Eu não ousaria

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Hoje é o dia da festa que Sofya nos convidou quando estávamos no jantar e eu estou parecendo um velho. Não, eu não estou vestido igual a um, é que isso está me fazendo lembrar da primeira festa que fui. As lembranças passam como um filme na minha cabeça e eu estou me sentindo nostálgico. Isso é estranho já que nem faz tantos anos desse acontecimento, foi no ensino médio.

Netflix, anota mais essa apenas pra confirmar a teoria de que um velho encarnou em mim, pra quando a série da minha vida sair no teu catálogo.

A festa é na casa da Sofya, ou seja, não muito longe da minha, o que significa que eu e Noah não precisamos dirigir ou pedir um táxi. Isso é um grande alívio, considerando que eu pretendo beber até não lembrar meu nome.

Eu sei, parece errado beber demais quando a pessoa ao seu lado mal conhece a cidade, porém não é culpa minha se não tenho muitas oportunidades de sair quando estou nos Estados Unidos. Lá é tudo muito corrido e eu vejo minha vida passar pela janela - literalmente -, então hoje eu só vou aproveitar.

Estamos andando pelas ruas congelantes agora, e é claro que minha mãe fez a gente levar casacos e enfiou um cachecol em volta do pescoço do Noah, mas tirando esse excesso de preocupação a noite está ótima visualmente. Eu nunca vou me cansar de admirar a lua e as estrelas e, mesmo que eu tentasse recitar as mais belas palavras, elas estão inigualáveis essa noite.

Noah entrelaça sua mão à minha ao atravessarmos a rua, o que me faz soltar um sorriso bobo que eu espero de verdade que ele não tenha visto. Mais alguns e estaremos oficialmente dentro da casa com luzes de cores variadas e música moderadamente alta. Eu olho para o pequeno ao meu lado e lanço-lhe um sorriso.

- Como você se sente? - Noah me surpreende com sua pergunta.

Eu respiro fundo, olho o céu por alguns segundos e respondo:

- Eu me sinto vivo.

E foi depois dessa cena típica de Call Me By Your Name, Love, Simon ou qualquer outro romance gay existente no mundo dos cinemas, que eu e o garoto com olhos de esmeralda nos aproximamos da porta e ele tocou a campainha.

- Olá, vocês vieram! - Sofya grita durante o abraço apertado que ela nos dá após atender a porta. Tenho certeza que ela já bebeu um bocado.

- É claro que viemos - forço um sorriso apenas para parecer simpático.

- Venham, entrem! - Andrey, o namorado dela, aparece. Eu sinto informar que ele tá muito sexy vestido de garçom striper.

Como fomos indicados a fazer, entramos e eu fui atingido pelo barulho que parecia ser inexistente do lado de fora. Há pessoas conversando pra todo lado, a maioria nem muito novos e nem muitos velhos, acho que assim como eu e Noah. Vou tentar sair um pouco do Josh versão idoso e encarnar um adolescente infrator de uma cidade pacata.

- Fiquem à vontade - Sofya diz antes de ir atender a porta novamente. Eu aceno pra ela com a mão.

- As bebidas ficam pra lá - Andrey aponta pra onde eu presumo ser a cozinha, o Noah agradece e então seguimos na direção indicada.

Tem pessoas dançando em todo canto. Eu entendo essa porcaria dançante que a indústria vende está mexendo até comigo. As batidas são envolventes.

- Eu vi que você não parava de olhar pro tanquinho dele - Noah diz próximo ao meu ouvido enquanto andamos, me surpreendendo completamente.

- Eu? - aponto para meu peito. - Foi você quem não tirou os olhos dele.

Aprendam, a melhor maneira de tirar a culpa de si é colocondo-a no mais próximo.

- Ah, com certeza - ele resmunga sorridente. - Só cuidado pra não babar da próxima vez.

- Você está com ciúmes, Noah Urrea? - cutuco sua costela com meu indicador e ele bate na pessoa do lado quando tenta esquivar, pede perdão e então continuamos bailando na tentativa de não tombar em todo mundo.

- Imagina... - passa a mão nas madeixas escuras. - Só não garanto que não vai ter morte hoje.

Eu rio de nervoso. Esse garoto demora pra se soltar mas quando acontece...

- Você ainda nem bebeu e já está deixando escapar essa coisas - comento, assim que chegamos à mesa com bebidas variadas.

- Achei que seria uma noite diferenciada...

- Calma aí, princeso. Ainda temos uma noite inteira.

Isso é um surto coletivo ou estávamos flertando? Anotem aí, temos que vir mais vezes para o Canadá pois aqui toda noite tem uma surpresa diferente vinda do Urrea.

Me sirvo com algo que eu não o que é, porém é bastante atrativa visualmente e viro de uma na minha garganta pra começar a noite com esquerdo. Desce rasgando. Noah me olha com cara de assustado.

- Sua vez - afirmo.

- Achei que eu não tinha idade pra beber - me provoca.

- Achei que hoje seria uma noite diferenciada - retruco.

Ele semicerra os olhos e então se vira pra mesa, provavelmente procurando algo pra beber também. Vejo-o pegar uma bebida azul e por até a metade do copo. Antes que eu pedisse pra que ele tomasse cuidado, vi ele virar o copo sobre a boca. Dessa vez quem fez cara feia foi eu.

- Por favor, não se mate até o final da noite.

- Eu não ousaria.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora