Você me fez ser assim

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Volto do mesmo jeito que vim: a pé, sorridente e com saudades de alguém. No caminho pra casar, passo numa floricultura pequena que abriu perto da escola à alguns anos. Eu gosto de comprar flores para o garoto que mora comigo. Sim, o mesmo garoto que Diarra diz ser meu marido e Shivani, meu pai.

Eu e ele não temos nada um com o outro, no sentido relacionamento, mas ainda assim sinto que nosso elo é muito forte. Ele me ajudou quando precisei sair de casa, me deu lar e carinho e eu sou muito grato por isso. Como não posso retribuir financeiramente ainda, compro-lhe flores.

Normalmente compro rosas mas andei pesquisando e descobri que tulipas significam "reconciliação". Não brigamos de forma séria mas sempre temos desentendimento quando o assunto é... Bom, quando o assunto é nosso relacionamento.

Entro na loja e a jovem atendente sorri ao me ver. Eu venho aqui tantas vezes que  parecemos nos conhecer intimamente. Ela é sempre simpática comigo, ainda que uma vez tive que dar um fora nela pois não quero relacionamentos por enquanto.

- Rosas, Senhor Urrea? - ela sai de trás do balcão e vem na minha direção.

- Hoje não...

- Vai me dizer que, finalmente, aceitou meu convite pra sair? - ela sorri e passa a mão nos cabelos.

- Não... - tento parecer gentil minha negação. - Hoje eu vou querer Tulipas amarelas.

- Tulipas amarelas? - a moça franzi a testa, até ela deve achar estranho minha mudança repentina.

- Sim - confirmo. - Ouvi dizer que significam reconciliação.

- Hm. Quantas?

Respondo que vou levar um buquê e, depois de arregalar os olhos, ela se afasta e vai em direção à janela, é lá que está as lindas flores em tom amarelado. Vejo-a pegar e embrulhar num plástico transparente, formando um belo buquê. Assim que ela termina, eu pego-a pelo serviço e vou em direção à saída.

- Noah? - ouço ela me chamar.

- Está faltando dinheiro? - pergunto, preocupado. Era o único dinheiro que tinha no bolso e se não for o suficiente não levarei as flores para Josh.

- Não é isso - conforta-me com suas palavras. - Eu só queria dizer que a pessoa que tem seu coração é muito sortuda.

Sua voz sai doce e encantadora, eu agradeço e saio sorridente pela porta. Isso foi fofo num nível tão hardcore que quase me fez chorar. Eu queria saber retribuir a gentileza das pessoas com o mesmo tamanho de significados. Me sinto tão ingrato.

Então volto a caminhar pelas ruas de Los Angeles. O sol resolveu nos agraciar com seu brilho intenso. Rua após rua, vou ao encontro da pessoa que gosto.

Subo as escadas do prédio onde moro velozmente pois não queria esperar o elevador chegar. Acaricio o buquê vez ou outra, ele é tão delicado quanto um bebê. Enfio a chave na porta e giro-a freneticamente pela ansiedade. Então entro... E enfim encontro belo para de olhos azuis.

- Oi? - digo ao entrar.

- Meu deus, Noah - ele levanta do sofá. - Pra que esse buquê?

- Pra você - afirmo, estendendo as flores em minhas mãos.

- Hoje é meu aniversário? - pergunta-me, ainda surpreso.

- Não, eu só quis te fazer uma surpresa - conto.

- Você é o amor da minha vida - diz-me. Eu sorrio.

Ele me puxa pra um abraço. Envolve seus braços em minha cintura e eu faço o mesmo mas em seu ombro. Mas solto-o quando ele começa a beijar meu pescoço.

- Por que não me acordou hoje? - Josh me pergunta.

- Você já deve imaginar.

- Você não devia me deixar dormindo quando bem entender - vejo-o ir para a cozinha. - Desse jeito vamos à falência.

- Mas você merece um descanso - afirmo. Deixo minha bolsa no chão e me jogo no sofá.

- Nós acabamos de voltar de viagem - me diz, como se eu não soubesse.

- Eu sei, mas foi cansativo - grito, pra que ele escute de onde está.

- Você fez algo lá? - pergunta-me.

- Vou fingir que você não me chamou de inútil...

- Você é cheio de manias, amor - ele volta com as flores enfiadas num recipiente com água e põe na mesinha de centro.

- Você me fez ser assim.

- A única mania que eu queria que te tivesse era de beijar minha boca sem parar - diz. Eu rio descontroladamente.

- Quando você vai parar com isso? - assisto-o se sentar no sofá novamente.

- Parar o quê? De te amar?

- Isso não é amor, é tesão - afirmo.

- Isso também é uma forma de amar -retruca.

- Mas não a mais importante.

Contra fatos não há argumentos. Ele fica calado, apenas me fitando com os olhos. Lembra que eu disse que ele e eu tínhamos um problema quanto a nosso relacionamento? Então... Acho que tudo está explicado agora.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora