Vocês estavam numa cama?

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Tenho que aguentar o professor falando sobre grandes filósofos e pessoas influentes, mas tudo que eu penso é em ir pra casa comer até não poder mais. Já é a última aula, ele poderia simplesmente falar "Hey, hoje eu dispensarei vocês mais cedo pois é o primeiro dia após as férias". Fiquei tão ansioso em ver meus amigos que acabei esquecendo as partes ruins de estar aqui.

- Formem duplas - foi o que o professor ordenou.

Eu, Diarra e Shivani nos entreolhamos com cara de decepção. Esse professor bem que podia mandar fazer dupla de três. Essa é a desvantagem de ser um trio, os professores nunca mandarão juntar três pessoas, apenas duplas.

- Vocês podem fazer juntos, já estão praticamente um ao lado do outro - Shivani diz. - Vou chamar a novata pra sentar comigo, ela parece ser legal.

Assentimos com a cabeça e esperamos o pedido e a confirmação serem feitas. A garota é morena e tem o cabelo ondulado. Quando elas já estavam juntas, nos juntamos de vez também.

- Qual seu nome? - pergunto, despretensioso, a aluna nova.

- Sabina - responde-me sorridente.

- Oi, Sabrina, meu nome é...

- É Sabina... sem o "R" - me interrompe, sem rancor ou algo assim. - É italiano.

- Você é italiana? - Shivani pergunta, aparentemente animada.

- Não - a outra responde, frustrando as expectativas. - Meus pais é que são loucos. Eu sou mexicana.

- Uh, sangue latino na área - Diarra observa, ao meu lado.

- Por que mudou de escola no meio do ano? - me desculpe mas sou curioso, vai que ela explodiu a escola antiga.

- A convivência com meus pais não estava muito boa, então vim morar com meu irmão - conta.

- Queria ter um irmão que me aceitasse na casa dele se eu quisesse sair da casa dos meus pais...

- Tem o seu marido.

- Tem o seu pai.

Eu estava fingindo reclamar da vida quando essas duas loucas, vulgo Diarra e Shivani, simplesmente gritaram ao mesmo tempo durante a aula. Bati a mão na testa e revirei os olhos, elas voltaram das férias mais malucas do que nunca.

- Por acaso eu falei que era pra fazer grupo? - o professor pergunta, olhando em nossa direção. Automaticamente desfazemos o grupinho.

- Gente, não vamos assustar a Sabina ainda - falo baixinho, todas riem.

Nos alinhamos em nossas próprias carteiras e fizemos a atividade que o professor nos orientou. Por sorte, quem terminasse sairia cedo, então cá estamos eu e Diarra caminhando rumo a saída.

- Agora que estamos só eu e você, me diz, o que aconteceu realmente no Canadá? - a morena alta ao meu lado me pergunta.

- Na minha opinião, o mais interessante que aconteceu lá foi termos ido no Jardim Botânico... - não minto. - Mas como eu sei o que você quer saber, irei te responder que... Eu e Josh nos beijamos.

- Vocês o quê? - seu grito me assusta. Sua mão esquerda tampou sua boca e pude ver suas unhas calorias e cheias de vida como antigamente. - Se a Shivani saber disso ela te mata.

- Eu sei, é por isso que só contei pra você - afirmo.

Eu e Shivani somos melhores amigos, mas quando se trata de Josh, ela muito... rígida. Não sei se essa é a palavra, mas ok.

- E como foi o beijo? - me pergunta baixinho pois passamos do lado de alguns alunos.

- Foi normal... Eu acho - falo, sincero.

- Normal? Meu deus, Noah! Se o amor da minha vida me beija, eu nem sei se fico viva pra contar a história - brinca, rimos.

Enfim, passamos pelo portão de saída e eu agradeço por me livrar desse lugar. Eu estava com saudade disso tudo mas me já me lembrei do porquê de odiar tanto.

- Ah, Diarra, eu estava frágil, com frio e muito carente. Não podia acabar em outra coisa se não ele se aproveitando de mim - brinco.

- Ele te forçou a fazer alguma coisa? - pergunta-me, as pessoas não deviam levar minhas brincadeiras tão a sério.

- Ele não seria louco de ousar encostar a mão em mim - falo com firmeza, mas logo lembro de uma vez em que banhamos juntos então tenho vontade de sorrir. - É que estávamos deitado na cama e...

- Vocês estavam numa cama? - Diarra interrompe-me. Seus olhos parecem brilhar cada vez que descobri algo sobre nós.

- Sim - afirmo, receoso. - Então ele se aproximou e disse...

- Oh, Noah, mate a vontade desse pobre canadense - Diarra faz uma imitação ridícula com direito a atuação e tudo.

- Meu deus, Você tá passando vergonha - tento segurá-la pelo ombros.

- Depois disso ele se aproximou e te beijou? - paramos em frente à escola pois não temos pra onde ir já que seguimos caminhos distintos.

- Na verdade, ele perguntou se podia antes - conto.

- Que fofo - resmunga. - Nunca vou entender o que as pessoas vêem em você.

- Diarra? - repreendo-a com um soco fraco no ombro.

- É brincadeira - levanta as mãos em sinal de rendição.

Eu amo poder desabafar um pouco sem julgamentos em troca. Diarra me entende como ninguém e sabe literalmente todos os meus segredos e motivos pelo qual eu tenho surtado nos últimos anos. Quando não se sabe administrar os próprios sentimentos, é bom ter alguém com quem compartilhar-lhos.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora