Capítulo 4

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Nowaki Suk era um astro.

Mais que isso. Nowaki Suk era simplesmente a maior estrela oriental da cinematografia moderna, artista que levava milhões aos cinemas no mundo todo.

Participou do primeiro filme aos treze anos, sendo apenas um figurante escolar de um drama americano. Apesar de coreano, muito cedo foi morar com os pais, imigrantes, nos Estados Unidos, e foi lá que deu os primeiros passos na dramaturgia.

Depois de tal filme, resolveu fazer um curso de teatro. O talento óbvio e o olhar atento de alguns diretores fizeram com que começassem a pipocar convites dos mais variados temas. Aos vinte e um anos ele já protagonizava um drama ambientado na Segunda Grande Guerra, onde seu personagem, um civil coreano, apaixonava-se perdidamente por uma enfermeira inglesa. O filme rendeu vários prêmios e convites para filmes muito mais lucrativos.

Concluiu, com dificuldade, a faculdade de artes num renomado instituto Parisiense, pois já era muito famoso e mal podia andar pelo campus sem ser cercado de fãs. Na verdade, os estudos foram apenas mais um capricho dos muitos que mantinha, pois realmente não precisava das aulas para atuar. Ele havia nascido com o dom, o extraordinário e raro dom que algumas pessoas afortunadas eram agraciadas por Deus. Nowaki podia interpretar qualquer personagem, de qualquer tema, em qualquer país e com qualquer par romântico. Ele era simplesmente o melhor, e essa característica foi o que lhe deu, com notória justiça, uma indicação para o Oscar. Antes dele, apenas Iwamatsu(1) e Watanabe(2) haviam representado o oriente no prêmio.

Todavia, havia sim certo oco. Talvez, um aranhão no ego.

— Oh, desculpe – o rapaz lindíssimo, de olhos tão tristonhos e carentes que faziam Nowaki sentir vontade de beijá-lo instantaneamente, se curvou em sua frente. – Chamo-me Taeyang – sorriu. – Muito prazer! – completou.

Nowaki, na pele de Dong, sorriu, devolvendo o gesto. Ele sabia que estava devorando Jimin Park com os olhos, mas não se importou. Deixar extravasar um pouco do seu desejo por aquele pequeno homem enquanto interpretava tal personagem não era nada mal.

Taeyang aparentou vergonha e logo se afastou em direção a uma mesa. O set de gravação era incrivelmente perfeito, aparentava realmente um escritório mediano de algum prédio de Seul.

Nowaki acompanhou o movimento com os olhos e admirou as formas. Apesar de viver cercado de modelos, notou que o rapaz estava incrivelmente magro. Todavia, mesmo assim, Ji-min era adorável.

Tinha uma fragilidade gritante, uma voz doce e gentil. O riso dele, dirigido a Miroke assim que este encerrou a cena, havia sido a coisa mais sexy que Nowaki já ouvira na vida.

— Você tinha toda a razão em se apaixonar por ele... – murmurou.

O corpo magro se voltou para ele.

— O que você disse? – Park indagou.

— Nada...

Nowaki havia feito um drama ambientado nos anos cinquenta em que interpretara um travesti. Na ânsia e na busca por material e por inspiração ao personagem, ele decidiu fazer sexo com outro homem. A experiência se mostrou deveras prazerosa, e ele se assumiu bissexual já tinha algum tempo.

O sexo em si era algo inestimável para Nowaki. Se ele queria alguém, não importava o preço que precisava pagar, ele teria aquela pessoa. Bom, houve uma exceção.

Mordendo o lábio inferior, recordou-se de dez anos atrás, quando foi rejeitado pela primeira vez, pela única pessoa a quem amou. Nunca esqueceu e nunca perdoou.

Guardou aquela mágoa por anos e, subitamente, durante férias na Tailândia conheceu Miroke. O diretor falou-lhe do projeto Thorns, e então Suk Nowaki percebeu que era sua chance. A empresária de muitos anos enlouqueceu quando descobriu que ele pretendia viajar para a Coreia para trabalhar em um projeto tão risível. A novela tinha um roteiro idiota, os produtores esperavam chocar, mas sequer um beijo ocorreria em frente às câmeras. Se não fosse por Jimin, e por seu ódio, nunca estaria ali.

Rendição (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora