Pareço dono de um asilo para velhinhos. Desde que as meninas se machucaram estou bancando o cuidador delas enquanto suas devidas caronas não chegam. Shivani foi a primeira a sair e, levando em consideração que ela também foi a última a chegar, sinto que a pequena não estava nem um pouco afim de vir aqui hoje.
Então cá estou eu, assistindo mais um punhado de vídeos aleatórios que aparecem no meu YouTube pra passar o tempo. Diarra não para de reclamar sobre sua dor na costa mas se recusa a ir no hospital, o que me causa uma leve agonia por ser tão contraditório. Sabina liga pro irmão dela de dois em dois minutos pra perguntar se ele já está chegando, o mesmo sempre diz que ela ficar ligando não vai fazer o trânsito andar mais rápido. Eu rio todas as vezes, ele parece ser legal, vou adorar conhecê-lo.
- Eu jamais comeria isso - Diarra torce o nariz ao falar da comida asiática que o reprodução automática do YouTube acabou por nos fornecer e ninguém teve coragem o suficiente pra pegar o controle da TV e tirar daí.
- Sei não, vai que tem o gosto bom - Sabina comenta, sem muito ânimo.
- Duvido muito... - Diarra faz cara feia e depois aponta pra TV. - Olha pra isso!
- Vocês enfiam queijo no macarrão por aqui, por que eles não podem pôr feijão? - Sabina retruca.
- Uma coisa é queijo, outra coisa é esse negócio estranho aí - Diarra tá pronta pra começar uma confusão e eu não mereço isso.
- Vocês percebem o quanto essa conversa é desnecessária? - resolvo me pronunciar.
- Foi ela quem começou - Sabina aponta pra Diarra mas nem olha pra ela.
Acabei por voltar pro Jardim de infância e nem percebi, olha que interessante. Um pouco de açúcar agora seria ótimo pra aliviar meu estresse mas sei que não posso porque Diarra vai reclamar até perder a voz, então abraço a almofada do sofá com força pra que algo me reconforte.
O barulho da campainha toca e eu respiro fundo umas duas vezes até ter vontade o suficiente pra levantar e ir atender. Pressiono minha cara na porta pra ver quem é pelo olho mágico e vejo ninguém mais e ninguém menos que o entregador do restaurante. Será que já posso ficar com medo? Eu não pedi exatamente. Sabia que um dia ele viria aqui pra exterminar eu e Josh e, minha nossa senhora, esse dia chegou mais rápido do que imaginei. Eu vou correr.
- Noah, atende logo essa porta - Diarra pede após o segundo toque da campainha ecoar pelo apartamento.
Engulo em seco e resolvo atender o pedido, abro a porta devagar e vejo seu olhar encontrar com o meu.
- Hm, oi. A Sabina está aí? - ele pergunta com uma cara estranha.
Sabina? O que ele quer com a Sabina? Eu digo que ela não está aqui pra ele ir em bora? Mas ela está aqui. Ai, deus, vou infartar.
- Finalmente apareceu, achei que iria ter que chamar um uber - Sabina levanta do sofá e minha atenção vai toda pra ela. O que está acontecendo? Alguém me explica?! - Noah, esse é o Bailey. Bailey, esse é o Noah.
- Espera, vocês dois são irmãos? - eu devo estar com uma cara de tapado mas isso não tem importância agora.
- Sim - ela balança a cabeça em afirmação. - vocês já se conhecem?
Olha, retira o que eu disse agora a pouco sobre o irmão dela paracer legal, foi loucura da minha cabeça.
- A gente já se viu algumas vezes... - o irmão dela é quem responde. Irmão dela, aish que coisa estranha. - Mas eu sou mais íntimo do amigo dele.
Ele disse "mais íntimo" com todas as letras? Na minha frente? Com todas as substâncias que compõe a minha pessoa aqui, na sua frente? Ele quer sair no soco comigo? Porque acabei de arranjar um tempo livre na mimha agenda.
- Oh, então até você conhecia o Josh e eu não. Isso é muito estranho, não acha? - Sabina fala como se fosse uma descoberta feliz mas não, não é.
- Você nem imagina o quanto - resmungo mais pra mim do que pra eles.
- Então tchau, anjinho, te vejo na escola - Sabina aperta minha bochecha antes de sair. O irmão dela acena pra mim e sorri sem mostrar os dentes.
- Tchau - digo, enfim, e sorrio só pra parecer simpático porque no fundo estou em choque. Fecho a porta e giro a chave duas vezes.
Ok, a cena que acabou de acontecer pode significar duas coisas. Um: a prova de que o mundo, apesar do que os geógrafos dizem, é tão pequeno que coincidências assim podem acontecer ou, dois: aquele cara cujo o nome não vou pronunciar porque esqueci infiltrou aquela pessoa, que talvez nem seja sua irmã, na minha vida como parte de seu plano mirabolante para me exterminar de vez da face da terra e ficar com Josh. De dois, um.
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Flowers & Ice Cream ✰ Nosh ❖ Now United
Fiksi Penggemar✎ ༶ ❝Um drama onde Josh, um garoto à moda antiga e doce como sorvete, gosta de Noah, uma amante de flores e culinária, que mora consigo e que lhe traz flores como forma de agradecer pelas gentilezas todos os dia.❞ Since: 21/03/2020 End: 18/07/2020