Eu te amo, sabia?

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Uma manhã qualquer. Há uma luz em meu rosto, uma luz quente e amarela. O sol. Espera, o sol? Isso significa que estou atrasado! Abro meus olhos com dificuldade, o mesmo se arregala ao ver que já são oito e quarenta e cinco no relógio do criado-mudo. Levanto-me da cama rapidamente e tiro minha única peça de roupa antes de entrar no banheiro. A água escorre em meu corpo. Isso é tão bom. Normalmente eu ficaria aqui por mais  bom tempo mas tenho que abrir a sorveteria em quinze minutos. Por que Noah não me acordou? Eu vou matar ele.

Saio do banheiro ainda um pouco molhado e pego as primeiras peças de roupa que vi no armário. Calça jeans e camiseta, o básico. Visto-me na mesma velocidade. O dia já está corrido e nem começou direito. Saio do quarto e vou até o do meu amorzinho, estranhamente ele não está lá, no quarto, na cama, no mesmo lugar de sempre. Ele saiu mais cedo e não me avisou?

Passo pelo corredor e ando até a cozinha. Lá o encontro.

- Por que você não me acordou, Noah Urrea? - pergunto. Percebo que ele toma um leve susto antes de virar-se pra mim. Suas íris verdes se encontram com os meus olhos. Seria uma bela cena de romance se eu não tivesse atrasado e puro da vida.

- Você estava dormindo tão bem que preferi não acordá-lo, princeso - é o que tenho como resposta. Vejo que ele está fazendo alguma coisa no fogão.

- Você sabe que eu tenho que abrir a sorveteria em poucos minutos, não é? - sento numa cadeira do pequeno balcão.

- Você é dono dela, Josh - diz-me como se eu não soubesse. - Não precisa se desesperar!

- Mas eu tenho clientes - retruco.

- Você está com raiva por que deixei você dormir até tarde? - pergunta-me. Seus olhos fitam os meus. Já sei onde ele quer chegar.

- Não é o que você tá pensando - afirmo.

- Josh, você tem dormido bem menos do que devia, eu só quero que você relaxe de vez em quando - conta.

- Você sabe o que me faria relaxar?...

- Por favor, pare antes que se arrependa - ele tenta me persuadir.

- Se você dormisse na minha cama - concluo.

- Você tem que parar de flertar comigo - fala.

- Só depois que você transar comigo - digo. Eu adoro provocá-lo.

- Seu sanduíche está pronto - ele foge do assunto, ele sempre foge.

Noah põe um prato na minha frente sai da cozinha. Eu amo quando ele cozinha.

- Eu te amo, sabia? - grito para que ele escute logo depois que dei a primeira mordida em mais uma obra perfeita de Noah Urrea.

- Na verdade, eu sei sim. Você faz questão de falar isso todos os dias - é o que recebo como resposta. Sorrio.

- Era pra você dizer "eu também te amo, Josh Beauchamp" - falo.

- Sem chance - escuto-o dizer da sala. - Vamos logo ou vamos nos atrasar mais ainda.

- Já vou! - digo.

Vou correndo até o quarto, ainda com o sanduíche na mão, e pego minha bolsa de lado marrom. Me olho no espelho e percebo que as raízes do meu cabelo estão voltando a ficar loiras novamente, é hora de pintar de novo. Saio do quarto, passo pelo pequeno corredor e vejo Noah na porta. Dou mais uma mordida na delícia que Noah fez, enquanto saio de vez do apartamento, descemos as escadas porque esse elevador de merda nunca está prestando e andamos até o carro.

- Você vai querer café? - o de cabelos longos pergunta assim que entramos no carro. Ele vai dirigir hoje.

- Sim ou com certeza? - pergunto de volta. Ele sabe que eu não consigo viver sem café, por que ele insiste em perguntar?

- Você não devia tomar café - avisa.

- E você devia estar com os lábios colados nos meus mas não está, então não reclame - brinco. Ele já está acostumado.

- Eu desisto de você! - diz-me antes de dar partida no carro e o veículo entrar em movimento.

O trânsito de Los Angeles resolveu ficar péssimo justo hoje. Ah, que ótimo, eu mereço. Paramos no restaurante com drive-thru de sempre e pedimos o mesmo café de sempre. Como sempre. Acho que o moço moreno e bonito já criou uma intimidade com a gente.

Em poucos minutos o nosso pedido estava pronto e Noah o pegou da mão do atendente e deu para eu segurar enquanto pagava pelo pedido. Por que esse cara tá olhando tanto pra mim, em?

Olho para os copos por alguns segundos e vejo que no meu tem algo diferente, tem um papel com algo escrito "estão atrasados hoje, em?". Eu sorrio. Não vou mentir, achei fofo.

- Olha que bonitinho - falo ao mostrar o bilhete para Noah.

- Nossa, não acredito que aquele ridículo está dando em cima de você - ouço ele dizer sem nem mesmo olhar pra mim.

- O quê que tem? - pergunto. - Eu também sou humano e sou paquerado de vez em quando.

- Mas na minha frente? Sério?

- Está com ciúmes, Noah Urrea?

- Achei que todo mundo achava que éramos namorados - ele conta.

- Ele só não pensa isso porque eu disse pra ele que não era bem assim - afirmo.

- Como assim? Quando vocês se falaram? Achei que vocês só se viam quando vamos comprar café - sua série de perguntas me assusta.

- Foi na semana passada quando eu almocei no restaurante e ele estava como garçom - digo. - Ele é realmente muito gentil.

- Hm - ouço resmungar como resposta.

- Você não devia ficar com ciúmes, gatinho - minha função na Terra é provocá-lo.

- Faça o que quiser - frase típica de quando ele está com raiva, lá vem. - Aliás, eu acho que você e ele fariam um belo casal.

- Sério? - mostro animação.

- Sim - ele afirma. Só então percebo que ele está sendo irônico. - Só assim pra você sair do meu pé!

- Aish, você é ridículo - brinco. Acerto-lhe com um soco fraco no ombro.

Ficamos calados, isso não é bom. Ficar calado me faz pensar. E isso me faz refletir sobre essa relação que temos. Eu gosto dele e ele sabe, ambos já nos acostumamos com isso. Mas às vezes suas rejeições doem. Doem muito. Eu não tenho um coração de gelo. Ainda não. Eu me importo com o que ele fala e como fala. Desde o ensino fundamental, quando nos conhecemos, eu faço de tudo para agradá-lo... Mesmo sabendo que não vai ter retribuição, não do jeito que eu quero. Eu nem posso reclamar, afinal, eu nem devia gostar dele. E se gosto é problema meu e, segundo ele, ele não tem nada com isso.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora