Flowers & Ice Cream ✰ Nosh ❖ Now United

Eu te pagarei em dobro esse mês...

Num piscar de olhos tudo pode acontecer. Pessoas vêm, pessoas vão. Catástrofes acontecem e deixam de acontecer. Cafés rasgam nossas gargantas tantas vezes que perdemos a conta. Num piscar de olhos, já se passaram duas semana e uma viagem que parecia distante da minha realidade vai acontecer em poucas horas.

Se estou animado? Eu poderia, na mais absurdas das minhas hipérboles, dizer que minha felicidade criou braços, moveu a montanha da alegria pra perto da cascata dos sorrisos bobos e me deixou no estado que estou. Então, sim, eu estou um pouquinho animado.

Mesmo sendo um dia importante pra mim, por conta da organização e dos últimos acertos sobre a viagem, eu tenho que vir trabalhar. A vida de um empresário é mesmo um saco. Queria poder estar em casa, com Noah, perguntando se ele está bem ou se quer alguma coisa. É a primeira viagem dele pra fora do País e eu estou aqui, trabalhando, ao invés de estar ao lado dele, tranquilizando-o. Me sinto muito inútil.

Por um momento esqueci de perguntar pro Krystian, o garoto que trabalha aqui apenas a tarde, se ele poderá ficar cuidando da loja durante a minha viagem. Fiz isso ontem a noite e chamei-o aqui hoje para conversar melhor. Estranhei a chegada dele com a garotinha que vem aqui frequentemente, a Heyoon.

- Hey, Josh, quanto tempo que não te via - Krystian diz ao se aproximar de mim.

Chega a parecer estranho essa frase dele, mas é verdade, quase não nos vemos. Eu trabalho num período, ele trabalha no outro, não precisamos nos encontrar frequentemente.

- Verdade - fazemos um aperto de mão estranho. Ele vem para esse lado do balcão, a garota senta numa das cadeiras. - Pintou o cabelo de novo?

-  Sim - concorda. - E você tá precisando também, né?

- Sim, sim. As partes loiras estão quase no meio do cabelo, me dá vontade arrancar a força. - admito. Não suporto meu cabelo com essa coloração sem graça.

- Não entendo essa sua negação com cabelos loiros - Krystian está a se movimentar por aqui, acho que está preparando algo para a garota que eu presumo ser sua namorada. - Iria agradecer se minhas raízes já nascessem loiras, eu economizaria bastante dinheiro.

- Por falar em dinheiro, eu te pagarei em dobro esse mês se você ficar cuidando da sorveteria por mim - proponho. Apoio minha cabeça na minha mão e meu cotovelo no balcão. Deixo escapar um biquinho em meus lábios.

- Pra mim está tudo okay... - ele revela e eu já abro um sorriso automático no rosto. Ele finalmente põe um Milk Shake para a garota sentada do outro lado do balcão. - Estou juntando dinheiro para viajar no final do ano... Então nem invente de querer viajar no final do ano Beauchamp!

- Okay, Okay. Eu faço tudo que você quiser! - dou-lhe um abraço. Quando desgrudo meu corpo do seu, reparo no semblante da Heyoon. - É sua namorada?

Desculpa, eu tinha que perguntar. E então ouço eles riem, não, gargalham sem para. Tô entendendo nadinha.

- Nah - ele nega, quando consegue algum ar para fazer tal ato. Sua forma de falar ainda é bem típica da cultura asiática. - deus me livre ter essa praga como namorada.

- Olha quem fala, você é tão rejeitado que ainda é virgem - a garota, até então calada, retruca. Eu sorrio, ainda sem entender nada sobre a relação dos dois, talvez eles sejam amigos apenas.

- Eu não sou rejeitado, só quero achar a pessoa certa - Krystian quase grita.

- Isso é uma desculpa pra não confessar que é rejeitado! - Heyoon, com sua voz dócil e seu jeito fofo mesmo numa briga, expõe o garoto.

- Alguém me explica o que está acontecendo? - interrompo-os.

- Esse encosto é minha irmã - o loiro explica. E, é, faz sentido.

Continuamos ali, conversando. Eu perguntei algumas coisas sobre eles. Me assustei com o fato de que eu Krystian trabalhávamos "juntos" iria fazer um ano mas nos conhecíamos muito pouco. Eu realmente não venho socializado muito nos últimos tempos.

Eu e Krystian discutimos sobre o salário. Eu disse pra ele que não sabia ao certo quando voltaria, ele aceitou numa boa. A Heyoon ficava apenas olhando nossos assuntos chatos e burocracias bobas.

Clientes vem e vão a toda hora. É bom ver pessoas novas o tempo todo, assim não vai parecer que eu virei um retardado-social que vive de casa pro trabalho e do trabalho pra casa.

Eu me tornei quem eu mais temia... Um adulto!