Capítulo 29

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Um dos mais famosos provérbios orientais diz "Quando ouvir algo a respeito dos maus atos de alguém, não ouça até o final e tente esquecer o que ouviu". Jimin se lembrou vagamente das palavras enquanto avançava firme pelos corredores da emissora, resoluto em não cumprir o velho conselho.

Esquecer? Nunca. Não havia possibilidade das palavras de Morgan sair dos seus ouvidos. Jamais poderia perdoar e nunca o faria. Dizem que os bons perdoam, então ele assumiu, sem culpa, que preferia ser a mais vil e má criatura sobre a terra, mas jamais teria misericórdia e piedade de Yuu.

— Ji-min! – ouviu o grito de Karin atrás de si.

Não se voltou. Não deixaria de avançar, não permitiria que nada se colocasse como barreira para impedi-lo de continuar os passos retos que o levavam até a ala leste do prédio, onde sabia que Lee estava.

Sentiu o peso do olhar questionador de Karin às suas costas, mas não fez caso. Prosseguiu, logo longe dos seus olhos, longe de todos que pareciam surpresos por vê-lo tão sério e arredio.

A porta do camarim estava aberta. Ouviu a voz chorosa de Yuu contando ao maquiador o horror que passou nas mãos de Audrey.

"Você não vai processá-la?"

"Karin me disse que, caso eu a denuncie, Namjoon Kim vai me retalhar e provavelmente eu serei excluído da agência".

Possivelmente, pensou Jimin, um incômodo processo não era páreo para o dinheiro e fama que a agência proporcionava a todos eles.

Deu dois passos. Ficou visível a porta e esperou até que fosse visto. Não levou sequer dez segundos e o rosto de Lee iluminou-se, a boca em um sorriso satisfeito e a postura alegre, oposta a outrora lacrimejante.

— Park? – Lee se ergueu da cadeira, reto. – Por favor, entre.

Jimin deu três passos, largos o suficiente para ficar próximo de Yuu.

— Imaginei que viria – Lee parecia encantado com o fato, absorvido em sua própria bolha de felicidade. – Mas, não se preocupe, eu estou bem. Sua amiga Audrey não me feriu com gravidade e não tenho intenção nenhuma de mover nenhum processo contra ela.

Jimin sentiu as mãos tremendo, suando frias. Respirou pesadamente, antes de abrir a boca, ansioso para se livrar daquele tormento.

— O que você fez com meu cachorro?

Lee levou alguns segundos para entender. Mas, rapidamente seus olhos se arregalaram, espantados.

— Não sei o que disseram, mas é mentira.

Não, não era. Jimin sabia que não era. Aliás, se pensasse um pouquinho saberia, já naquela época, quem havia feito aquela crueldade com Junior. Que outra pessoa seria tão ordinária e baixa? Mas, a separação de Jeon, a doença, e a indiferença da mãe tiraram dele a capacidade de raciocinar. Porém, não mais.

— O quê... – a mão ergueu. Antes mesmo de conseguir prosseguir, Jimin agarrou a garganta de Yuu. – O que fez com meu cão? – gritou.

Na infância, o chamavam de fraco. Durante a vida toda lhe disseram que era frágil. Mas, a humanidade ainda teria longos anos para entender o poder do ódio. Afinal, não havia nada como a ira para mover um homem.

Quando Yuu caiu no chão, o corpo de Jimin por cima de si, as mãos apertando firmes sua garganta, sufocando-o, Park relembrou de Namjoon falando que ninguém trava uma guerra por amor. Aliás, o amor agita muito pouco à humanidade; a raiva, a aversão, a repulsa, ao contrário, são capazes de movimentar uma multidão.

Rendição (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora