Eu sei que você também quer!

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Eu amo ele. Amo seu toque. Amo seu cheiro. Amo tocar seu cabelo e... Eu queria muito dizer que amo seu gosto, mas nunca cheguei a experimentar. Ah, se ele soubesse o quanto o amo, o quanto ele me faz bem. Eu queria que ele acreditasse que não sinto apenas algo carnal. Queria mesmo.

Aqui estou eu, jogado no sofá, acariciando seus fios de cabelo macios. Estamos vendo um filme. Sempre olhamos o catálogo do Netflix quando não temos nada o que fazer. Eu queria um romance, ele queria aventura, acabamos por escolher um filme de suspense. Ele sempre quer o contrário de mim, isso é impressionante.

Sua cabeça está em meu colo, ele tem esse jeito folgado desde que nos conhecemos no Colégio. Ele me tortura com seus carinhos. Eu sei que não é a intenção dele mas é isso que sempre acontece. Cada abraço, cada beijo, cada flor. Tudo é como uma grande tortura pra mim, uma tortura boa, como se de repente eu tivesse virado um masoquista.

Acabo prestando mais atenção em seu rosto do que no próprio filme. Eu gosto de contemplar o seu semblante pintado não por deus mas por algum artista renascentista. Afinal, pra que outro fim teria esse corpo maravilhoso senão para ser admirado e almejado a cada minuto?

- Eu quero beber alguma coisa - seu rosto vira pra mim e só então volto pro mundo real.

- Tem suco na geladeira, quer que eu pegue pra você? - pergunto de boa vontade.

- Eu estava pensando em algo mais forte - conta.

- Tipo o quê?

- Vinho - é o que responde e eu já estou pensando em mil maneiras de tirar isso da cabeça dele. Eu sei que, mesmo sendo estranho e anti-ético, no colégial essa sempre foi nossa bebida favorita mas temos que manter esses hábitos no passado. Amadurecer.

- Sem chances - mantenho meus olhos na televisão para não cair em seus feitiços.

- Por que não? - Noah levanta rapidamente. Agora ele está sentado, sua roupa bagunçada. Quantos pensamentos impuros uma pessoa pode ter em poucos segundos?

- Por que você é de menor - digo, ainda sem olhar pra ele.

- Não aja como se fosse um velho de cinquenta e poucos anos, Josh Beauchamp!

- Noah, não é não.

- Mas a gente bebia antes de você começar a brincar de ser meu pai - ele não vai me fazer mudar de idéia, não dessa vez.

- É diferente agora.

- Diferente por quê?

- Por que agora eu sou seu responsável - explico. É tão estranho dizer isso.

- Josh, pelo amor de deus, eu já tenho quase dezoito anos - diz.

- "Quase" não é dezoito ainda - faço questão de enfatizar a primeira palavra.

- Aish, Josh, por favor - seu tom de voz muda completamente, agora está calmo e suave.

- Não - é tão difícil falar essa palavra mesmo sabendo que até eu quero tomar um pouco, faz tempo que eu não bebo.

- Eu sei que você também quer! - sua voz melosa me faz sentir coisas, coisas que não deveria estar sentindo. Sua mão toca minha coxa, seu rosto se aproxima. Eu sei que eu não devia, mas vou conceder só porque eu não aguento essa tortura.

- Mesmo se eu deixasse, você vai sair pra comprar? - pergunto, ainda quero fazer ele desistir.

- Você tem uma garrafa escondida no congelador - diz-me. Fico boquiaberto, como ele sabe disso?

- Tá mexendo nas minha coisas?

- Eu também moro aqui, lembra? -

Contra fatos não há argumentos. Respiro fundo.

- Está bem - digo por fim. Vejo um sorriso formar em seu rosto. Porra, eu tenho que parar de deixar ele me influenciar desse jeito. - Mas essa vai ser a última vez, tá ouvindo?

- Ok, ok - dá-me um beijo no rosto, eu me derreto todinho. Seus lábios quentes não colaboram em nada com minha situação. - Eu vou pegar as canecas.

Sim, a gente toma vinho em canecas. Por quê? Eu também não sei. Talvez pra criar tendência. Eu e ele nunca fomos normais, não juntos. Nossos antigos amigos nos apoiavam como casal mais que tudo, todos queria... Menos Noah.

Acompanho com os olhos seu corpo voltar para sala carregando uma garrafa de vinho barato - cujo nós julgamos ser os melhores - e duas canecas. A sua caneca é colorida e cheia de vida, como ele. A minha é branca e sem graça, como a mim.

Noah me serve e depois a si mesmo. Eu já estava esquecendo o porquê de eu gostar tanto assim de vinho. Esse gosto peculiar, o cheiro de uva e álcool, tudo me lembra quando eu conheci o Noah. Faz-me voltar ao passado, lhe exclamar um "oi" tímido e envergonhado novamente, me lembrar de seu "olá" doce e calmo. Sua voz pacífica como numa manhã de Domingo. Será que ele lembra do mesmo que eu? Não importa, me contento em lembrar da origem do amor que guardo no peito. Nem sei porque mas gosto disso.

Eu limpo o "bigode" feito pelo líquido em seu rosto. Ele senta entre as minhas pernas, de costa pra mim. Eu o abraço, acomodo seu corpo ao meu. Isso é bom. O vento entra pelas janelas e refresca nossos corações. Voltamos a assistir o filme enquanto bebemos vinho. Juntos e sem preocupações, como sempre foi.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora