Os gemidos caninos foram ouvidos por toda a extensão da pequena propriedade localizada ao sul de Seul.
A chácara era dedicada à horticultura, responsável pelo abastecimento dos tomates nos estabelecimentos de médio porte da região. Os donos, um casal de media idade, mantinham a duras penas aquele local, lutando bravamente contra os poderosos produtores e exportadores que sempre ofereciam o mesmo produto por um preço bem inferior.
De todo o modo, naquela manhã fria de dezembro, os dois não estavam tão dispostos quanto costumavam ser durante o trabalho. A cadela grande que haviam adotado há alguns anos havia pegado cria, e o fato não alegrou a nenhum dos seus donos. Naquele momento, o nascimento de três filhotes tão sem raça quanto a mãe fez os humanos encararem com raiva pras vidas que acabavam de vir ao mundo.
— Como vamos nos livrar dos filhotes? – o homem indagou a esposa assim que voltaram do galpão em que a cadela havia acabado de parir.
— Coloque num saco e atire no rio. – Foi a resposta fria e simples.
O homem chegou a pegar uma das sacolas que guardavam atrás da porta do galpão, mas perdeu a coragem após encarar os olhos da cachorra. O enorme animal de pelos castanhos parecia implorar pela vida dos filhos.
— Não tenho coragem -ele disse a esposa, ao voltar para casa.
—Você sempre foi um covarde de marca maior – o riso irônico dela irritou-o.
Porém, nem a provocação fez com que o homem voltasse atrás na sua decisão.
— Você vai ter que se livrar deles – a insinuação era clara.
— Darei outro jeito – o homem apenas suspirou.
O tempo passou rapidamente após aquele dia. Um mês, na verdade. Apesar da descrença inicial, foi relativamente fácil encontrar um lar para dois dos filhotes. Eram bonitinhos, de certa forma. A filha de um vizinho se encantou pela fêmea, e o leiteiro trocou dois litros de leite pelo outro macho.
Todavia, um dos filhotes parecia não ter tanta sorte.
— Ele não vem quando o chamamos - a dona o encarava com raiva. – Acho que está pesteado.
Aquela afirmação podia ser verdade. Afinal, a cachorra mãe costumava dedicar àquela pequena criatura uma atenção especial. Costumeiramente lambia suas orelhas pontiagudas, como se desejasse limpar alguma infecção.
— Talvez devêssemos levar o cachorro a um veterinário o homem comentou a esposa.
— Não vou gastar dinheiro com um cão! – Ela saiu em direção à porta. - Conhece as regras. Livre-se desse animal!
***
O vento batia com força nas madeiras podres do galpão. O pequeno cãozinho não se importava com o frio que estava lá fora. Com o focinho apertado contra o corpo quente da mãe, ele suspirou. Havia terminado de mamar, e agora recebia um delicioso carinho nas orelhas.
Gemeu baixinho.
Nada ouvia, desde o dia que nasceu. Porém, aquela região lhe causava dor. Mesmo assim, o conforto trazido pela saliva da sua mãe era a melhor coisa que podia ter. Era tão feliz, estando ali, ao lado do centro do seu universo, alimentado e aquecido... Nada podia ser melhor.
Logo sentiu a vibração no chão. Já percebera que sempre que o chão vibrava, uma daquelas enormes pessoas surgia.
A fêmea, sempre zangada, dava-lhe medo. Mas, o macho não parecia tão mal. Até lhe dera um cafuné certa vez.
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Rendição (Jikook)
RomanceA Pedidos - Versão BTS Jeon Jeongguk é descoberto na infância por um caça talentos. Artista nato, ao lado dos amigos tornou-se um dos maiores ídolos do Oriente. Porém, o rapaz que era o sonho de todas as mulheres amava outro homem...