Eu preciso de algo clichê

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Despedidas são estressantes. Eu não sou muito bom com essas coisas pois sempre temos que demonstrar afeto. Eu gosto dos abraços, gosto dos beijos, mas odeio a sensação de deixar alguém triste.

Isso é tão estranho. Eu gosto de mudar quando algo não me agrada mais, faço isso com frequência. Mas não penso no que os outros vão sentir até que eles estejam emotivos à minha frente.

E foi assim que nos reunimos mais uma vez aqui em frente, mas dessa é pra minha despedida. Daqui a algumas horas estarei no avião e mais algumas outras pra eu estar em casa... Ou longe dela.

Minha mãe tenta não chorar, como sempre. Meu pai põe a mão no meu ombro e me deseja sorte, como sempre. Jaden não para de fazer piadas, como sempre. E Joalin, ah, essa, além do abraço apertado, me deu uma carta. Pediu pra que eu abrisse quando chegasse nos Estados Unidos, assim farei. Então eu sorri por educação, demonstrei afeto pra que ninguém se sentisse mal e acenei pela janela de vidro quando o táxi partiu.

Fiz meu papel de bom ser humano.

No carro, Noah com fone de ouvido e eu olhando pro teto. Não que estejamos brigados, mas acho que não estamos nos falando pra evitar que isso aconteça. É o que sempre acontece.

A verdade é que eu queria não gostar dele. Odeio o fato do meu corpo necessitar do seu. Não tem mais nenhuma saída, eu me perdi no caminho para achar seu coração. Mas não, eu nunca vou culpá-lo por não ter sido recíproco.

Eu fico imaginando como seria uma terceira pessoa vendo a gente. O que diria de nossas idas e vindas? Quem você pensa ser o errado? Você vê amor no meio de todo esse caos? Que nada. Qualquer um não suportaria. É muito intenso, é verdadeiro e questionável ao mesmo tempo, não existe um lado certo e um errado. Isso me deixa inseguro, sabe?

Nesse vai e vem de sentimento, eu tento me achar. Uma hora estamos felizes, você me beija, me abraça e certa vez disse que me amava. E eu nunca, nunca senti tamanha emoção. Mas vem as horas más do meu dia. Quando você me nega, quando você nos nega. Quando rejeita minhas carícias e, automaticamente, meu coração. Então diga, amor, o que se passa aí dentro?

E eu estou triste. Triste mas não quero que ele me beije pra tentar curar minhas cicatrizes ou me fazer sentir melhor. Quero que ele fique junto a mim, assim como eu ficaria junto a ele. Isso é injusto demais. O amor é realmente uma droga. O amor vicia, faz-nos querer mais e mais, porém nos faz tão mal quanto bem. Eu só queria uma explicação, queria respirar. Abro a janela do carro e deixo o vento frio beijar minha pele.

No aeroporto, esperamos sentados numa loja na área de alimentação. Você me disse o quanto achou boa a viagem, deu ênfase no dia que visitamos o jardim botânico. Eu observava, assentia e sorria.

Sabe, Noah, eu amo o jeito que finge que nada está acontecendo, eu queria fazer o mesmo. Eu amo quando você sorri e afasta seu cabelo do rosto enquanto eu sinto vontade de chorar toda vez que penso em nós. Espera, eu disse "nós"? Me desculpe, é o hábito, mas não existe um "nós", somente uma individualidade conjunta.

Após o check-in entramos no avião e nos acomodamos um ao lado do outro. Eu não seguro tua mão, como fiz na primeira vez. Eu não te olho nos olhos pois tenho medo de não me segurar. Ainda não decidi se vou fazer algo bom ou ruim. Nem gosto de me afugentar nessas tecnologias estapafúrdias, mas ponho meus fones no ouvido, me ajeito na poltrona e fecho os olhos.

E a música está falando sobre romances deteriorados então passo-a. Desta vez, sobre tentar esquecer um amor que fazia mal. Decido desligar o telefone. É só isso que existe? Amores não resolvidos ou que fazem mal? Por favor, me dê uma música legal. Bem brega, bem como nossos avós gostariam, com palavras melosas e tudo que temos direito. Não achei que isso seria possível mas...

- Eu preciso de algo clichê.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora