Capítulo 3

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A primeira coisa que Jimin percebeu assim que Jeon entrou pela porta foi os cabelos espetados em desalinho. Jeon parecia ter bebido, o que não era nenhuma novidade. Erguendo-se do sofá, prometeu a si mesmo ter paciência e compreensão. Recordou-se das palavras de Hoseok, e engoliu o próprio orgulho.

Mesmo toda a dor e mágoa que sentia pelo atual desprezo de Jeongguk não eram mais fortes do que seu sentimento. Se Jeon estivesse passando por algum problema, era dever de Jimin estar ao seu lado, amparando-o, amando-o.

Assim que Jeon percebeu-o de pé na semiescuridão, seu olhar tornou-se tenso. Jimin engoliu em seco ao notar aquele contemplar carregado de descaso.

— Você demorou... – comentou, tentando não aparentar ansiedade.

Jeon largou a mochila em cima da mesa de canto, e aproximou-se de Junior. Afagou a cabeça do cão.

— Deixei um bilhete – explicou, simplesmente.

Então virou-se de costas e começou a caminhar em direção a suíte. Jimin permaneceu parado na sala ainda alguns minutos, como se ainda estivesse a esperar pelo menos uma saudação, uma justificativa pela ausência. Porém, notou que Jeon não faria nenhuma das duas coisas.

Olhou para baixo e viu o cão, o encarando. Sentiu a garganta arder, mas tentou sorrir.

— Fique feliz falou a Junior. – Pelo menos ele cumprimentou você.

O cão sacolejou a cauda, numa tentativa de consolar o dono. Perante aquilo, Jimin notou que lágrimas se formavam em seus olhos.

Não podia chorar!

Jeon não suportava lágrimas.Descobriu isso durante todos aqueles anos de união. Choramingar só iria irritar ainda mais Jeongguk.

Começou a caminhar em direção ao quarto. Jeon já havia ido até o banheiro. Como a porta do reservado estava aberta, Jimin aproximou-se, cuidadosamente.

— Está com fome? – indagou. – Quer que eu faça algo para você comer?

Jeongguk já havia tirado toda a roupa. O corpo másculo era uma visão arrebatadora para Jimin. Os anos só haviam acrescentado ainda mais charme àquele homem. Ao contrário de Jimin que, aos poucos, ia sentindo a beleza diminuindo, Jeon havia ganhado uma sedução natural com a maturidade. O corpo dele era bronzeado, e carregado de músculos dos exercícios marinhos. Jimin, em contrapartida, detestava sol, era pálido como uma boneca de porcelana e não tinha um único músculo em sua figura frágil.

— Já jantei... ouviu a resposta dita num murmuro.

Jimin começou a remexer as mãos, sem saber o que fazer. Como conseguir travar um diálogo com Jeon se o mesmo parecia indisposto a conversar?

— Sabia que Jung vai comprar um sítio para criar um abrigo de animais abandonados? – buscou a primeira coisa que veio a mente.

Jeongguk não respondeu. Começou a lavar a cabeça com força e, de costas para Jimin, não notou os olhos marejados. Não queria conversar. Depois daquela noite cheia de surpresas, tudo que queria era deitar na cama e dormir.

No entanto, ao sair do Box, percebeu que Jimin parecia prestes a desabar.

— O que foi? – Indagou irritado. – Você não vai começar a chorar agora, né? É quase uma da manhã e tenho que dormir! Amanhã cedo tenho uma reunião de pauta, e não tenho tempo para ficar ouvindo suas reclamações e seus ataques de dó de si mesmo.

Com as duas mãos, Jimin secou as próprias lágrimas. Aquiescendo e engolindo sua dor, ele começou a caminhar em direção a porta do quarto. O cachorro o havia seguido, e só então notou que não havia dado a ração ao animal. E já era de madrugada!

Rendição (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora