Você quer carona?

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Me despeço de Diarra e Sabina, pois as duas vão dividir um uber na volta pra casa, e contemplo o presente de Josh mais uma vez. Nunca estive tão ansioso como hoje. Só quero vê-lo, abraçá-lo, conversar um pouco. Passamos o dia separados e seus olhos cor de mar estão me fazendo falta.

O clima frio arrepia cada canto do meu corpo. Gotas finas de chuva caem do céu mas ainda não é o suficiente para me encharcar. Até o clima faz eu lembrar de Josh, ele deve estar gostando desse frio. Talvez eu esteja delirando.

Estava disposto a pegar o primeiro táxi que eu visse - o automóvel que levaria um amante de volta pra casa - mas, de relance, avistei uma pequena floricultura na rua do shopping. Então pensei que poderia comprar um buquê de flores pro Josh e voltar de ônibus pra casa, assim fiz.

Andei até lá à pé e pude perceber que os pingos de chuva engrossaram, então andei com mais pressa. Não quero chegar com o presente do meu amorzinho todo molhado. Além do mais, tenho que voltar pra parada de ônibus ao lado do shopping.

- Olá - comprimento o atendente sorridente da floricultura. - Ainda tem algum buquê de rosas disponível?

- Sinto muito, eu vendi todos hoje - ele aperta os lábios, fazendo parecer uma linha reta.

- E tulipas? Por favor, me diga que tem tulipas! - talvez meu desespero seja visível, mas é que não sei o que está acontecendo comigo.

- Sim, tulipas ainda temos - ele diz, pro meu alívio. - Quer que eu embrulhe pra presente?

- Por favor - peço.

Estou batendo o pé freneticamente. Esperar nunca me fez tão mal. E as gotas de chuva caindo lá fora me deixam ainda mais perplexo. Esse moço parece estar demorando de propósito, vou jogar meu tênis nele.

- Aqui está - ele diz, enfim.

- Passa no cartão que é mais rápido - pego o mesmo na minha carteira, doido pra me mandar dali.

Assim que os devidos procedimentos foram feitos, peguei ambos presentes e saí atrapalhado. Passo pela porta e sou espancado pelos pingos de chuva que se tornaram ainda mais frenéticos. Um seriado dramático, é isso que minha vida é.

Assim que chego na parada de ônibus, que é protegida apenas por um telhado vagabundo, me sento. Eu estou exausto e a única coisa que curaria essa fadiga dos infernos seria ver meu querido Josh. Sim, sim. Um abraço dele é mais revigorante que qualquer coisa já existente.

E meu pé que não para de bater freneticamente no chão. Meu sangue ferve em minha veias. Eu poderia pedir pra Josh vir me buscar mas, além de meu celular está sem bateria, seria meio incômodo pra mim.

Então espero, olhando tanto pra mesma direção - a que vem o ônibus - que meu pescoço corre o risco de não se mexer depois disso. Me sinto triste por estar atrasado, eu poderia ter deixado as flores pra outro dia mas não, eu tinha que comprá-las e me atrasar pra nosso aniversário de um ano juntos. Eu sou o desastre em pessoa.

Estava prestes a desistir e ir de pé, se fosse preciso, quando avistei o ônibus vindo. Acho que demorei demais pra pegar as coisas ou o mundo decidiu brincar com minha cara pois, ironicamente, o motorista não parou pra mim. O desgraçado não parou pra eu entrar e agora meu dia, minhas expectativas, meus planos; exatamente tudo foi pelo ralo.

Lágrimas surgem em meus olhos e não hesito em deixá- las cair quase que involuntariamente. Choro por conseguir ficar mais atrasado do que já estava, choro por não ter como ligar pra Josh e me explicar, choro porque tudo que eu queria agora era um beijo dele mas, até isso que eu poderia ter a qualquer momento, não está ao meu alcance.

Minha vida é uma droga mesmo. Ainda que tenha fases boas, sempre virão aquelas horas na vida em que tudo desanda. Pra mim, isso acontece mais do que o normal então, é, definitivamente estou cogitando sobre alguém ter me jogado um carma ou algo bem próximo disso. Passei a não me importar com as pessoas que me olham, chorando, e fazem uma cara estranha. É que meu céu caiu mais uma vez e o cara que me ajuda a levantá-lo não está aqui no momento.

É óbvio que tinha que estar chovendo. Na principal cena dramática da minha não poderia faltar isso. Mas mesmo com toda essa água, tanto do meu olho como a que cai do céu, eu consegui reparar um carro parando em minha frente. Levantei a cabeça e a janela do carro cinza se abriu, me trazendo uma grande surpresa - acho que eu nunca vou me acostumar com ele -, então veio a seguinte pergunta:

- Você quer carona?

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora