Eu necessito!

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A capacidade do tempo de ser completamente relativo pra cada pessoa me assusta. É, às vezes você sente que uma hora tem a mesma duração que um dia inteiro, assim como às vezes um dia passou voando e você não aproveitou nadinha. Assim foi essa semana, rápida. Quando percebi só faltava uma semana até a viagem pro Canadá que farei com Noah... E é sobre isso que eu e Any estamos conversando.

- Você consegue, Josh - Any tenta me incentivar a fazer uma loucura. - Quando chegar lá, fale assim: Ou você transa comigo ou eu te deixo nesse país que você mal conhece!

Nem tento esconder minha gargalhada. Alguns clientes da sorveteria, turistas, me olham assustados. A Any acha que todo mundo é louco que nem ela... Eu tô longe disso.

- Acho que só assim pra ele fazer alguma coisa comigo, né? - brinco.

- Se ele não quiser, eu quero - ela me lança um sorriso malicioso.

- Nah, nem se ele não quisesse - faço cara de nojo.

- Às vezes eu me pergunto porque, de tantas pessoas no mundo, eu fui me apaixonar por você - conta.

- Você não é apaixonada por mim, Any - digo. Abuso da nossa intimidade. - Você é piranha, não se apaixona.

- É verdade, porém depende...

- Não vai rolar!

- Você é chato.

- E você não devia tentar forçar alguma coisa entre nós - afirmo.

- Eu não estou forçando... - sua voz é manhosa. - Já está acontecendo, mas você não vê!

- E vai continuar assim por um bom tempo - brinco.

Decido não dar importância às suas investidas. Prendo meus pensamentos na viagem, aliás, eu e Noah vamos comprar roupas novas hoje. Essa animação me deixa nervoso, ansioso, o que me lembra que não tomei café ainda. Estabeleci um novo cronograma, tomo café a vontade pela manhã e poucas vezes à tarde por causa do Noah. Quero que ele pare de se preocupar comigo, quero dar exemplo.

- Já comprou roupas novas? - Any me tira do meu transe.

- Vou ir hoje à tarde - digo com muito entusiasmo.

- Sabia, você não perde a oportunidade de comprar roupa.

- Me deixa.

- Capitalista de merda...

- Sua bunda!

- Quer ser fudida por você.

- Any?

- Desculpa, não me segurei.

- Vou fingir que não ouvi isso - tento convencer a mim mesmo de que é o certo.

- Quer ouvir uma história? - ela tenta mudar de assunto.

Peço para que ela espere, atendo pacientemente uma velhinha e então volto a pôr minha atenção na morena.

- Eu necessito! - digo.

- Uma vez fui para uma cidadezinha do interior e assim que cheguei no hotel já vi um cara muito bonito na recepção, não muito novo mas também não muito velho...

- Amor à primeira vista, certo? - brinco, ela ri.

- Sim - concorda. - Aí fomos conversando, nos conhecendo, criando intimidade. Você entende, né?

- Muito bem - afirmo. Meus olhos estão vidrados em sua boca. Eu amo suas histórias. Amo muito.

- E então eu levei ele pro meu quarto e... Bom, você já sabe o que rolou.

- Espera, você chamou minha atenção pra me contar isso? - pergunto incrédulo, esperava mais.

- Calma, Josh - pede. - Então, certo dia eu estava a caminha por uma praça da cidade quando, de relance, olho para dentro de uma igreja do outro lado da rua, e adivinha que estava lá?

- Não creio, ele frequentava a igreja? - me pego boquiaberto.

- Ele não só frequentava a igreja mas também era pessoa que estava a pregar a palavra lá na frente do... Aish, não lembro o nome daquele palco que toda igreja tem.

- É púlpito - ajudo-a para que continue a contar.

- É, isso aí, púlpito. Ele estava lá em cima pregando sobre não abandonarmos nossa família e sabe deus o quê mais...

- E o que você fez? Contou pra todo mundo que vocês se pegaram? - indago em meio à risos.

- Fiquei ali por mais um tempinho e esperei que o culto terminasse, quando finalmente aconteceu perguntei pra uma senhora qualquer se poderia me contar alguma coisa sobre o tal cara...

- E o que ela disse? - e vamos de momento de tensão.

- Entre outras coisas, que o cara tinha uma esposa e um filho! - ela quase grita, talvez para dar a emoção que eu queria.

- O típico pastorsinho que trai a família, aish - resmungo.

- Não vamos julgar todos os pastores por causa de um - faz a sensata.

- Não tô fazendo isso - afirmo.

- Tem certeza?

- Absoluta.

- Sonso!

- Sou... Digo, é você! - nós e nossas conversas que sempre terminam numa discussão falsa.

Ela sorri. Eu sorrio. Apenas sorrimos. Estamos abestalhados como quem sente o amor habitando em seu peito. E então ofereço-lhe café, e então ela aceita, e então nos pego tomando o líquido que muitos julgam ser perigoso, tomando como se fosse a maior dádiva recebida pelo ser humano... E não é! A maior dádiva é ter amigos como ela, como Any, como nós. Eu amo nós, juntos.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora