Eu não acredito que te expulsaram de mais um restaurante!

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O dia estava normal. Me despedi da Heyoon assim que ela me pagou e lançou-me mais um de seus olhares encantadores junto a um sorriso. Eu retribuí com um aceno de mão e observei ela se retirar.

Quando menos percebo já estou alimentando meu vício com a única coisa que me faz continuar vivendo. Quando percebo já estou encharcando meu corpo com a bebida que as pessoas tanto me aconselham a não tomar. Sinto a cafeína invadir meus órgãos digestores dando-me vida. Era disso eu precisava pra começar o dia: um bom copo de café.

Suspiro alto. Tudo voltou ao ponto incial. Um tanto entediante. Achei que continuaria assim por mais algumas longas horas, mas perdi esse pensamento quando vi uma certa pessoa esbanjando todo o seu garbo e elegância ao desfilar da porta da sorveteria até meu encontro.

- Olá, Josh - sua voz adentrou meu ouvido como uma música, uma melodia. A melhor delas, eu diria. Seu tom seduzente e entusiasmado, ao mesmo tempo, me deixava ansioso para a próxima história que estou prestes a ouvir; sempre tem uma.

- Qual a novidade de hoje, Any Gabriely? - pergunto com meu maior sorriso. Ela sim é uma luz nos dias trevas.

- Primeiramente, me sirva um pouco de café - ordena-me. - E, Bom... sim, eu tenho novidades.

Era a Any, eu estudei com ela por longos dois anos de minha vida - segundo e terceiro ano -. No primeiro ano eu achava ela muito metida mas percebi que ela não é bem assim. Sirvo um pouco de café numa xícara e vejo um sorriso aparecer em seu rosto. É nosso vício diário. Sinto a empolgação invadir meu corpo. Caminho para o outro lado do balcão e me sento numa cadeira ao lado da elegante e formosa moça.

- Lembra daquele cara tarado que eu conheci na sexta passada? - ela começa.

- Sim - respondo. - O da boate, né?

- Ele mesmo - Any confirma. - Eu fui jantar com ele ontem.

- O quão ruim foi numa escala de zero a dez?

- Meu anjo, foi tão ruim que eu poderia chamar de piada de idosos - diz. Não evito dar uma risada bem alta, percebo alguns olhos em minha direção.

- Foi ruim assim?

- Ele só sabia falar de game of thrones e coisa do tipo. O que ele acha que eu sou pra ficar escutando essas baboseiras?

- E por que motivo saiu com ele então?

- Cara, se você visse o quanto aquele cara é gostoso você também teria dado uma segunda, terceira ou quarta chance pra ele - ela fala com tanta verdade que chego a acreditar sem nem mesmo ter o visto.

- Mas rolou o... Enfim, você sabe - pergunto curioso. Necessito de detalhes.

- Você nem vai acreditar em como terminou nossa noite - ela fala toda empolgada. Provavelmente, sim, rolou o que eu estou pensando ao julgar pela animação em sua voz.

- Por favor não pare de falar ou minha mente curiosa vai cometer um breve suicídio - aviso. Nada melhor que uma hipérbole para fazer as pessoas contarem seus segredinhos sujos.

-  Ok, aí a gente estava num restaurante, devo enfatizar que era super chique - sua voz saiu como um sussurro na última frase. Como se alguém nos escutasse. - E, do nada, chegou um cara e gritou: Larga do meu marido sua prostituta escrota.

- Como assim? Ele tinha um marido? - minha voz de empolgação era explícita. Eu amo quando ela vem com essa histórias emocionantes.

- Aparentemente, sim - me responde ao brincar com uns canudos que estavam sobe o balcão.

- E o que você fez depois?

- Ora, o que eu fiz depois? - ela se ajeita na cadeira de uma forma engraçada. - Eu cheguei nele e perguntei quem ele chamou de prostituta, ele me respondeu, e levou um tapa como recompensa pela ousadia.

- Por favor, me diz que está brincando - peço. Ela só pode ser louca.

- Brincar eu fiz ontem quando esfreguei a cara daquele filho da mãe no chão do restaurante depois de ele ter tocado meu lindo e falso cabelo - Afirma.

EU NUNCA RI TANTO!

- Eu não acredito que te expulsaram de mais um restaurante, Any Gabriely! - comento, fingindo uma voz de decepção. Essa menina dá muito trabalho.

- Não foi culpa minha, o marido dele pediu pra apanhar - ela tenta se explicar mas só se complica.

- Você é doida!

- Meti porrada com vontade naquele viadinho - ela comenta.

- No viadinho? Sério? - ela tem que parar de fingir que não lembra do fato de eu ser gay só pra me irritar, eu odeio isso e ela sabe.

- Ai, desculpa, não quis ofender sua espécie - Any diz com um tom de deboche.

- Disse o que, piranha? - levanto-me e imito voz de lutador de boxe ou qualquer coisa do tipo. - Vem pra briga, vem!

- Alá, ele quer apanhar também - Any se levanta. - Deixe eu tirar minhas unhas postiças primeiro!

Eu rio. Rio da nossa brincadeira boba. Rio do fato de eu sempre gostar das suas histórias emocionantes. Mostro meu maior sorriso enquanto brinco de fingir estar socando sua barriga e ela segura meus ombros numa cena dramática e bastante estranha, admito. Eu adoro ela, é uma das poucas pessoas que me fazem bem. Isso é tão ridículo que chega a fazer sentido, eu acho. Às vezes também tenho vontade de contar minhas histórias super divertidas e cheias de vida para as pessoas... o problema é que eu não tenho nenhuma!

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora