Capítulo 9

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O cheiro de desinfetante estava sufocante. O mundo de Yoongi Min era, até então, a coisa mais higiênica que Morgan havia conhecido na vida.

Os olhos de Audrey cruzaram a sala, reparando nos tapetes limpíssimos, na mesa lustrada, nos quadros sem pó. Ela quase podia enxergar o rapaz passando cada folga a organizar a casa. E isso, por um estranho motivo, lhe despertava a louca vontade de sujar aquele ambiente, derramar o vinho que trouxera no sofá, e derrubar a terra dos vasos sobre o chão.

A mulher se voltou para o rapaz, sorrindo. Não, ainda não era a hora de retomar aquela estranha relação baseada na raiva e no mútuo desrespeito. No momento, precisava da ajuda dele, e a teria, custasse o que custasse.

— É creme de pepino? – a mulher questionou. – Muito bom para a pele, realmente. – Sua face assentiu. – Tira todos os cravos e remove as espinhas, não?

Só então Yoongi percebeu que ainda estava com o creme no rosto.

— Eu... – ele tentou buscar as palavras.

— Não precisa se explicar – ela o cortou. – Não acho que seja menos heterossexual por causa de uma vaidade.

O que era aquilo? Uma reprimenda? Uma ironia? Uma insinuação? Ou um simples comentário? Min arqueou as sobrancelhas, buscando a resposta. Contudo, o semblante de Morgan era uma incógnita, algo que ele não conseguia definir.

— Com licença – pediu.

Assim que chegou ao quarto, buscou o algodão e foi até o espelho. Só então percebeu que estava de toalha na cabeça. Pelos céus, parecia uma mulher! Ela iria tirar sarro dele até o final da sua vida!

Poucos minutos depois voltava à sala. Audrey estava diante do seu aquário, observando seus peixes. Se algum dos seus bichos de estimação aparecesse morto no dia seguinte, ele faria picadinho dela!

— Trouxe um vinho – ela voltou-se, oferecendo uma garrafa.

O homem pegou. Cada movimento devidamente calculado e analisado.

— Vou pegar duas taças – disse.

— Oh, eu não bebo – Audrey negou. – Beber deixa os reflexos lentos, e as pessoas animadas demais. – O olhar dela escureceu. – Não gosto muito de animação.

Subitamente Min entendeu que ela estava chamando-o de idiota. Ou talvez ela houvesse colocado veneno dentro do vinho... Mas, não sabia como rebater aquilo, então apenas colocou o vinho sobre a mesa. Trataria de se livrar daquela bebida assim que a mulher fosse embora.

— Vim aqui por Namjoon e Hoseok – ela avisou. – Podemos conversar?

Sem esperar sua resposta, a mulher acomodou-se em sua poltrona favorita. Min sentiu o corpo inteiro enervar. Quem a havia convidado? Por que ela sentia-se tão à vontade na sua casa?

— Seja o que for, minha resposta é não – adiantou-se. – Não faço acordos com você.

Morgan mordeu o lábio inferior, parecendo medi-lo. Aquilo incomodou Min. Como estar à altura de um inimigo que tinha um pensamento tão rápido?

— Se não aceitar minha oferta, Kim vai se casar com Aera, e Jung será infeliz para sempre. Importa-se com isso?

— Você sabe que me importo – afirmou. – Mas, não serei manipulado por alguém da sua laia.

— Goste você ou não, sou a única esperança deles.

A mulher se remexeu na poltrona, ficando ereta. Levemente ela tocou na jaqueta cara, o gesto quase imperceptível.

Rendição (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora