2. A vez em que uma loba dourada partiu em busca de aliados

1.2K 249 271
                                    

Já estava acordada há muito tempo quando a luz do sol finalmente surgiu pela janela do meu quarto. Após as notícias nada favoráveis reveladas pelo meu pai no dia anterior, minha cabeça não havia parado de trabalhar por um segundo sequer. E, por mais que as nossas perspectivas não fossem as mais positivas, eu e Ian havíamos decidido que não iríamos nos deixar abater. Faríamos o máximo possível para defender e justificar nossas atitudes e, quem sabe, convencer os membros do júri de lobos a não pegarem tão pesado em nossa punição. Ainda assim, apesar de toda essa determinação, sabíamos que não seríamos capazes de fazer isso sozinhos; e era por tal motivo que precisávamos reunir o maior número de testemunhas a nosso favor.

Quando cheguei na cozinha para tomar o café da manhã, Ian já estava lá, encostado na bancada, com uma xícara na mão e o olhar perdido.

— Bom dia, maninho — eu o cumprimentei. — Também caiu da cama?

— Mal consegui pregar os olhos, pra ser sincero — ele respondeu, abatido. — Como vamos fazer hoje? Precisamos preparar nossa defesa...

— Sim, eu sei — concordei. — Temos que ir pra escola de qualquer jeito, não podemos arranjar ainda mais problemas com nossos pais. Então pensei em falar com a Inara durante a aula e, depois que formos liberados, ver se consigo me encontrar com a Bárbara...

— Certo, acho que é um bom começo — ele disse. — Eu e o Davi marcamos de ir pra pousada depois da escola, pra tentar descobrir o paradeiro do Leo.

— Nossa, não vai ser nada fácil — comentei. — Não temos quase nenhuma informação sobre ele. Como vocês pretendem fazer isso?

— A gente pensou em investigar na internet o terreno do posto de gasolina na rodovia, onde ele costumava ficar, naquele bar improvisado — Ian explicou. — Talvez se localizarmos o proprietário do local, ele possa ter alguma informação sobre o Leo. O Davi também pensou de falar com o advogado da família dele, para tentar rastrear de alguma forma o número de celular que o Leo utilizava quando o conhecemos.

— Bem, a família do Davi tem bastante dinheiro, né... — refleti. — Talvez não seja tão difícil para o advogado deles fazer algo do tipo.

A conversa foi interrompida com a entrada repentina de nossa mãe na cozinha.

— Bom dia... — Ian disse, tenso. Ela apenas dirigiu-se à garrafa térmica, encheu uma caneca de café e se retirou, sem responder ao cumprimento.

— Ela continua mesmo sem falar com você? — perguntei ao meu irmão, incrédula com a cena que acabara de presenciar.

— Sim — ele suspirou. — Ela não me deu mais nenhuma chance de diálogo depois daquela noite anterior ao acampamento de carnaval, quando o Ben revelou que o Davi tinha sangue de cernuno. Desde então, só fala comigo o mínimo possível, quando não tem alternativa.

— Eu sinceramente nunca imaginei que ela reagiria dessa forma a tudo o que vem acontecendo — admiti.

— Nem eu. Pelo menos tem o papai, pra amenizar um pouco as coisas... — Ian ponderou. — Bom, chega de conversa, maninha, acho melhor a gente sair logo, ou vamos acabar nos atrasando pra aula — completou ele, encerrando o assunto.

Apenas assenti e fui em direção ao meu quarto, para buscar o meu material. Sem dúvidas, tínhamos um longo dia pela frente.


***


As aulas pareciam todas transcorrer num ritmo arrastado e tedioso, em oposição à toda ansiedade e preocupação que eu trazia comigo. Aproveitei o intervalo do almoço para conversar em particular com Inara e, tal qual eu previra, ela não hesitou um instante sequer e se dispôs a testemunhar a nosso favor no julgamento que estava por vir. 

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora