Você ainda está com ele

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A situação é desconfortável e, se fosse por outro assunto ou motivo, eu nunca me prestaria a isso. Mas é por Josh, porque quero vê-lo o mais rápido possível, porque não aguento mais a angústia que se encontra em meu peito nesse exato momento; então eu faço o que for preciso... Inclusive aceitar a carona desse tal Bailey.

- Não precisa chorar desse jeito, vamos chegar logo, logo - ele pega em meu ombro, numa tentativa infame de me reconfortar.

Suas palavras só me fazem perceber ainda mais o quanto estou fraco. Estou chorando diante da pessoa que considero meu arque rival quando o assunto é Josh Beauchamp, e tudo porque me sinto um tanto culpado por estar atrasado para nosso compromisso que devia ser inesquecível. Ah, desculpa, vai ser inesquecível sim, já imagino a cara de desgosto de Josh.

Porém, tenho que concordar com o garoto ao meu lado, preciso mesmo me acalmar. Mas não irei ficar quieto enquanto não me explicar para Josh.

- Pode me emprestar seu celular? - peço, sedento por um "sim".

- Claro - ele aquiesce com a cabeça e logo põe uma das mãos no bolso direito, então suponho que seja para pegar o aparelho. Me reconforto em saber que sua atenção continua no trânsito barulhento de Los Angeles. - Aqui está.

Pego o telefone como se fosse comida e eu estivesse num deserto a uma semana - ok, exagero, talvez três ou quatro dias - então desbloqueio o celular que não há senha alguma. Se fosse noutra circunstância me sentiria incomodado em mexer no celular de um desconhecido desse jeito mas, já que ele não se importa, quem sou eu pra fazer o contrário.

Seu papel de parede é uma selfie dele e da Sabina fazendo careta, o que me faz ter a certeza de que ele não tem ninguém - românticamente falando -. Esqueço isso e me apresso apenas fazer a ligação e deixo pra julgar a vida dele depois. Disco o número de Josh e, pra mais uma infeliz surpresa hoje, o número já está agendado. Estreito os olhos, fitando o nome Josh Beauchamp e um emoji de sorvete, mas respiro e tento manter o foco.

Ligo a primeira vez, ele não atende. Ligo a segunda vez, também não atende. Talvez Josh não queira falar com mais nenhum homem hoje a não ser eu, isso me reconforta. Então ligo a terceira vez, rezando pra que ele atenda, ainda que em dias normais não gostaria que isso acontecesse; novamente ele não atende e isso me deixa preocupado. E eu tento, juro que tento respirar fundo pra tentar ficar calmo mas só consigo voltar a chorar.

- Há algum motivo pra Josh não querer te atender? - pergunto para Bailey, sem rodeios e jogando fora as regras de etiqueta para um convívio harmonioso em sociedade.

- Talvez - ele diz, franco, sem virar o rosto pra mim. Isso me faz ter mais dúvidas quanto a ele do que eu já tenho.

- E qual seria? - pergunto, invasivo, pronto pra pular do carro se for preciso pra fugir dele.

- Por que ele me disse uma vez, quando estávamos num bar juntos, que não poderia ter algum relacionamento comigo pois ele amava você... - Bailey conta, e isso me deixa pior do que eu já estava.

A minha capacidade de sempre ferir os sentimentos de Josh me assusta. Hoje a única coisa que eu queria era esquecer esses momentos ruins entre a gente, queria esquecer tudo; mas acabo de perceber que o problema sou eu. Eu machuco ele e agora isso está me ferindo também. Eu só queria abraçá-lo agora.

-... E, um certo dia, eu estava bêbado e acabei ligando pra ele e falei algumas coisas que não devia - ele conclui o que estava me contando.

Eu balanço a cabeça lentamente em afirmação, pensando no que seriam essas tais coisas. Durante essa conversa aprendi três coisas: Bailey não tem ninguém, Bailey tem problemas com álcool e, a mais importante, acho que Josh me ama de verdade.

Então, quando o carro para em frente ao prédio em que moro, meu coração acelera. Eu saio, sem pensar duas vezes, do carro com o presente de Josh e as flores, agradeço incessantemente - ainda que isso me doa por dentro. Porém Bailey me ajudou a chegar até aqui então eu posso esquecer, por hoje, tudo que há entre nós - e saio apressado.

- Hm, Noah - ouço um grito, então olho pra trás, na direção do carro.

- Meu telefone - ele diz, fazendo eu franzir as sobrancelhas. - Você ainda está com ele.

Minha vergonha foi na lua e voltou com toda a intensidade possível. Volto até o carro e devolvo o celular que estava em minhas mãos e eu não tinha percebido. Peço desculpas e, enfim, posso voltar pra cena dramática que estava a fazer.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora