Eu estou indo na farmácia

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Nem percebi a hora que adormecemos, mas aconteceu. Quando acordamos já eram onze horas. Teu cabelo bagunçado, o biquinho em teus lábios, teu corpo colado ao meu. Tudo foi propício para que eu me apaixonasse mais uma vez por ti. Mas tem um problema. Tua pele está quente, sua vista cansada e te vi tossir algumas vezes. Você está doente.

- Vou à farmácia comprar algo pra você - aviso. Ponho uma calça jeans e um sobretudo. - Volto já.

Dou-lhe um beijo na testa e vejo um pequeno sorriso formar em seu rosto. Saio do quarto, desço as escadas e dou de cara com mamãe e Joalin jogadas no sofá.

- Achei que você começaria a acordar cedo a partir do momento que comprou aquela sorveteria - mamãe comenta.

- É que Noah acordou um pouco doentinho então fiquei cuidando dele até agora - explico. - Mas normalmente acordo cedo, sim.

- Doentinho? - Dona Úrsula enfatiza uma palavrinha que até então eu nem tinha percebido que saiu da minha boca. - Você trata esse garoto como se fosse uma criança.

Fiquei com medo desse comentário, mas assim que ela sorriu de lado percebi que não foi maldade. Juro, que nunca percebi isso. Eu trato Noah como um filho? Não, né? Já que eu não teria pensamentos, do tipo que tenho com Noah, com um filho meu. Isso está fora de questão.

- Enfim, vou comprar remédios... - Aviso e já vou em direção a porta. Ninguém questiona então sigo em frente.

Ando apressado. Meus olhos percorrem curiosos, mesmo que eu não queira. Cheguei na esquina e finalmente percebi que não sei onde fica a farmácia. Eu sou burro. Não quero voltar pra perguntar onde é, já que com certeza vão me chamar de esnobe ou coisa do tipo porque não sei onde ficam as coisas do bairro onde eu nasci, então decido prosseguir. Vai que enquanto eu ando por aí minha memória volta.

Ando por várias ruas aleatórias. Vejo supermercados, parques e até livrarias mas nada de farmácias. Decido levantar bandeira branca e desistir. Chego próximo à uma garota loira e demasiadamente baixa.

- Com licença, você... - minhas palavras se perdem quando a garota loira se vira, permitindo que eu visse quem era. - Sofya?

- Josh?! - ela grita e me envolve num abraço super apertado.

Sofya estudava na mesma escola que eu quando éramos crianças, eu costumava aqui para irmos juntos. Não sei como não reconheci.

- O que você está fazendo aqui? - me desprende um pouco de seu abraço, seu sorriso me contagia.

- Vim passar as férias - conto. - Você ainda mora aqui?

- Sim. Meus pais se apegaram a essa casa e muito provavelmente eu herdarei - não sei nem o que responder. Quem iria querer viver num lugar assim?

- Fico feliz por você - afirmo.

- Pra onde você está indo? Parece meio perdido.

Sério? Está tão na cara assim? Parece até que estou andando com um mapa na mão ou uma escrito "não sabe o que tá fazendo da vida". Por deus, eu estou assustado.

- Eu estou indo na farmácia - conto a verdade. - Mas não sei onde fica. Pode me ajudar?

Ela ri. E não é pouco, é tipo muito, muito mesmo. Ela fica vermelha de tanto rir. Assim fica quase impossível esconder minha cara de tacho.

- Você não lembra onde fica? - me questiona entre gargalhadas.

- Não aja como se fosse minha obrigação - respondo, porém acho que fui rude demais.

- Desculpa, não quis parecer mal educada - ela não parece nem um pouco arrependida. Deve ser o jeito dela. Respiro fundo. - Eu te levo lá, se quiser.

- Não precisa, apenas aponte e eu sigo - tento parecer gentil.

- Tem certeza que não vai se perder? - lanço-lhe um olhar cortante e então reviro os mesmos. - Estou brincando, Josh. Onde está seu senso de humor?

- Deixei na França - tento parecer sério. Traçamos uma caminhada.

- Você estava na França? - Sofya não esconde a curiosidade.

- Não! - respondo.

- Mas...

- Onde está seu senso de humor, Sofya? - pergunto ironicamente.

- Você realmente virou um garoto de cidade grande...

Ignoro seu comentário. Pergunto sobre sua vida, apenas pra passar o tempo. Ela me conta sobre a escola, seus novos amigos e seu namorado. Acho incrível como até a Sofya, que é mais nova que eu, namora e eu continuo encalhado. Nem toquei no assunto "Noah Urrea" por enquanto.

A farmácia não ficava muito longe. Entrei, peguei alguns remédios diferentes, examinei cada um. Tenho que ser rigoroso já que é para o Noah. Escolhi um que, pra mim, era o melhor, Sofya concordou com minha escolha. Paguei pelo produto e saí.

Novas conversas surgiram. Falei sobre sobre as diferenças entre o Canadá e os Estados Unidos. Evitava falar da minha vida pessoal, como amor e essa coisas pra não parecer problemático. Ela não seguiu o mesmo critério, contou-me tudo. Suas paixões, as festas que costuma ir, seu gosto musical. Agimos como se fôssemos melhores amigos outra vez.

Chegamos à sua casa de novo, me despedi com um abraço e um beijo e andei de volta pra minha. Será que Noah está bem? Acho que demorei demais.  Me sinto mau por ter deixado ele sofrendo pra ficar de conversinhas banais. Argh.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora