Mais alguns toques, e então um som característico se fez ouvir.

— Sim? – indagouuma voz feminina.

— Sra. Park?

Apesar de estar divorciada há muito tempo, Mayu mantinha o sobrenome de casada. Jung não conseguia entender a razão disso. Talvez, ainda amasse ao marido. O loiro até sentia curiosidade sobre o fato, mas jamais havia questionado Ji-min. Sabia que quando o assunto era família, Jimin sentia-se desconfortável.

— Sim. Quem é?

O tom dela era cansado, sonolento. Hoseok imaginou que estivesse dormindo; todavia, a ligação era de suma importância.

— Jung Hoseok respondeu. – Desculpe-me por estar ligando tão tarde, mas precisava falar com a senhora.

— Não podia esperar até de manhã?

O tom recriminador dela não desanimou Jung.

— Infelizmente, é algo urgente. Jimin foi internado hoje no hospital central. Ele se encontra em depressão, estresse por excesso de trabalho, e está muito abaixo do peso. O médico acha que o estado dele é preocupante...

Alguns segundos se passaram antes da resposta feminina se declarar:

— E o que eu poderia fazer? Sou médica, por acaso?

A agressividade não foi surpresa para Hoseok. Já conhecia a mãe de Jimin, sabia o quanto era sensível ao fato de ter um filho gay, e também o culpava por ter destruído a família. Foi ela que pediu para Jimin sair de casa e, apesar de ter visitado o filho algumas vezes durante todos aqueles anos, fraquejava sempre que o via, como se sentisse culpa por tê-lo colocado no mundo.

— Jimin precisa de afeto e atenção. Tenho certeza que ele ficaria muito emocionado se a senhora fizesse uma visita.

Ouviu um suspiro. Talvez, suas palavras pudessem adentrar no coração duro daquela mulher.

— É só isso que você tem a me dizer?

Jung sentiu o coração acelerado.

—P or favor, tenha piedade – pediu. – É seu filho...

Porém, o restante da frase se perdeu, Mayu havia desligado o telefone. Hoseok ainda ficou com o celular nas mãos, totalmente perplexo diante de tamanha frieza. Como alguém podia rejeitar Jimin? Como alguém podia simplesmente ignorar o estado do amigo? Qual o crime que Jimin havia cometido para ser tão detestado pela própria mãe?

Rendição (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora