Você não confia em mim?

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Estamos assistindo Friends. Josh me disse que vê essa série quando não vai trabalhar ou está sozinho. Primeiramente me surpreendi por ele estar usufruindo da tecnologia atual, mas a ficha caiu quando eu lembrei que é uma série de comédia de mil novecentos e bastante anos atrás - é literalmente a cara dele, a julgar por seu jeito de velhinho.

Eu percebi que amo quando ele me diz elogios. Cheguei a essa conclusão pois as palavras com que ele se referiu a mim e a nosso "relacionamento" esta manhã não saem da minha cabeça e, consequentemente, me arrancam sorrisos bobos. Josh tem esse jeito de galã a moda antiga que, não devia, mas me deixa bobinho. Eu nunca tinha me sentido assim.

Então aqui estamos - contra a vontade do meu bom amigo com jeito de velho que preferi comer à mesa -, no chão da sala, depois de eu ter insistido bastante, enquanto apreciamos a sobremesa que eu fiz e, modéstia parte, ficou uma delícia. Nunca pensei na possibilidade de virar um cozinheiro por formação e tudo, mas ultimamente tenho recebido tantos elogios quanto aos pratos banais que andei fazendo que agora estou começando a pensar sobre. Se isso deixa Josh feliz, me traz um tantinho de paz.

- Isso aqui está realmente divino - Josh fala, ainda com a boca cheia, e aponta para a pequena tigela em sua mão com a mousse. - Por que você nunca fez isso antes?

- Não sei... Hm, nunca tínhamos tempo ou uma data especial - falo a verdade, temos uma rotina tão apressada que acabamos por fazer qualquer coisa pra comer ou comemos fora.

- E hoje é uma data especial? - me pergunta, e acaba por me fazer lembrar de uma coisa.

- Não - balanço a cabeça. - Mas isso me lembra que uma certa ocasião especial está chegando...

- Não acredito - diz, animado. - O show da Lady Gaga que combinamos de ir já está perto?

Do que ele está falando, senhor?

- Nós não combinamos de ir em show nenhum - afirmo. Ou será que marcamos e eu não lembro?

- Eu sei! - Josh dá um peteleco na minha testa. - Você não sabe brincar?

- Me desculpa se eu sei a hora de brincar - ironizo. Ele me dá língua.

- Mas o que você tinha pra falar?

- Ah, sim - me praguejo internamente por estar sempre perdendo o foco das coisas. - Daqui alguns dias vai fazer um ano que moramos juntos.

Alguns dias atrás, estive mexendo num caderno que eu costumava anotar coisas importantes pra mim e achei essa data escrita em letras enormes e colorida com lápis de cor e canetinha. De primeira eu quase cometi um suicídio pois parecia o caderno de uma garotinha de sete anos, mas logo caiu a ficha de que já faz tanto tempo que estamos juntos e isso me deixou meio bobo - claro, depois disso eu virei uma garota de quatorze anos deitada em cima da cama, olhando pro teto e pensando no "gatinho" que conheceu a duas horas atrás.

- Como você lembra disso? - ele mostra total animação com o que eu falei. - Fazia anos que eu estava tentando lembrar o dia exato que nos mudamos.

Exagerado.

- Eu vi no calendário do meu celular - minto, e ele assenti com a cabeça. - Mas e o que vamos fazer nesse dia? Poderíamos sair pra algum lugar e...

- Definitivamente, não - Josh quase sacode o corpo todo em negação. - Eu vou fazer um jantar pra você nesse dia.

- Você vai fazer o quê? - quase grito. Não sei se de medo ou preocupação, talvez os dois.

- Sim, te prepararei um jantar - reafirma. - Você sempre faz, acho que essa deve ser minha vez. É uma ocasião especial, poxa.

- Mas quem vai se responsabilizar se você causar um incêndio no bairro inteiro - tento não sorrir quando pergunto, mas não dá.

- Você não confia em mim? - resmunga.

- Depende... Se os bombeiros estiverem por perto - a essa altura já estou gargalhando. Fazer piadas dele é minha religião.

- Você nunca me viu queimar ou estragar algo aqui em casa - conta.

- Mas é porque eu nunca te vi cozinhando - retruco. - Sou eu quem cozinha desde sempre.

- Exatamente! - ele levanta as duas sobrancelhas quando fala. - Pra uma ocasião especial, precisamos de algo diferente e, caro amor da minha vida, tenho um truque na manga: minha habilidade na cozinha.

Definitivamente não sei o que pensar quanto a isso, nunca o vi fazendo algo que não seja Lamém ou qualquer coisa que seja instantâneo. Tirando isso, ou ele pede no Delivery ou eu faço. Foi assim que sobrevivemos esse ano inteiro!

- Tudo bem, Josh - decido ceder, vai que exista um mestre ali dentro daquele corpinho também. - Mas qualquer coisa a gente sai pra comer uma pizza, ok?

- Eu definitivamente te amo! - acho que isso é um "concordo".

Josh me puxa pra um abraço carinhoso e sai dando beijinhos por meu rosto. Seu jeitinho carinhoso aquece meu coração e tenho quase certeza que, sim, a essa altura da minha vida, eu estou todo vermelho de vergonha. Sou salvo pela campainha tocando e uso isso como desculpa pra fugir dali, ainda que eu quisesse permanecer em seus braços por mais um bom tempo.

Flowers & Ice Cream   ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora