12. A vez em que um jovem órfão descobriu um segredo de família

1K 234 268
                                    

Era para ser apenas mais uma segunda-feira tediosa em Esmeraldina. No entanto, por mais que eu me esforçasse para seguir minha rotina e agir normalmente, era impossível não pensar um segundo sequer nas surpresas que aquele dia estaria reservando para mim. Na escola, me dividi entre prestar atenção nas aulas e oferecer meu apoio à Maia, que estava arrasada com o resultado do julgamento e com o fato de seu irmão ter deixado a fazenda. Mais tarde, quando eu e Ian finalmente nos encontramos, no intervalo do almoço, percebi de cara o quanto ele estava abatido. Conforme ele me explicou depois, aquele era outro dos efeitos da coleira de prata, que drenava parte das energias de quem a utilizava e provocava um esgotamento físico notável.

Perguntei se Ian queria voltar a conversar sobre as coisas que discutimos brevemente no telefonema da noite anterior, mas ele me pediu para que apenas o abraçasse e o deixasse ficar quieto, ao meu lado. Entendi que aquele não era o melhor momento para insistir no assunto, então apenas o confortei, procurando fazer com que ele se sentisse seguro e esquecesse por alguns instantes de todos aqueles problemas. Nesse meio tempo, tivemos uma reunião no clube de astronomia, que havíamos abandonado às moscas desde a noite no acampamento, e, com a ajuda de Inara, finalmente decidimos qual projeto colocaríamos em prática, um estudo sobre os fenômenos astronômicos que aconteceriam naquele ano e que seriam visíveis em Esmeraldina.

Ao fim da aula, Ian me disse que Benjamin estava na região, resolvendo assuntos da universidade, e havia oferecido uma carona para ele voltar para casa, livrando-o assim de pegar o demorado ônibus da prefeitura. Aproveitei a deixa para me despedir e voltar à pousada o quanto antes, pois sabia que tia Laura estava à minha espera e que teríamos muito a conversar. Por sorte, descobri que Maia também iria para lá, já que havia marcado de se encontrar com Bárbara, então aproveitei a oportunidade para me enfiar no carro dela e chegar em casa sem perder mais tempo.


***


— Então quer dizer que você sempre soube de tudo, tia? — finalmente fiz a pergunta que vinha martelando em minha cabeça desde a noite anterior.

Tia Laura estava sentada comigo, em minha cama, recostada em algumas almofadas.

— Eu sempre soube que Ian era um metamorfo. A família dele nunca fez muita questão de esconder isso das demais comunidades sobrenaturais que vivem aqui na cidade — ela revelou, despreocupada. — E eu também sabia que havia grandes chances de existir magia dentro de você — completou.

— E por que você não me contou nada? — perguntei, um pouco chateado. — Eu quase fiquei maluco tentando entender o que tava acontecendo comigo!

— Eu sinto muito por isso, querido... Eu não fazia ideia de que seus poderes estavam de fato se manifestando... — ela explicou.

— Espera, antes de qualquer coisa, eu tenho uma pergunta — a interrompi. — Se você sabe sobre o Ian, sobre mim e sobre todo esse mundo de criaturas mágicas, quer dizer que é imune ao Véu, certo?

— Certo — ela confirmou.

— Então, você também tem os mesmos poderes que eu, já que somos da mesma família?

— Não, querido, eu não tenho — ela respondeu, pacientemente.

— Mas por quê? — perguntei, confuso. — Isso não faz sentido nenhum!

Tia Laura apenas me puxou para junto de si e me fez recostar a cabeça em seu peito. Em seguida, passou a fazer carinho nos meus cabelos, me acalmando.

— Eu vou te contar tudo desde o começo, está bem? — ela informou. — Peço que seja paciente e que preste bastante atenção. Logo você entenderá.

O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos (Livro 2 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora