Já é noite e estou jogando City Island porque não consigo dormir. É sempre assim. Todo dia antes de dormir (quando eu consigo dormir) fico pensando nas coisas que aconteceram durante o dia, se fiz algo de errado, se deixei uma má impressão. Às vezes eu só queria ser uma daquelas pessoas que fazem merda e depois, simplesmente, nem pensam mais nisso. Eu me tornei quem eu mais temia... Um cidadão idiota que deixa de viver sua vida por causa do medo do que as pessoas vão falar. Eu me tornei mais um hipócrita.
Eu compro casas novas, dou emprego aos cidadãos, gasto com decorações. Apenas nesse jogo eu sinto que estou satisfazendo todo mundo. Viver com um peso nas costas e não saber o porquê de se sentir assim é tão bizarro que chega a ser assustador.
Noah aparece na porta do meu quarto, está usando o pijama com desenhos de pequenos sorvetes que eu dei pra ele no natal do ano passado. Tô sentindo que lá vem sermão por eu ainda estar acordado. Ele anda até a minha cama e senta na beirada
- Eu já vou dormir, não se preocupe - aviso de antemão.
Ele suspira alto, não impaciente mas sôfrego. Não diz nada, apenas me olha. Ficamos assim por alguns segundos, encarando a íris um do outro. Ele sentado e eu deitado. Vez ou outra minha visão falha, uma mistura de álcool e um pouco de sono.
- Eu me preocupo com você - conta, baixinho como os grilos que cantam lá fora.
- Apenas vá dormir, eu já estou indo também.
- Você já tomou um dos remédios hoje? - pergunta.
- Não - esse é o único motivo pra eu ainda estar acordado.
- Não precisa tomar, está bem? Eu venho te botar pra dormir hoje - ele diz. Me surpreendo, será que é efeito do álcool?
- Não precisa, eu nem ia tomar hoje - conto. - Acho que bebidas alcoólicas e remédios não se dão bem.
- Mais um motivo pra eu vir dormir aqui hoje - Noah se levanta. - Eu vou escovar os dentes e já volto, ok?
Apenas afirmo com a cabeça, eu sei que não vou fazer ele mudar de idéia mesmo. O que me resta é esperar. Esperar seu cheiro doce, sua pele macia, sua quentura corporal em baixo dos meus lençóis. Mais uma vez na vida estou esperando para que o sofrimento venha até mim.
Minutos depois, cá está ele, me abraçando por debaixo das cobertas. Eu deitado em seu peito e seu pé arrastando no meu. Vez ou outra permito-me beijar seu pescoço. Ele não reclama, o que me dá liberdade para fazer outras vezes.
- Está se sentindo bem? - pergunta-me. Sua voz calma e serena faz-me lembrar de uns trezentos motivos pelo qual eu amo ele.
- Melhor impossível - digo.
- Quer que eu cante pra você?
- Eu queria que você fizesse outra coisa ora mim - malícia, malícia, malícia.
- Quer que eu faça um ASMR?
- Quer me deixar excitado?
- Tem gente que sente sono quando as pessoas fazem isso - afirma.
- Eu com certeza não sou uma dessas pessoas.
- O que você quer então? - pergunta. Eu olho pra cima e fito seus olhos, sem tirar minha cabeça de seu peito.
- Você não vai querer saber - deposito minha mão em sua cintura, até então sem malícia alguma.
- Apenas me conte e eu decido se vou gostar ou não - até parece que ele não sabe o que é.
Eu desejo seu corpo, Noah Urrea.
- Eu quero que você pare de esfregar sua ereção em mim - brinco, mas acho que foi maldade.
Ele me afasta rapidamente de seu corpo, talvez nem tenha percebido que estava excitado. Eu me sento e logo em seguida ele também. Apenas observo seu rosto, agora vermelho, pela luz da lua que invadiu nossa casa pela fresta da cortina.
Eu devia fazer alguma coisa?
- Não se preocupe - tento confortá-lo mas percebo que é a pior coisa que se pode dizer nesses momentos. - Pode ir no banheiro ou, sei lá...
- Tem certeza que você é gay? - pergunta. O que ele quis dizer com isso?
- Como assim? - pergunto confuso.
- É que você nem sabe o que fazer quando alguém fica excitado perto de você - diz.
- O que você quer que eu faça? - eu tentei, mas não consegui conter uma certa malícia nessa frase.
- Você sabe o que eu quero, Josh, não se faça de santinho - seu rosto se aproxima do meu, seus olhos verdes estão cada vez mais perto, tua mão toca minha cintura e vai descendo lentamente.
- O que é isso, Urrea? - tiro sua mão de mim, sei que ele está brincando... E se não estiver é porque ele está bêbado. Tenho que resistir as tentações!
Ele ri. Talvez fosse o meu quase grito de desespero ou minha cara de quem não tá entendendo nada mas... Ele apenas ri.
- Eu só queria devolver na mesma moeda - conta.
- Você é mal - retruco.
- Ok, já podemos dormir agora - ele diz ao se ajeitar entre os lençóis e então deitar-se. Eu cerro meus olhos e fico o encarando por alguns segundos, esperando mais uma gracinha vindo da sua parte. - Eu não vou fazer mais nada, ok?
- Que seja - falo por fim.
Volto a me deitar, dessa vez não o abraço, apenas fito o teto como se algo interessante estivesse ali. Não me importo se ele está me olhando ou não, apenas olho pro nada e tento achar uma resposta pra o porquê de eu ter me apaixonado por alguém que nunca vai retribuir o meu amor. Nunca vai ser recíproco. Isso dói.
- Josh?
- Hm.
- Se você parar de tomar os remédios pra dormir eu venho aqui todos os dias fazer o mesmo serviço mas sem te matar aos poucos, está bem?
Parece engraçado, Noah não quer me machucar mas acaba sendo tão perigoso quanto o remédio que tomo pras noites de insônia. Eh, parece que está havendo uma competição pra ver quem mata primeiro.
Ele deve estar bêbado, prefiro nem responder a isso...
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Flowers & Ice Cream ✰ Nosh ❖ Now United
Fanfic✎ ༶ ❝Um drama onde Josh, um garoto à moda antiga e doce como sorvete, gosta de Noah, uma amante de flores e culinária, que mora consigo e que lhe traz flores como forma de agradecer pelas gentilezas todos os dia.❞ Since: 21/03/2020 End: 18/07/2020